A Segunda Guerra Mundial continua sendo pauta para boa parte das produções cinematográficas. Suas causas e consequências ainda geram muito interesse, talvez não do grande público, mas seu mercado existe e continua presente. Se, sobre a guerra, alguns preferem uma ação retratada de forma mais ampla, outros apreciam algo menos espalhafatoso ou mais pontual. Este último, é o caso do filme alemão Phoenix, que tanto pode apontar subjetivamente o renascer de um personagem judiado (duplo sentido não intencional…) ou ao próprio ressurgimento de uma Alemanha pós-guerra que recolhia seus cacos.
Baseado no romance Le Retour des Cendres (O Retorno das Cinzas) de Hubert Monteilhet, que já foi adaptado para o cinema em 1965 pelo diretor J. Lee Thompson, no filme Return From the Ashes, a nova adaptação tem o roteiro do alemão Christian Petzold (que também assina a direção) e parece tomar um caminho diferente do livro. Enquanto que a obra literária parece dialogar mais com o suspense, o novo trabalho de Petzold é carregado em dramaticidade.
A história tem como protagonista Nelly Lenz (Nina Hoss), uma sobrevivente judia de um campo de concentração nazista. Após o fim da Segunda Guerra, ela é submetida a operações cirúrgicas para reconstruir o seu rosto desfigurado. Não volta a ser exatamente como era, mas fica próxima do ideal e decide ir à procura de seu marido, Johnny (Ronald Zehrfeld), para tentar reconstruir sua vida e esquecer o passado, porém ele não a reconhece.
Trama com identidade trocada ou jogo de aparências você já viu quando Alfred Hitchcock criou a obra-prima Um Corpo que Cai em 1958, mas o alemão Christian Petzold (vertigens a parte), deixa esta referência apenas como lembrança do mestre do suspense, pois a analogia mais evidente talvez seja mesmo o recomeço da Alemanha pós-guerra através de um personagem, Nelly (a Fênix?).
Acontece que a viagem aqui não é simples. Para entender a mensagem, apreciar as nuances e o rico cenário, e ainda comprar as ótimas atuações do elenco, você irá enfrentar uma narrativa que está longe de ser agitada e que certamente não agradará boa parte do público. Se você não se importa com isso, embarque na ideia e será recompensado por ótimas cenas e um sutil, mas arrebatador, grand finale.
Os personagens são casos à parte. Nelly, que serve como a Phoenix do título (importante dizer que no filme, Phoenix também é a casa noturna onde ela reencontra seu marido, ou seja, vemos aí mais uma possível camada de interpretação!), passa por mudança física e comportamental, ao mesmo tempo em que as cores, de opacas a vibrantes, referenciam aos poucos o caminho de sua transformação. Fica difícil também entender a principal motivação ou real interesse de seu marido, Johnny. Ele cria uma nova conexão entre eles que parece ir a qualquer lugar menos ao óbvio, por mais que alguns possam até dizer que o desfecho pudesse ser esperado (pelo menos na ideia). A cereja do bolo o diretor deixa para esta construção do clímax final que vai do delicado e emotivo para um sentimento torturante, quando você pensar no que poderá ou poderia vir nos momentos seguintes, se não terminasse ali a última cena.
Enfim, mesmo que Phoenix não tenha uma narrativa trivial ou canse alguns durante o percurso, deve ser apreciado por aqueles que não queiram ir com muita sede ao pote. Faça isso e aproveite…