Apesar de ter suas qualidades, O Paciente – O Caso Tancredo Neves é um filme esquecível
No início de O Paciente: O Caso Tancredo Neves, que tem direção de Sergio Rezende, há uma montagem contando todo o contexto político no qual a história do filme se passa. Após vinte anos de ditadura militar,Tancredo Neves tornou-se o primeiro presidente eleito pelo povo e simbolizava uma grande mudança para o país. Porém, a esperança da nação nunca tomou posse por conta de uma misteriosa doença que o deixou internado por mais de 30 dias.
Mesmo que o longa de Rezende surpreenda por não ser um melodrama chato, o resultado final não chega a ser satisfatório,aproximando-se mais da linguagem de um especial para a TV. Somos apresentados à Neves (Othon Bastos) três dias antes de sua posse, ensaiando o seu discurso. Mesmo não sentindo-se muito bem, o futuro presidente insiste em estar presente na cerimônia e acaba passando mal e encaminhado para o hospital para passar por uma cirurgia. Só que, mesmo após o procedimento ser realizado com sucesso, há uma piora no quadro de saúde de Neves.
Baseado no livro homônimo do pesquisador Luís Mir, lançado em 2010, o roteiro de O Paciente: O Caso Tancredo Neves é assinado por Gustavo Lipzein, que acerta em pontos específicos em termos da atmosfera dada. É importante frisar que Neves é mostrado no filme como um símbolo do Brasil pós-ditadura sem se valer de estruturas preguiçosas ou piegas como as apresentadas em O Destino de Uma Nação, onde só é explorada a melhor face do protagonista. Não há sequer menção às propostas de proposta de governo de Neves, o que deixa o filme honesto.
A produção também acerta ao abordar como o quadro de saúde do presidente se tornou uma guerra de egos entre os médicos da equipe responsável por tratar o presidente.Mesmo com esses acertos, falta substância ao roteiro. Isto se deve, principalmente, ao uso repetido de situações dentro da trama. A série de cirurgias pela qual Neves passa é mostrada sempre da mesma forma, tornando as cenas cansativas.
Sem foco
O problema de repetição do roteiro é associado à fraca direção de Sergio Rezende, tanto no sentido técnico quanto narrativo.Não fica claro qual é o objetivo do diretor ao contar essa história. Fazer uma comédia de erros utilizando os médicos, que enchem Neves de cirurgias e exames, ou mostrar como o protagonista uniu um povo e foi um símbolo da conquista da democracia? O Paciente: O Caso Tancredo Neves torna-se estranho em alguns momentos por conta dessa indecisão de Rezende.
Visualmente, não há nada que chame a atenção, já que a direção de arte é genérica, apesar da reconstituição de época ser interessante. No quesito fotografia, é um mistério o que Nonato Estrela pretendia dizer com suas escolhas, apresentando um tom seco o filme inteiro, utilizando zooms deselegantes para mostrar a reação das pessoas ao quadro de saúde do presidente.O que se mostra mais eficiente na parte técnica é a montagem de Maria Rezende. Além de usar bem as imagens de arquivos para mostrar a situação do publico ao drama do presidente, ela consegue criar boas sequências de tensão.
Mas o que realmente segura o longa é o seu elenco. Leonardo Medeiros, Otavio Muller, Paulo Betti e Eucir de Souza mostram uma boa química ao interpretarem os médicos da equipe responsável pelo presidente. O veterano Othon Bastos cria um Tancredo humano e que tem plena noção da sua importância histórica, criando um personagem com o qual criamos empatia.
O Paciente: O Caso Tancredo Neves tem seus valores. Em tempos de país dividido, é bom lembrarmos de um episódio que uniu o Brasil. Mas, como cinema, o filme de Sergio Rezende é esquecível.
