Se você é fã das novelas mexicanas do SBT, Não Aceitamos Devoluções é o filme certo para você. O maior sucesso do cinema mexicano recente finalmente chega ao Brasil, 10 meses depois da estreia, nos Estados Unidos, em 30 de agosto de 2013 (o filme teve sua première em solo americano 20 dias antes da primeira apresentação no país de origem), sem a expectativa que causou em outros países latinos. Grande parte da repercussão que o longa alcançou nas primeiras semanas de exibição se deve a boa aceitação do público norte-americano, que colocou a produção entre as cinco mais assistidas em todo país no fim de semana de estreia, mesmo com a veiculação realizada em apenas 348 salas. O feito é inédito para uma película em língua espanhola e se tornou motivo de orgulho nacional para os mexicanos.
Não é difícil compreender o sucesso de Não Aceitamos Devoluções. O filme é um produto de marketing estrategicamente fabricado para as massas. Foi escrito, dirigido e protagonizado por Eugênio Derbez, ator, produtor e comediante astro da televisão mexicana. A história se constrói por comédias e dramas familiares, gêneros e temas caros à audiência latina. O roteiro é raso e frenético, perfeito para quem não quer reflexões profundas na sala de projeção. No entanto, são desses aspectos que partem os principais problemas para quem quiser se aventurar pelo cinema cucaracha.
A trama gira em torno da já batida proposta do bon vivant que precisa abandonar a vida de farras para cuidar de um bebê que repentinamente aparece em sua vida. No caso, Valentin, um mulherengo inveterado que entra em parafuso quando uma das antigas namoradas resolve deixar com ele a filha do rápido relacionamento do verão passado. Covarde crônico, Valentin parte para os EUA atrás da mãe da criança na tentativa de fugir da responsabilidade, mas acaba, sem querer, se tornando dublê de produções de Hoolywood, onde precisará testar seus medos cotidianamente. Em pouco tempo… Melhor parar, o filme é um redemoinho de histórias que não cabem em uma sinopse. Como em capítulos de uma novela, a cada 15 ou 20 minutos de cenas, o espectador se depara com novas surpresas, novas reviravoltas, novos personagens, em um processo que se acelera no decorrer da produção, levando a quem assiste a se questionar, por alguns instantes, se o filme vá realmente acabar em algum momento.
Na verdade, a obra é uma sequência sem fim de exageros, a começar pela interpretação fora do tom de Derbez, que se esforça, a cada quadro, em ganhar a simpatia do público com seu personagem moralmente questionável. Também são muitos os papeis inúteis que prometem mas não cumprem uma participação minimamente relevante nos acontecimentos. Os excessos predominam até na indefinição sobre qual gênero o filme pretende se estabelecer. Na primeira metade da exibição, uma comédia escrachada que até arranca alguns risos sinceros da plateia com as (poucas) boas tiradas, mas contaminada pelas muitas piadas fracas e fora de propósito. Na segunda parte, o espectador vai mergulhando em um drama choroso, típico dos novelões de meio de tarde da emissora de Silvio Santos. Na direção, Derbez pesa a mão no melodrama e o tom cômico do início do filme, quando não está esquecido, aparece em momentos totalmente deslocados. Prepare o lencinho.
O destaque positivo fica por conta da encantadora Loreto Peralta, no papel de Maggie, a filha de Valentin aos sete anos. A menina rouba a cena com um talento incomparável a todos os parceiros de cena. Caminha bem entre a comédia e o drama, domina o inglês e o espanhol a ponto de fazer inveja a qualquer estudante brasileiro e percebe perfeitamente bem sua importância do personagem que representa. Peralta consegue manter Maggie em linha ascendente mesmo em meio a avalanche de novos atos, algo que Derbez não é capaz com seu Valentin, que se perde entre as overdoses de sentimentos. A garota é um dos pontos que tornam Não aceitamos Devoluções até envolvente, mas não supera os defeitos e não deve resultar em boa bilheteria por aqui. Mas cuidado, a Globo Filmes já confirmou que pretende produzir uma versão brasileira do longa mexicano. Aí, meu amigo, melhor ligar no Chaves.