O Dia Mais Feliz Da Vida De Olli Mäki é mais do mesmo
Em certa oportunidade, o crítico norte-americano Roger Ebert deu a seguinte declaração: “Não interessa o assunto de um filme, mas a maneira com que esse assunto é tratado”. Em outras palavras, uma obra cinematográfica pode até contar uma história similar a outras, desde que o faça de um jeito diferente e único, não há problema. Quando soube do que se tratava O Dia Mais Feliz Da Vida De Olli Mäki (Hymylevä Mies), passei a ver o filme tendo essa declaração em mente. No entanto, ela de nada valeu, pois, ao término da sessão, o que tinha acompanhado era mais do mesmo.
Escrito e dirigido pelo finlandês Juho Juosmanen (Mikko Myllylahti ajudou no roteiro), o longa tem como protagonista o lutador de boxe Olli Mäki (Jarkko Lahti). Prestes a disputar o título mundial de sua categoria, ele tenta conciliar as exigências profissionais – constituídas de sessões fotográficas, entrevistas, jantares e treinos – e a relação amorosa que mantém com a bela Raija (Oona Airola). Porém, para a sua surpresa, tudo começa a degringolar quando descobre ser impossível dar o mesmo nível de atenção às duas coisas.
Inspirado em eventos reais, O Dia Mais Feliz Da Vida De Olli Mäki pertence a uma longa tradição de filmes sobre lutadores de boxe (leiam a lista que fizemos sobre o assunto). Iniciada há muitos anos e forte até os dias de hoje (basta lembrar dos recentes Creed: Nascido Para Lutar e Punhos De Sangue), essa tradição, além de já ter rendido alguns dos maiores clássicos do Cinema, está repleta de títulos diferentes entre si, filmes que usaram técnicas, abordagens e estilos distintos. Boa parte do prazer de acompanhá-los reside justamente na diferença que separa um de outro.
Afinal de contas, como os dramas dos boxeadores são sempre muito parecidos (dificuldades financeiras, esforços físicos e psicológicos, lutas perdidas), a graça está na forma em que eles podem ser narrados. Sendo assim, é decepcionante constatar como O Dia Mais Feliz Da Vida De Olli Mäki é repetitivo tanto na sua história quanto na sua estética. A fotografia em preto e branco e a trilha jazzística (no estilo da Nouvelle Vague) já foram melhores empregadas por Martin Scorsese e Stanley Kubrick em Touro Indomável e Day Of The Fight, respectivamente, e, do ponto de vista narrativo, o espectador não precisará ir muito longe para lembrar de ter visto em outros filmes as situações dramáticas apresentadas no longa. A única novidade fica por conta da história se concentrar nos bastidores e conter apenas uma cena dentro do ringue. Porém, isso não é aprofundado a ponto de gerar reações mais fortes no público.
Onde está o conflito?
Ainda em relação à história, é frustrante perceber como Juosmanen falha na hora de estabelecer conflitos. Toda a trama gira em torno da divisão entre as vidas amorosa e profissional do protagonista, mas não há realmente uma divisão entre elas. Não há nada de especial nas dificuldades encontradas por Olli Mäki. Todos nós buscamos uma maneira de conciliar diferentes aspectos de nossas vidas, sabemos que isso não é fácil e aceitamos fazer sacrifícios em prol de algo. Portanto, é dado um peso excessivo e injustificado ao embate interno do personagem. Além disso, o romance entre o casal principal é construído apressadamente (nunca chegamos a torcer pelos dois) e a moral final (sobre relacionamentos serem mais importantes que ambições individuais) é altamente duvidosa.
Não direi que O Dia Mais Feliz Da Vida De Olli Mäki é um filme desagradável ou desinteressante. Na verdade, está longe disso. A narrativa é ágil, a metragem é enxuta e o há uma atmosfera “cool” atraente. Entretanto, não apresenta nada de novo e, ao tentar se inserir numa tradição onde, para se destacar, um projeto precisa ser ambicioso e perfeitamente realizado, não consegue ser uma coisa nem outra. Em essência, o longa de Juosmanen é completamente esquecível.