Pyewacket: Entidade Maligna não impressiona nem os iniciantes no gênero
Quem já tem uma certa bagagem cinematográfica sabe que a última década ofereceu poucas novidades aos admiradores do terror. Tirando casos isolados como A Bruxa e Corra!, que conseguiram tirar de casa um público mais maduro (não apenas na idade, mas também na cinefilia), a maioria dos lançamentos do gênero (e são muitos por ano!) costumam ser tramas requentadas ou coleções de jump-scares. O segundo longa-metragem do canadense Adam MacDonald, Pyewacket: Entidade Maligna, foge um pouco à regra, mas não se salva de também entrar no balaio dos filmes esquecíveis minutos depois do fim de suas sessões.
Realizada em 2017, mas só agora dando às caras nas telonas brasileiras, a trama é protagonizada por Leah (Nicole Muñoz), uma adolescente vivendo o luto da morte do pai e tendo que lidar com a mãe em crise, também abalada pela perda do marido. Apreciadora de assuntos ligados ao ocultismo, ela coleciona livros sobre rituais de magia negra e é adepta das roupas pretas, do heavy metal (que toca em apenas um momento do longa, em volume baixo, inclusive) e de pentagramas por todos os lados.
Ao saber que vai mudar-se de casa e corre o risco de afastar-se de seus amigos, Leah age como qualquer menina de sua idade e amaldiçoa a mãe sem dó. Quem nunca sentiu raiva dos pais que atire a primeira pedra. Porém, não satisfeita com a choradeira, ela resolve colocar em prática um ritual que aprendeu nos livros de Rowan Dove (James McGowan), com o intuito de invocar a entidade Pyewacket e…matar sua mãe. Óbvio que nas cenas seguinte ao ritual, realizado numa floresta que fica nos fundos da nova casa de Leah, a relação de mãe e filha muda de lado e ambas começam a se apoiar para seguirem em frente. Só que Pyewacket foi chamada e não vai embora enquanto não cumprir sua missão macabra.
Assustador até a página dois
A construção cênica de MacDonald deixa claro sua preocupação com a atmosfera, um ponto crucial para um filme de terror dar certo. A fotografia, assinada por Christian Bielz, investe em tons acinzentados em contraste com o amarelo do casarão de madeira e as folhas secas que cobrem o chão da floresta. O momento mais interessante de Pyewacket: Entidade Maligna é uma cena noturna com Leah e a amiga Janice (Chloe Rose) tentando encontrar a entidade e reverter a maldição. Bem dirigida, ela ocorre quando já se passaram mais de meia hora de filme e planta a esperança no espectador. Só que a plantinha da alegria cinematográfica não vinga.
O diretor peca na escolha do elenco, em especial Muñoz, que não convence desde o primeiro minuto e só piora quando sua personagem precisa demonstrar medo. O roteiro investe pesado na apresentação do drama de Leah e sua mãe, o que seria um ponto à favor da trama. Mas com pouco mais de uma hora e vinte de duração, o filme parece correr atrás do tempo perdido na hora de entrar no terror propriamente dito. Se primeira aparição da entidade não segue os clichês contemporâneos, seu retorno é tão rápido e insosso que corre o risco de não assustar até os mais distraídos. O fato de não apresentar a origem de Pyewacket também é frustrante, já que todo monstro que se preza tem uma história.
No fim das contas, Pyewaket: Entidade Maligna pode ser uma boa diversão para quem tem mais apreço pelas motivações que nos levam a mexer com o desconhecido do que com as consequências desses atos. O arrependimento de Leah até nos comove no começo, mas quem paga um ingresso por um filme de terror, por mais emotivo que seja, sempre espera que o coração dispare em algum instante. E ele até fica alerta por alguns segundos, mas o final falsamente impactante quebra a tensão e ficamos com a mesma sensação de quando colocamos a mão dentro do saco de pipoca e não encontramos nada. Seria uma isca para uma possível sequência? Invoquemos os deuses do cinema para que não passe de um engano.