O que vende um filme? O que faz com que o público tenha vontade de sair de casa, ir até o cinema, gastar seu dinheiro e ficar cerca de duas horas sentado e – mais difícil hoje em dia – em silêncio? É claro que a propaganda feita pelo distribuidor é importantíssima. Tão importante que quase sempre é calcada no elenco do filme. Em Mente Criminosa (Criminal), novo filme de Ariel Vromen, não há nada além de um grande elenco. Claro que o filme tem seus méritos técnicos, o que ainda concede alguma credibilidade à obra, mas no final tudo torna-se irrelevante diante dos erros infantis cometidos, sobretudo no roteiro.
Quando o agente da CIA Bill Pope (Ryan Reynolds) é quase levado a óbito, em poder de informações que ajudarão a agência a acabar com os planos de Hagbardaka Heimbahl (Jordi Mollà), é necessário que Quaker Wells (Gary Oldman) e Dr. Franks (Tommy Lee Jones) retomem um projeto desativado, que consiste em transferir as memórias de Pope para Jericho Stewart (Kevin Costner), um sociopata perigosíssimo, que a partir daí ajudará nas investigações.
Vromen não tem uma carreira das mais regulares e aqui isso justifica-se. Logo no início, temos uma cena de perseguição que até consegue carregar um certo nível de tensão e apreensão, porém devido aos cortes excessivos e inserções de pequenas sequências não naturais – como um avião decolando para que haja um aumento da tensão por parte do espectador, obviamente sem sucesso – a ação acaba não fluindo e ficando dispersiva. Ação, aliás, que acontece de maneira extremamente retalhada, lembrando por vezes obras de um certo Michael Bay.
Claro que a direção de Vromen não é só caos e o diretor acerta na mosca na maneira de apresentar seu protagonista. Jericho está encarcerado, preso pelo pescoço por uma corrente, e tal situação aliada à maneira do diretor de posicionar sua câmera, com planos mais fechados e mantendo-nos do lado de fora das grades na maior parte do tempo, faz com que fiquemos intimidados por aquele sujeito. É uma pena que em momento algum tememos por sua integridade, já que por mais que ele apanhe e sangre – o filme é bem violento nesse aspecto, aliás – logo lembramos do primeiro plano visto, que se passa após o clímax, onde o personagem está a salvo.
A semelhança com um filme de Michael Bay não para por aí, já que os roteiristas Douglas Cook e David Weisberg também trabalharam em A Rocha, de 1996. Fato é que, 20 anos depois, parece que a preguiça tomou conta dos escritores. Incoerências – como o fato de Dr. Franks ter apenas dois dias para reativar um trabalho parado cinco anos atrás, fazendo-o sem esforço algum, e um prisioneiro de alta periculosidade ser transportado em um veículo com apenas duas pessoas – sem escolta alguma – são algumas delas. Excessos de conveniências, como chaves esquecidas em veículos e exposições em diálogos, também fazem parte do péssimo trabalho dos roteiristas, que até tentam conciliar tudo isso com uma pitada de humor funcional por um breve momento ou outro. A solução para manter o espectador interessado por mais tempo na trama, talvez fosse entregar mais momentos em que Jericho “apronta” pela cidade, pois são esses o que o filme tem de melhor.
Costner, com toda certeza, é responsável pelo melhor personagem. Moralmente ambíguo após a cirurgia – o que não significa surpreendente – o personagem torna-se muito mais interessante e intimidador através de sua atuação. Explosivo pontualmente e discreto quando tem de ser, é principalmente no tom de sua voz que se dá a maior parte da expressão de seus sentimentos. Gal Gadot – que interpreta a esposa de Pope – e Gary Oldman são obrigados a criar personagens sem profundidade alguma, pois foram escritos de maneira tão caricata que praticamente não tiveram espaço para criação. Caricato, aliás, é Heimbahl, que devido à megalomania de seus planos, e à composição de Mollà, poderia facilmente ser um vilão de James Bond da década de 60.
Quanto à Reynolds e Jones fica difícil até esboçar qualquer análise, já que o primeiro fica em cena por no máximo 15 minutos, não comprometendo, mas também não abrilhantando o filme. Já o segundo tem mais espaço, mas ainda assim muito breve. Pode-se dizer que Jones foi tão discreto que até mesmo suas expressões emocionais parecem todas iguais.
A fotografia, com tons de cinza e verde escuro, ajuda o espectador a imergir naquele universo que tenta ser mais sóbrio e sério do que deveria. Já a música cria tensão e é eficiente; mas funciona como uma espécie de fórmula, perdendo qualquer tom de originalidade, tornando-e completamente esquecível.
É muito provável que Mente Criminosa consiga fazer algum sucesso com o público devido aos seus grandes nomes, mas é necessário que haja rigor também por parte de quem assiste. É importante sempre frisar que quanto mais rigoroso o espectador for, maior é a tendência de crescimento na qualidade de novas obras, mesmo que essas sejam para o puro entretenimento. E cá entre nós: Fazendo pensar, ou apenas divertindo, o importante é ser bom. De preferência, em todos seus aspectos.