Você já deve ter visto essa historia nas Sessões da Tarde ou Cinema em Casa da vida: um filho/filha inferniza a vida do namorado ou namorada de um dos pais, criando situações cômicas pautadas na vergonha alheia e no escracho, mas com algum questionamento sentimental. Pois bem, essa é justamente a espinha dorsal de Lolo: O Filho da Minha Namorada (Lolo, 2016) comédia francesa sem a menor pretensão de revolucionar o tema, mas nem por isso deixar de tentar entregar alguns atrativos ao público.
O principal deles é a bela Julie Delpy, que dirige, roteiriza e protagoniza o longa na pele Violette, uma bem sucedida mulher de negócios que vive, na maturidade, o ápice da sua liberdade financeira e sexual que expressa sem pudor ao lado das amigas. Tudo muda quando ela conhece Jean-René (Dany Boon) um homem simples, mas intelectual, ascendente na carreira de engenheiro de informática. Apesar das nítidas diferenças entre eles, o namoro engrena, até que entra na história Lolo (Vicent Lacoste) o mimado e ultra-protegido filho de Violette que, com um bizarro complexo de Édipo mal resolvido, não irá permitir que o intruso atrapalhe sua relação com a mamãe querida.
Apesar do roteiro frágil, os três atores principais são o ponto alto aqui. Delpy é uma profissional que já demonstrou talento em todas as suas incursões cinematográficas. Como diretora, em O Verão do Skylab e como roteirista, na trilogia Antes do Amanhecer / Por-do-Sol / Meia-noite, mostrou sensibilidade com personagens complexos e sensíveis, sem perder o tom seja em dramas ou comédias. No entanto, é como atriz que ela se destaca em Lolo, já que o filme tem sua digital em cada traço da produção. A personagem Violette se mostra inicialmente como uma mulher forte e decidida, muito superior ao tolo Jean-René, mas que na presença dele rapidamente se transforma em um ser tão obtuso e ingênuo quanto o namorado. Dany Boon está um tanto reprimido em seu papel, em um personagem que não permite que ele exprima toda a expansividade de seu humor, mas convence, até certo momento, como um homem apaixonado que não acredita na conquista que teve, por isso se sujeitando-se passivamente às desgraças que sucessivamente lhe acontecem.
Agora, o destaque fica por conta de Vicent Lacoste, no papel do psicopata juvenil Lolo. O jovem tem talento para exibir apenas com olhares e expressões faciais o tédio e o desprezo que lhe despertam os pretendentes da mãe. No entanto, é também nos pequenos gestos que o maníaco consegue exprimir o prazer que o mal lhe causa a cada humilhação que impõe em sua vítima. Lolo é um garoto mimado ao extremo, que sempre teve suas vontades atendidas prontamente, que se acha um artista e talentoso demais para qualquer tipo de trabalho mais tradicional. Essas são características clichês para um personagem que deve ser detestado pelo público, mas que o ator consegue manejar muito bem.
As qualidades de Lolo, infelizmente, terminam no elenco. Julie Delpy decepciona como diretora e, principalmente, como roteirista. A trama começa como uma comédia romântica moderninha, com uma pegada feminista que valoriza o poder, a beleza e a independência da mulher feliz consigo mesma. Tudo cai por terra quando a história passa a se concentrar nos três personagens principais, quando o enredo dá uma guinada para uma farsa visual. Como comédia, é raso e sem-graça na maioria das cenas, salvo uma ou outra exceção.
O roteiro usa de alguns recursos apelativos para chamar a atenção, como as declarações sexistas de Violette no início do filme para marcar sua personalidade. O sexo, aliás, é frequentemente usado (verbalmente, frisa-se) como ferramenta para impactar o público quando as coisas começam a ficar sonolentas. Os personagens não são desenvolvidos à medida de suas idiossincrasias psicológicas. O complexo de Édipo de Lolo, a fragilidade camuflada de Violette e a desconfortável normalidade de Jean-René num ambiente repleto de seres exóticos a seu olhar, são repassados com superficialidade irritante, deixado apenas uma vontade por maiores detalhes no espectador. Vale ressaltar, no entanto, que a simples referência a essas percepções já tornam o filme um pouco mais interessante.
As tiradas cômicas são leves, ora eficientes, ora não, mas a história, em si, transcorre em ritmo morno, construída ao redor das armadilhas preparada por Lolo que afundam Jean cada vez mais em imbróglio que quase destrói sua vida. Quando toda a situação já parece desesperadamente condenada para o pobre homem, a roteirista opta por uma solução simplista, banal e repleta de clichês para encerrar sua história. Uma pena, pois um desfecho um pouco mais inteligente poderia deixar um saldo positivo para o público ao final da projeção.
Em suma, Lolo: O Filho da Minha Namorada está longe de ser um filme brilhante, mas nem por isso pode ser considerado totalmente descartável. Trata-se de um filme básico, fácil, acessível sem ser estúpido, tem lá seus questionamentos e reflexões, porém sem qualquer qualidade real que o diferencie de outras produções em qualquer que seja o parâmetro de comparação. Alguma diversão pode ser tirada, mas não é bem provável que ele permaneça na sua memória por muito tempo. Vale pelos atores e para conversar depois da sessão sobre como uma obsessão pode cegar uma pessoa para o amor sincero, às vezes tão próximo. Uma conversa breve, antes que comece o próximo filme.