Humor negro. Problemas de relacionamento. Fetiches sexuais bizarros. Romance. Esses são os ingredientes dessa inusitada comédia independente australiana, A Pequena Morte (The Little Death), que marca a estréia do ator Josh Lawson na direção de um longa metragem. Corajoso ao abordar alguns tabus e conseguir injetar uma certa sensibilidade em temas espinhosos, às vezes exagera em seu humor, que chega a beirar o mau gosto, tornando o filme irregular e cheio de altos e baixos.No entanto, felizmente, ele nunca deixa de ser, ao menos, interessante.
A história acompanha a vida e as dificuldades de cinco casais, cada um com seus dilemas e estranhos fetiches. Um casal apaixonado se vê as voltas com a fantasia da mulher de ser estuprada pelo parceiro. Outro, em crise, tenta um joguinho de interpretação para acender a paixão, o que acaba levando-os a um caminho inesperado. Um homem, que é constantemente humilhado e colocado para baixo por sua esposa, descobre não só prazer, mas alegria ao vê-la dormir e cria um relacionamento saudável com ela quando esta dorme. Uma mulher, em uma luta inglória pra conseguir engravidar de seu marido, descobre que só consegue sentir prazer ao vê-lo chorar e começa a fazer de tudo para alcançar esse objetivo. Na última e talvez melhor história, uma jovem com problemas de audição se vê numa situação bizarra – e de certa forma divertida – ao ter que traduzir a conversa telefônica entre um rapaz mudo e uma operadora de tele-sexo.
Como a grande maioria dos filmes constituídos de histórias independentes, há aquelas que funcionam melhor ou pior. A primeira e a última funcionam bem, contendo momentos divertidos e genuinamente tocantes. As do meio não deixam de despertar curiosidade e interesse, mas o absurdo das situações e de algumas atitudes acabam passando dos limites e parecendo um tanto forçadas. É claro que a intenção aqui não era mesmo fazer um retrato mega realista, mas ainda assim o filme poderia ganhar com um enfoque um pouco mais contido.
As ligações entre as histórias são sutis e em alguns casos bem planejadas e amarradas. O elenco, formado na maior parte de rostos desconhecidos por aqui, é muito bem escolhido e carismático e está bem à vontade, tanto nas situações cômicas mais ridículas quanto nos momentos mais dramáticos. Alguns diálogos são muito bem construídos e entregues com afinco por seus atores. A boa trilha sonora também contribui para o filme. A parte negativa fica mesmo por conta do roteiro, que tenta demais ousar e sair do lugar comum, sacrificando assim um pouco a coerência e coesão narrativa do filme.
No fim das contas, A Pequena Morte é um típico filme independente que fala sobre relacionamentos, no que isso tem de melhor e pior. Se por um lado é capaz de momentos de verdadeira ousadia, perspicácia e originalidade, em outros sofre pelo exagero, tornando-os poucos críveis. Se tivesse focado mais na sensibilidade, que é onde o filme mais acerta, e menos no humor negro, talvez o resultado pudesse ser mais regular e positivo.