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A Nona Vida de Louis Drax – Simpatia forçada!

A Nona Vida de Louis Drax

Muitos filmes tentam ganhar o público por meio de uma cortina de fumaça de encantamento, escondendo limitações de uma produção – no máximo – mediana, quando não capenga. Ao falar em encantamento, podemos nos referir a efeitos especiais, atores tarimbados, fotografia, figurino ou direção de arte exuberante, ou ainda, um roteiro repleto de emoções que, quando observadas de perto, são vazias de sentimento. Quando assistimos a este A Nona Vida de Louis Drax (The 9th Life of Louis Drax, Alexandre Aja, 2016, EUA), ficamos com essa sensação de desnorteamento racional: “afinal, estaríamos diante de uma obra de arte a qual só eu achei bem nada a ver? Melhor bater palma e fazer cara de conteúdo…”

Na trama, Louis Draxler (Alden Longworth) é um garoto predisposto a sofrer acidentes. Aos nove anos, já passara por oito graves ocorrências que quase o levaram a morte, além de uma série de outros pequenos perigos. Garoto perspicaz, altivo e com um jeito muito peculiar de ver a vida, Louis não se dá bem com os colegas de escola e tem como únicos relacionamentos a mãe dedicada (Sarah Gadon, de O Homem Duplicado), o pai insatisfeito (Aaron Paul, de Uma Longa Queda) e o analista (o sempre interessante Oliver Platt, de O Homem Bicentenário). Em seu nono aniversário, Louis sofre mais um terrível acidente e entra em coma. Entra em cena um médico, o Dr. Allan Pascal (Jamie Dornan, de Cinquenta Tons de Cinza), que cria uma relação simbiótica com o menino.

A Nona Vida de Louis Drax

O filme se esforça, ou melhor, força, para parecer simpático e inteligente. Nos primeiros minutos, A Nona Vida de Louis Drax se apresenta como uma comédia dramática, que em pouco tempo avança para o drama, depois para o romance, mergulha no suspense, no fantástico, depois retorna ao drama e o romance e à poucas referências ao humor e muito quê psicológico. A salada de gêneros é estrategicamente utilizada para desviar a atenção do espectador da decepção em torno de personagens e situações promissoras, mas pouco desenvolvidas. Os personagens são complexos e presencialmente interessantes, mas se perdem em na superficialidade irritante de um roteiro e direção tímidos, que parecem ter receio de explorar com profundidade as contradições e idiossincrasias que os protagonistas e coadjuvantes de fato possuem. Ideias interessantes se diluem na narrativa indecisa, que prefere optar pelo melodrama no ato final em vez de corresponder aos anseios por uma condução mais racional do roteiro cheio de reviravoltas.

A Nona Vida de Louis Drax

Os atores são bons e elevam a qualidade do resultado final, porém são artificialmente construídos dentro da pretensa complexidade que os personagens apresentam no roteiro e não conseguem escapar da formulazinha básica da interpretação comercial banal. Algumas presenças em cena até mesmo incomodam, que mais parecem atender a uma necessidade plástica do que dramática. O que dizer de Jamie Dornan no papel do dedicado médico Pascal, que mais parece atender aos anseios femininos por uma figura masculina imponente que, mais cedo ou mais tarde, irá tirar a camisa (sombras de Christian Grey)? Ou Sarah Gadon, como a desamparada mãe Natalie, linda, loura, sensual, ingênua (que mal há andar apenas de toalha pelo hospital se acabou de se sair do banho e a roupa está no outro quarto?), porém misteriosa? São situações que mostram que a suposta complexidade serve apenas para ocultar uma série de clichês cênicos.

A Nona Vida de Louis Drax

Ao público mais afeito ao cinema robusto, podem aparecer diversas referências a diretores e produções, como Alfred Hitchcock e Donnie Darko (Richard Kelly, EUA, 2001), mas tudo dentro do plano de tornar a obra maior do que ela realmente é. O suspense psicológico e as surpresas da trama carregam boas sacadas que poderiam envolver muito melhor a plateia se essa não tivesse se perdido identificação em uma narrativa ora excessivamente tola e infantiloide, ora adulta em demasia. Tudo uma cortina de fumaça para esconder o desperdício de boas ideias e um filme infelizmente limitado.

Adaptado do livro homônimo da britânica Liz Jensen, A Nona Vida Louis Drax, tenta transmitir a sensibilidade que já convenceu plateias juvenis em outras produções. Sim, é um filme simpático, mas forçosamente simpático, que o fará facilmente esquecido. Uma obra ao mesmo tempo interessante e ruim em essência, que pode divertir alguns, mas que não resiste a uma reflexão mais profunda. Uma produção comercial disfarçada de filme cult. Um exemplo da poeira dos olhos e da cortina de fumaça que muito amante de pipoca ama odiar ou, mais comum, odeiam amar.

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