Chega a ser um crime que uma animação tão bonita e importante como esta O Menino e o Mundo não tenha encontrado seu mercado no Brasil. Mais uma vítima do cada vez mais podre sistema de distribuição e divulgação das produções nacionais no país, este segundo filme do diretor Alê Abreu (O Garoto Cósmico), foi exibido em menos de uma dezena de salas desde que estreou, em janeiro de 2014. Mais uma vez, resta lamentar a falta de tato e consideração dos órgãos responsáveis por não darem o valor devido a esta bela produção, que foi preterida por animações estrangeiras milionárias e cada vez mais megalomaníacas.
O Menino e o Mundo prima e brilha justamente por sua simplicidade. De traço simples e marcante, nosso protagonista é um garotinho que numa busca para reencontrar o pai, que partiu em busca de um futuro melhor para sua família, acaba descobrindo a enorme beleza e a triste realidade do mundo em que vivemos hoje.
É com esta estrutura simples e direta que Alê Abreu constrói camada sobre camada de um forte e pertinente manifesto a favor do amor e da paz, valores inseridos na sociedade como um todo, ou dentro de cada um de nós. Apesar de primariamente ser uma obra infanto-juvenil, a animação é também pungente em seu tom de denúncia contra o consumismo desenfreado, os intermináveis danos causados ao nosso planeta, a mecanização da mão de obra e o crescimento descontrolado e canibalístico da indústria, e é claro, a violência que nos assola cada vez mais.
Para ilustrar todos estes conceitos inseridos no cenário da produção, o diretor praticamente criou um novo mundo, repleto de originalidade e belas e criativas texturas. É muito marcante a maneira com que Abreu retratou um pôr do sol em uma das cenas do filme, com cores que – inacreditavelmente – remetem à uma cena emblemática do clássico Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood. Difícil saber se era esta a referência que ele buscava, mesmo porque Alê parece não ter bebido em alguma fonte mais conhecida para criar essa animação sem diálogos compreensíveis (o português utilizado na produção é dito ao contrário, numa genial sacada do diretor), e que em nenhum momento, faz com que um idioma legível seja necessário. Numa prova de que o que é bonito e bem-intencionado, não precisa de nenhum tipo de tradução.
O Menino e o Mundo é uma produção que faz com que o público olhe para dentro de si mesmo, antes que seja tarde demais para conseguirmos enxergar a beleza que ainda resta neste nosso enorme mundo. Pois infelizmente, ao contrário do que uma bela metáfora de seu filme mostra, nós não podemos guardar a felicidade dentro de uma latinha.
Nós nunca seremos tão felizes como quando éramos crianças.
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