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Águas Rasas – Mordendo bem!

Águas Rasas

Depois de Spielberg surpreender e deixar o mundo com medo de ir à praia com Tubarão (Jaws, 1976), convenhamos que ficou difícil encontrar um bom filme envolvendo o predador marítimo contra uma pessoa ou um grupo. Claro que isso se deve às milhares de produções caça-níquel que tentaram capitalizar em cima da revelação do cineasta, direta ou indiretamente. O problema é que quando uma produção com um ou mais tubarões é anunciada, é possível não lembrar-se do filme de 76 e a trilha sonora fantástica de John Williams? Isso já deixa os filmes que vieram depois em desvantagem, o que não significa que é impossível haver exemplares dignos de nota, como é o caso deste Águas Rasas (The Shallows), felizmente.

Calma, pois não é o caso de termos aqui algo melhor, ou mesmo tão bom quanto o filme de Spielberg, mas dificilmente vai decepcionar quem estiver atrás de um passatempo bem realizado. A história se inicia com a surfista Nancy (Blake Lively) chegando a uma praia deserta em algum lugar da América Latina, levada por um guia local. Já próxima da tal praia, descobre que sua amiga resolveu ficar no hotel, então vai aproveitar sozinha as ondas. Esse prólogo desenvolve a personagem, mostrando que ela tem alguns motivos particulares para estar ali e alguns dilemas para resolver consigo mesma, detalhes que nos chegam através de suas fotos e da comunicação com seu pai e irmã via celular.

Águas Rasas

Ponto positivo para o roteiro do pouco conhecido e inexperiente Anthony Jaswinski. Nem precisamos ver o trailer para sacar, de cara, que Nancy ficará presa em algum ponto nas pedras próximas à praia, com um tubarão rondando, situação mais complicada pela ausência de outras pessoas. Apenas isso não seguraria qualquer longa metragem, mas o texto é competente em conferir profundidade a ela e justificar alguns conhecimentos que ela utiliza para sobreviver ao longo da projeção.

A direção de Jaume Collet-Serra – de A Orfã e Sem Escalas – mostra evolução aqui. Pode incomodar um pouco as sequências estilo videoclipe quando a moça exibe suas habilidades no surfe, mas feitas todas as apresentações, quando o filme precisa se apoiar no suspense e no drama, o cineasta se sai bem. Ainda que não exista nada absolutamente genial em qualquer quesito, a tensão funciona bem e o bom ritmo se mantém até o final. Sabiamente, os realizadores optaram por um filme curto, com menos de 90 minutos, já que uma premissa como essa, ainda mais contando com apenas uma atriz em cena em quase toda a duração, pode facilmente cansar o público.

Águas Rasas

Com a direção segura no suspense, Blake Lively – que está no último de Woody Allen, Café Society – se segura bem na tarefa de carregar a narrativa sozinha. O filme consegue criar a dúvida inicial sobre o destino da personagem, ainda bem, o que nos faz realmente temer pela sua segurança e aumenta a sensação de urgência. Isso vale tanto para o tratamento dos ferimentos dela quanto pela hora da maré alta chegando, quando não terá mais como evitar o tubarão.

Chegando ao final, o desfecho de Águas Rasas pode ser um tanto frustrante para alguns. Nada que chegue a estragar tudo, mas acaba soando ligeiramente fora do clima proposto. De qualquer forma, ainda vale a sessão e vence qualquer preconceito que a comparação com o filme de 1976 poderia trazer. Não vai mudar a vida ou maravilhar qualquer cinéfilo, mas é um bom suspense com pinceladas dramáticas. O melhor é que assume isso numa boa e não tenta ir além do que poderia.

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