O Primeiro Homem é um tropeço do talentoso Damien Chazelle
Damien Chazelle apareceu para o grande público como um dos diretores mais promissores de sua geração. Em 2015, presenteou os cinéfilos com o excepcional Whiplash – Em Busca da Perfeição onde mostrou um forte domínio da narrativa. Dois anos depois, ele lança o ótimo La La Land – Cantando Estações, sua declaração de amor aos musicais clássicos de Hollywood. Quando anunciado que seu próximo projeto seria O Primeiro Homem (The First Man), o interesse foi grande por se tratar de um filme com uma temática diferente dos anteriores e por Chazelle não ser o responsável pelo roteiro.
O longa retrata um dos momentos mais importantes da corrida espacial, quando Neil Armstrong (Ryan Gosling) tornou-se o primeiro homem a pisar na Lua, em 1969. Mas, como todo drama biográfico, O Primeiro Homem foca sua trama nos bastidores da vida pessoal do protagonista, destacando sua relação estreita com a esposa Janet (Claire Foy).
O primeiro problema do filme está no roteiro genérico, assinado por Josh Singer e baseado no livro de James R. Hansen. Apesar de ser eficiente na criação do cenário histórico, destacando o contexto político e social da missão espacial, em nenhum momento o público consegue criar empatia pelos personagens. O acerto de Singer fica por conta de não tornar a história uma propaganda ufanista e apresentar Armstrong como um homem comum. Mas é justamente isso que torna o personagem completamente desinteressante e raso em seus objetivos. Nem mesmo a relação do protagonista com a família se torna algo relevante para o público.
Filmando com fetichismo
Diferente do que presenciamos em seus trabalhos anteriores, a direção de Chazelle em O Primeiro Homem se apresenta equivocada e até preguiçosa em alguns momentos. O diretor de fotografia Linus Sandgreen utiliza uma câmera nervosa e o formato de película 16mm, que deixa a imagem muito granulada. O objetivo da escolha é emular um documentário de época, com uma câmera que não para de tremer e erra propositalmente o foco. Para um filme de 141 minutos, a gramática visual estabelecida cansa em pouco tempo o espectador.
Porém, há cenas isoladas que são ótimas, como as ambientadas dentro dos foguetes. Nelas, Chazelle parece mais inspirado nas escolhas dos planos e aproveita todo o potencial técnico da sua equipe, principalmente de dois colaboradores habituais: o excelente montador Tom Cross, que consegue criar tensão nas sequências com cortes rápidos e precisos, e o compositor Justin Hurwitz, que cria uma trilha sonora que é fundamental no clímax do filme. Aliás, é neste momento de O Primeiro Homem que observamos o talento de Chazelle. Pena que ficamos com a sensação que ele só está interessado nessas cenas.
O elenco do filme tem uma atuação fraca, mesmo com coadjuvantes interessantes como Ciaran Hinds, Corey Stoll, Jason Clarke, Kyle Chandler e Lukas Haas. Ryan Gosling está no piloto automático. Mesmo não sendo dos mais ecléticos de sua profissão,ele já havia mostrado algumas facetas interessantes em trabalhos como Drive, de Nicolas Winding Refn. Mas em O Primeiro Homem, fica impressão que Ryan Gosling está interpretando Ryan Gosling. Já Claire Foy consegue expor melhor suas emoções e é mais expressiva que Gosling.
Mesmo com grandes qualidades técnicas, O Primeiro Homem é um passo em falso na carreira de Damien Chazelle. Esperamos que em seu próximo filme ele tenha mais vontade de contar uma história, ao invés de focar apenas no virtuosismo técnico e no seu saudosismo por formatos antigos.