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Power Rangers – Não foi desta vez que morfou!

Power Rangers é genérico e mal roteirizado

Quando a série japonesa e original de Power Rangers foi adaptada para a televisão norte-americana, muitos dos elementos nipônicos que a caracterizavam foram solapados e substituídos por outros tipicamente estadunidenses. Em 1995, ano em que o primeiro longa metragem foi lançado nos cinemas, as mudanças foram ainda mais radicais. Nos dias de hoje, nos quais uma possível franquia cinematográfica dos personagens coloridos começa a ser delineada com este novo Power Rangers (Idem), já se tornou quase impossível notar a presença de algum componente que faça referência à origem do material: o que se tem é um filme idêntico aos de super-heróis lançados por Hollywood anualmente.

O filme dos Power Rangers chegou. Confira crítica!

Power Rangers

Escrito por John Gatins (um dos responsáveis pelo argumento de Kong: A Ilha da Caveira), a partir de uma história concebida por quatro pessoas, o roteiro do filme tem a seguinte trama: um grupo de jovens, formado pelo irresponsável Jason (Dacre Montgomery), a melancólica Kimberly (Naomi Scott), o carismático Billy (RJ Cyler), a rebelde Trini (Becky G.) e o irreverente Zack (Ludi Lin), acha nas profundezas de uma rocha cinco pedras poderosas que foram enterradas pelo alienígena Zordon (Bryan Cranston, ainda desvalorizando seu passe, como no recente Tinha Que Ser Ele?) há milhões de anos. Após descobrirem que foram escolhidos para se tornar os novos Power Rangers, eles terão de aceitar o seu destino e impedir que o mundo seja destruído pela terrível Rita Repulsa (Elizabeth Banks).

Lendo a descrição acima, algumas pessoas perceberão que a história geral do filme é muito parecida com a da primeira temporada da série norte-americana. No entanto, as referências terminam por aqui (existem outras, mas são meros fan services.). Dificilmente alguém conseguirá enxergar ao longo da narrativa elementos visuais e textuais que se assemelhem ao seriado ou o primeiro longa metragem, quiçá à produção japonesa original. Na maior parte do tempo, o que se vê é um filme, em todos os sentidos, genérico. Nada nesta produção, desde a construção dos personagens, até o escandaloso e anestesiante terceiro ato, passando pelas concepções visuais e sonoras do diretor e a sua equipe, serve como um indicativo de que há uma personalidade pensante por detrás do trabalho.

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Isso acaba por gerar no espectador uma inconveniente sensação de previsibilidade. Ao longo da projeção, o público, muito provavelmente, perceberá que muitos dos elementos que compõem a narrativa estão presentes também em inúmeras outras produções, principalmente aquelas que envolvem super-heróis. Como alguns dos filmes da Marvel e DC Comics, Power Rangers também conta a história de sujeitos marginalizados que recebem super poderes, têm dificuldade na hora de controlá-los, possuem interesses românticos e precisam lutar contra um vilão que deseja destruir o Mundo. Além disso, o filme também é uma super produção repleta de efeitos digitais (ótimos, por sinal), explosões, destruições massivas e piadas inoportunas.

Porém, por mais que essa previsibilidade incomode (as pessoas não aguentam acompanhar a mesma história sempre), ela pode ser atenuada caso o filme tenha uma direção criativa e um roteiro bem construído. Infelizmente, isso não acontece em Power Rangers. Enquanto Dean Israelite, o diretor (este é o seu segundo longa metragem), alterna entre escolhas injustificáveis (além de serem plasticamente feios, os giros de 360° feitos pela câmera de dentro do carro não têm propósito narrativo algum) e demasiadamente óbvias (uso de câmera lenta nas batalhas corporais), o roteiro de John Gatins consegue a proeza de falhar na construção de cada uma das etapas da narrativa.

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Aliás, baseado naquilo que o roteirista apresentou neste filme, é melhor que ele continue trabalhando apenas com a criação de argumentos. Já dando inicio ao filme com um ponto de partida inverossímil e absurdamente desrespeitoso (como não há um motivo convincente para justificar o fato de que Billy gosta de ir perfurar rochas à noite, o roteirista deixa covardemente implícito que o autismo do personagem pode ser uma das possíveis explicações), Gatins não se preocupa em nenhum momento em esclarecer o porquê daqueles cinco personagens terem sido os escolhidos para se tornar os novos Power Rangers. Aparentemente, para que isso aconteça, basta não ter nenhum qualidade especial e ir mal na escola.

Além disso, para piorar, o texto do roteirista se detém por muito tempo no treinamento dos personagens, mas, quando o terceiro ato chega, devido à escala épica da batalha, boa parte do treinamento visto não tem a menor utilidade. Algo similar acontece com os uniformes. Durante o segundo ato inteiro, em razão dos cinco Rangers ainda não estarem prontos para morfar (uma indefinição também justificada pobremente), é criado um longo suspense em cima da aparição das diferentes armaduras. No entanto, no momento em que isso acontece, o publico tem a oportunidade de vê-las apenas por alguns instantes. Nos minutos finais do clímax, além de os personagens estarem dentro dos Megazords, os rostos dos atores aparecem mais que os capacetes.

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Os raros elementos positivos de Power Rangers

No entanto, há algumas coisas positivas que merecem ser destacadas. Além dos já mencionados efeitos digitais, um dos elementos que mais chamam atenção é o design de produção do filme. Tanto a concepção da nave de Zordon quanto o desenho das armaduras e dos robôs saltam aos olhos, e não só pela sua beleza plástica, como também pelas cores e a riqueza de detalhes. Por fim, os cinco atores principais, se não funcionam individualmente (com a exceção do carismático e talentoso RJ Cyler – o melhor do filme), mostram ter muita química quando estão juntos. Já Elizabeth Banks, apesar de a sua personagem não ajudar (uma bruxa que se alimenta de ouro), investe num overacting irritante e extremamente caricato.

Genérico, sem personalidade alguma e com referência pobres a outros filmes (Clube dos Cinco é o principal deles), Power Rangers sofre do mesmo de problema de A Grande Muralha, o fiasco recente de Matt Damon: são filmes que poderiam usufruir das suas origens e influências orientais para apresentar o público a um conteúdo original e diferente. Mas, covardemente, a obra de Dean Israelite preferiu ir pelo caminho mais fácil, abraçando, assim, uma roupagem em quase tudo idêntica à de inúmeros filmes recentes de ação e super heróis. Ao optar por esse caminho, trocou um possível lugar de destaque no cenário atual pela total descartabilidade.

P.S.: Fique com essa versão!

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