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Tinha Que Ser Ele? – Nem Bryan Cranston faz o filme valer a pena!

Tinha Que Ser Ele? é previsível e pouco engraçado

Até quando Bryan Cranston continuará desperdiçando o seu talento em filmes rasos e insignificantes? Imagino que o leitor que tenha visto a sua atuação magistral na série de televisão Breaking Bad (já leu o que o Sir Anthony Hopkins disse sobre essa atuação?), ou até mesmo em longas recentes como Trumbo, se faça a mesma pergunta. Afinal de contas, do ponto de vista artístico, há poucas coisas mais decepcionantes do que ver um ator com as capacidades expressivas de Cranston se apagando em obras como Rock Of Ages: O Filme, o remake de O Vingador do Futuro e Godzilla. Infelizmente, o seu mais novo projeto, a comédia Tinha Que Ser Ele? (Why Him?), é mais um a entrar nessa infame lista.

Crítica de Tinha Que Ser Ele?, com Bryan Cranton e James Franco

Tinha Que Ser Ele?

No filme, ele interpreta Ned Fleming, um marido e chefe de família devotado que, ao contrário do que as aparências indicam, está passando por um momento difícil na empresa da qual é dono. Tudo começa a piorar quando ele descobre que Stephanie (Zoey Deutch), a sua filha mais velha, está namorando, há um bom tempo, um sujeito estranho chamado Laird Mayhew (James Franco). Indo visitá-los no Natal ao lado da esposa Barb (Megan Mullally) e do filho mais novo Scotty (Griffin Gluck), ele, ao chegar lá, percebe que a situação é pior do que imaginava: além de ser mais velho que Stephanie, Laird tem hábitos e costumes totalmente exóticos e contrários aos seus.

Uma mistura estranha de Entrando Numa Fria e O Pai Da Noiva, Tinha Que Ser Ele? sofre em boa parte por causa da sua previsibilidade. Muitos dos elementos que compõem os pontos de partida e virada da trama já foram vistos pelo público tanto nos dois títulos mencionados quanto em inúmeras outras obras. Assim, quando descobrimos que a empresa de Ned está enfrentando maus bocados, percebemos facilmente que em algum momento da história aparecerá algo que poderá salvá-la do fracasso; ou nos instantes em que conhecemos Laird e, depois, o protagonista, notamos rapidamente que as suas diferenças serão usadas pelos realizadores como uma das principais fontes de riso do filme; a mesma coisa acontece com a presença de momentos em que os dois mostram ter algo em comum: como não antever que isso será empregado numa possível conciliação entre eles?

Crítica de Tinha Que Ser Ele?, com Bryan Cranton e James Franco

No entanto, a previsibilidade é algo comum nas comédias. É rara a existência de filmes originais dentro do gênero. No fim, o que realmente se espera de uma comédia é que ela tenha um número considerável de bons momentos. Portanto, perdoa-se aquilo que é previsível caso o filme seja engraçado. O problema é que Tinha Que Ser Ele? não é imprevisível e nem muito engraçado.

Para fazer o publico rir, o roteiro de Ian Helfer e do próprio diretor, John Hamburg (desenvolvido a partir de uma história concebida pela dupla ao lado de Jonah Hill, que é um dos produtores, juntamente com Ben Stiller), despeja na narrativa o tipo de humor rasteiro tão característico dos tempos modernos, o qual, para se fazer valer, é constituído de tudo que é baixo e desprezível: incontáveis palavrões, piadas de banheiro e brincadeiras com sexo. A falta de inspiração é tanta que os roteiristas, em uma espécie de último recurso, recorrem a uma participação esdrúxula de Paul Stanley e Gene Simmons, do Kiss (e olha que sou fã da banda!). Nem preciso dizer que o momento é vergonhoso.

Até mesmo Bryan Cranston está ruim no filme

Com um texto tão ruim como o de Tinha Que Ser Ele?, não é de se estranhar que o elenco se saísse mal também. No entanto, se por um lado, as atuações apagadas dos jovens Zoey Deutch e Griffin Gluck, o jeito estridente e irritante de Megan Mullally e a eterna expressão de maconheiro em regozijo de James Franco não surpreendem o público, pelo outro, é a performance extremamente caricata e, para a surpresa de todos, ruim de Bryan Cranston o que mais chama atenção.

Vale lembrar que, antes de investir em papéis mais dramáticos, o ator havia construído uma sólida carreira como comediante nas séries Malcolm In The Middle e Seinfeld. Porém, curiosamente, o seu talento cômico não dá as caras neste filme. Percebam, por exemplo, como nas cenas em que Laird beija Ned no rosto e em uma outra que mostra o protagonista no banheiro a comicidade desaparece quase que exclusivamente pela falta de timing cômico do ator.

Crítica de Tinha Que Ser Ele?, com Bryan Cranton e James Franco

Mas nem tudo são espinhos em Tinha Que Ser Ele? Felizmente, há coisas boas no filme, sendo uma delas a direção de John Hamburg. Embora o cineasta esteja menos inspirado que no seu longa anterior, o bom Eu Te Amo, Cara, ele sabe como decupar a cena de uma maneira com que as gags visuais e até mesmo o tempo e a sonoridade das falas surtam efeito no público. Isso, aliada à precisão dos cortes do montador William Kerr, é essencial para a eficiência de alguns momentos da obra, salvando-a do desastre total.

Um outro elemento que também funciona é o trabalho feito pela figurinista Leesa Evans. É curioso notar como as roupas (ou a ausência delas) de Laird são sempre mais abertas (simbolizando a personalidade mais expansiva do personagem), ao contrário das de Ned e Barb, que são mais fechadas (um símbolo de suas personalidades mais conservadoras). Além disso, notem também como a cor vermelha (indicando o amor) começa aos poucos a vestir os personagens ao longo da narrativa, indicando um maior aceitamento por parte de cada um.

Com apenas alguns momentos comicamente ricos, Tinha Que Ser Ele? é uma comédia que falha naquilo que é o mais importante nos filmes do gênero: ser engraçado. Se o fosse, não haveria motivo para reclamarmos da previsibilidade de sua trama ou das atuações problemáticas do seu elenco. Mas como não o é, o que permanece é a ruim impressão de que vimos um filme que errou, praticamente, em tudo o que quis entregar. E, a Bryan Cranston, resta a esperança de que o ator escolha projetos mais parecidos com Drive e Conexão Escobar e menos com Godzilla e este seu fraquíssimo último exemplar.

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