Clímax tardio atrapalha o desenrolar da narrativa de O Colar de Coralina
Baseado no poema O prato azul pombinho, da poeta goiana Cora Coralina, o filme O Colar de Coralina retrata a infância atrapalhada da autora em meio a uma sociedade recém abolicionista do final do século XIX.Estão representados no longa alguns arquétipos sociais como, por exemplo, a dialética entre a mulher engajada nos preceitos da intelectualidade e a conservadora, defensora dos eternos laços domésticos.
O cerne da narrativa é a relação de Aninha (referência ao nome verdadeiro de Cora Coralina, Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas), interpretada por Rebeca Vasconcellos, com as histórias fantásticas que cria, atrelada á vivência com sua mãe (Letícia Sabatella) e outras mulheres da família. Entretanto, é com a bisavó, Antônia, que a imaginação da personagem se expande, principalmente após esta lhe contar a história de um amor proibido entre uma princesa chinesa e um camponês, que estampa um prato de porcelana antigo.
Um dia, o objeto aparece aos pedaços e a culpa recai em Aninha. Como castigo, a menina é obrigada a usar um pedaço do prato quebrado como pingente de um colar. E é exatamente neste acontecimento que mora o maior dos problemas apresentados pelo diretor do longa, Reginaldo Gontijo. O principal conflito da narrativa se apresenta tardiamente, não aproveitando a construção do conteúdo e levando o filme ao derradeiro fracasso.
Atrizes inexperientes e falhas na direção de arte
Outra derrapada de Gontijo é a escolha do elenco. As atrizes mirins, que carregam boa parte da história, principalmente a protagonista, mostram-se inexperientes, beirando o amadorismo, no sentido negativo da palavra. É perceptível que os diálogos não foram memorizados pelas atrizes e sim lidos para a câmera por meio de um teleprompter.A salvação fica a cargo de Letícia Sabatella, que evoca uma persona altamente contestatória em relação às convenções sociais da época. Mesmo assim, a personagem fica perdida dentro da trama. Não há qualquer influência sua na construção do processo narrativo e menos ainda uma ligação com Aninha.
Também não podemos deixar de lado as questões anacrônicas envolvendo o enredo e a direção de Arte. A linha é tênue entre o final do século XIX e o inicio do século XX, nós sabemos. O problema é inserir objetos e figurinos que não condizem com o período, levando a perda de verossimilhança. É apenas no retrato da imaginação de Aninha que Gontijo consegue alavancar positividade para a sua obra. Há uma mistura de elementos surreais e trechos no formato de animação que garantem os melhores momentos visuais da projeção.
Mesmo sabendo da dedicação e do esforço do diretor, O Colar de Coralina é um revés no cinema nacional. Vamos torcer para que um futuro trabalho maduro de Gontijo se apresente.