Al Pacino é um dos melhores atores de todos os tempos. Acho que ninguém duvida disso. Dono de uma intensidade poderosa e imenso carisma, Al tem brindado a indústria cinematográfica com um enorme repertório de grandes personagens e talvez o maior número de falas marcantes na história do cinema, sempre entregues com seu entusiasmo e força características. Porém, nos últimos anos, assim como outros grandes nomes de sua geração, ele tem sido relegado a papéis menores em filmes de pouco destaque. Aqui, nesse O Último Ato (The Humbling), filme dirigido pelo veterano Barry Levinson e baseado num livro de Philip Roth, ele tem um bom papel e entrega mais uma ótima atuação, mas é uma pena que o filme não esteja à altura de seu talento.
Não que o filme seja ruim. Ele parte de uma boa premissa e levanta discussões interessantes sobre o ofício do ator, a linha tênue entre ficção, realidade e insanidade, amor na terceira idade, obsessão e envelhecimento. No entanto, o faz de maneira um tanto confusa e bastante irregular, por vezes até arrastada e cansativa. Tem um bom protagonista que dá espaço para seu intérprete brilhar, mas os personagens secundários e suas motivações são pouco desenvolvidos, o que tira a força deles e do filme como um todo.
A história começa mostrando o decadente ator Simon Axler (Pacino) tendo um colapso e em meio a uma profunda crise existencial, tentando se suicidar sem sucesso. Outrora um grande astro do teatro, ele dedicou toda sua vida ao trabalho como ator, vivendo através das emoções dos personagens que interpretava. Agora, sem nenhuma vida pessoal e com a carreira e o talento indo para o ralo, ele precisa tentar encontrar um sentido para o resto de sua existência. Após um tempo em um hospital psiquiátrico, ele reencontra Pegeen (Greta Gerwig), a filha de velhos amigos dos tempos áureos do teatro, que virará de ponta-cabeça sua vida. Apesar de muito mais nova e lésbica, ela é obcecada pelo amigo dos pais desde criança e os dois começam um relacionamento que devolverá a vontade de viver para Simon, mas também desafiará sua sanidade, visto a personalidade dificílima, mal ajustada e egoísta de Pegeen. Talvez aqui esteja um dos maiores problemas do filme. Essa personagem, que é a força propulsora da história, é mal desenvolvida e pouco crível, pois em nenhum momento entendemos o porquê dela ser objeto de desejo e disputa de tantos personagens, já que apesar de jovem e bonita, trata a todos com desdém, frieza e até desprezo.
Além de tentar navegar por esse complicado relacionamento, Simon terá uma série de encontros bizarros com personagens peculiares e longas conversas com seu terapeuta, numa mistura bagunçada de comédia de humor negro, drama existencial e estudo de personagem. Tudo isso entremeado por muitas citações shakespearianas. Com uma narrativa mais focada e um ritmo melhor, talvez essa mistura pudesse ter resultado em um grande filme, mas aqui infelizmente ficamos com essa sensação de oportunidade perdida, tanto pelos talentos envolvidos como pelo material que eles tinham nas mãos.
No final das contas, O Último Ato serve como veículo para mostrar que Al Pacino, diferente de seu personagem, está longe de estar perdendo seu dom e ainda tem muito a oferecer para o cinema e teatro. Só esperamos que o próximo seja mais compatível ao nível de seu astro.
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