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Uma Dobra no Tempo – Quando a direção salva!

Uma Dobra no Tempo é acima da média por conta de Ava DuVernay

Quando a diretora Ava DuVernay lançou Selma há alguns anos, era perceptível ver que havia uma profissional competente ali, com um aspecto visual forte e domínio sobre os atores. É interessante que, após o documentário 13ª Emenda e alguns trabalhos para TV, seu novo trabalho seja Uma Dobra no Tempo (A Wrinkle in Time). Uma grande produção da Disney, baseado em um livro de sucesso nos EUA. O talento da cineasta se confirma, apesar do roteiro fraco.

Crítica de Uma Dobra no Tempo

 A protagonista é Meg (Storm Reid), filha do renomado cientista Alex Murry (Chris Pine, de Mulher-Maravilha), que desapareceu de maneira misteriosa há quatro anos.Um dia, ela vê seu irmão, Charles Wallace (Deric McCabe), conversando com uma misteriosa mulher, que se chama Sra. Queé (Reese Witherspon). Ela faz parte de um grupo de guardiãs do universo chamada de as Senhoritas, formado por Quem (Mindy Kaling) e Que (Oprah Winfrey). Elas dizem aos irmãos que seu pai está preso em outro universo e eles decidem embarcar na missão, junto com o amigo Calvin (Levi Miller), para salvar o professor Murry.

O aspecto que mais chama a atenção no longa é o visual. Isso se deve ao rico design de produção de Naomi Shohan (de Ben-Hur), que cria vários cenários com formas geométricas retas e o resultado é incrível. É muito criativo, já que, quando viajam entre os universos, os cenários se distorcem e o efeito especial é bem utilizado. A fotografia de Tobias Schliessler (de A Bela e a Fera) também se mostra importante pelo uso simbólico de cores quentes e frias. Mesmo, às vezes em tons saturados – por conta do 3D -, ela não se mostra excessiva no jogo de luzes. Esse visual apurado mostra como a diretora sabe compor bem os seus planos, evitando que fiquem com excesso de elementos em cena.

Se o senso estético de DuVernay se mostra apurado, ela repete o desempenho de Selma na direção de atores, com destaque para o trio de jovens protagonistas, que exibem boa química em cena. Storm Reid consegue mostrar força e determinação e, ao mesmo tempo, medo e insegurança pelo olhar. Com carisma igual à menina, Deric McCabe tem uma presença de tela incrível, evitando que seja um apenas um menino incômodo e irritante. Já Levi Miller faz um bom trabalho como o terceiro membro, principalmente pela troca de olhares com Meg, mas o personagem se mostra superficial demais para o jovem ator trabalhar. O elenco adulto faz um bom trabalho, mas, como eles tem pouco tempo de tela e suas participações são pontuais, não há tempo para desenvolverem os personagens com mais profundidade. Em todo caso, justificam sua participação e não estão ali à toa.

Crítica de Uma Dobra no Tempo

Por mais que a direção eleve a qualidade de Uma Dobra no Tempo, ela também comete equívocos. O filme sofre com problemas de ritmo, principalmente no primeiro ato. Tudo é rápido demais e outras sequências se mostram muito artificiais pelo uso equivocado de canções. Além da bela trilha incidental de Ramin Djwadi (da série de TV Westworld) dizer muito e conseguir transmitir o sentimento de descoberta, essas sequências com as canções não soam naturais. O jeito que DuVernay filma cria algo parecido com longos videoclipes, apenas para reforçar o que está acontecendo, com elementos que já evidenciam o sentimento da cena. Apesar de exagerado, nada que atrapalhe o trabalho consistente da diretora.

Se o livro é ousado, não se pode dizer o mesmo do roteiro

Por que bati na tecla do trabalho da cineasta? Porque ela está presa em um roteiro preguiçoso que se contenta com muito pouco. Escrito por Jennifer Lee e Jeff Stockwell, comete o mesmo erro de 9 entre 10 filmes de fantasia: não explica direito a lógica interna do mundo criado. Se não fosse o olhar de fascínio da diretora por esse universo, o espectador não conseguiria entender ou criar qualquer ligação com ele. Também peca por não trabalhar bem as motivações do trio, porque por mais que as dos irmãos sejam coerentes, a de Calvin é simplesmente jogada, nunca soando natural.

Crítica de Uma Dobra no Tempo

Não bastando esse problemas, ele cai nos mesmos clichês de todo filme infantil em que a palavra-chave é o amor. Isso já virou um vício preguiçoso que deveria ser evitado. Se tentasse de outra maneira, tudo bem, mas é do mesmo jeito que vimos em outros inúmeros filmes do gênero Clímax previsível, além de repetitivo. Pelo menos, o filme sabe conversar com o publico infantil, com dramas reais e sem tratá-los como idiotas. Um ponto importante, mas não o bastante para salvar um texto covarde e fraco.

Enfim, Uma Dobra no Tempo é uma diversão razoável. Muito bem feito, tem boas atuações e um visual estonteante. Esperamos que o próximo filme de Ava DuVernay conte com um texto melhor e que os roteiros para filmes infantis se tornem mais maduros, evitando fórmulas fáceis como essa.

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