A breve vida e a curta carreira profissional de Kurt Cobain são revividas por notícias e matérias constantemente, mesmo que sua morte tenha ocorrido há mais de 20 anos. Isto porque este introvertido e problemático músico é o líder de uma das bandas mais influentes da década de 1990, o Nirvana, e tem seu lugar guardado na história do rock. Viveu sua vida ao limite e morreu precocemente no auge de sua carreira, assim como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Amy Winehouse, outras importantes, talentosas e controversas figuras da música moderna. Cobain está longe de ser um grande músico, mas foi uma pessoa de visão, mesmo que sua genialidade (ou não) ainda seja muito discutida hoje em dia.
Goste ou não dele, o cara foi um dos responsáveis por enterrar uma realidade que acontecia nos anos 1980, ao iniciar uma nova tendência, o grunge, extremamente importante para a renovação de um gênero musical que precisava de um respiro, para não morrer definitivamente. Quando falamos de Cobain como responsável, isso quer dizer que não estava sozinho. Musicalmente, este sub gênero do Rock já era realidade através de bandas como Mudhoney e Soundgarden, que se apresentavam em pequenos clubes de Seattle (o berço dessa nova tendência) nos final dos anos 1980. Porém, com o Nirvana, o estilo foi catapultado para o resto do mundo através do lançamento do álbum Nevermind, graças também a era “videoclíptica” da MTV quando o hit Smells Like Teen Spirit chegou com força na sua e minha residência…
Passado esse resumo simples da época, o que interessa de verdade aqui é o que Kurt Cobain: Montage of Heck acrescenta para nós como retrato deste controverso musico e se a obra inspirada em sua vida tem seus méritos. Dito isso, vou contra a maré…
Bem falado pela crítica internacional, na realidade este documentário decepciona como experiência. Tem boas ideias, sinceros materiais em vídeos, mas no final das contas tenta ser mais do que deveria ser. O diretor Brett Morgan (Crossfire Hurricane) erra em tentar entregar algo muito caprichoso ou descolado demais e esquece de apresentar uma obra mais empática. Claro que a vida do músico é perturbada e muito do material prova isso, mas a estrutura montada parece ser pretensiosa demais. Mesmo assim, é importante deixar claro que o documentário está longe de ser ruim…
Desenvolvido com imagens exclusivas, provenientes da própria família de Cobain (sua filha é a produtora executiva), a obra apresenta entrevistas interessantes como as de seu pai e sua madrasta, porém os pontos negativos já começam com a incrível ausência de Dave Grohl (quase nem em imagens ele aparece) e isso se torna um fato marcante e até incômodo desta realização. Claro que seu papel hoje no Rock, comparado a sua participação no Nirvana, é de muito maior destaque liderando o Foo Fighters, mas suas impressões sobre a sua primeira banda e seu conhecimento sobre Cobain deveriam ser peças fundamentais para o desenvolvimento da estrutura do documentário. Como ele é apenas um figurante, existe um vazio aí quase imperdoável.
Sobre isso, foi mencionado pelo diretor em entrevistas que a sua falta ocorreu por conflitos de agenda, mas a impressão que fica é a de que este relato documental não deveria tirar os holofotes sobre Cobain. Como a influência da família foi aparentemente decisiva, a presença de Grohl poderia desviar um pouco a atenção. Claro que isto é apenas uma especulação desta pessoa que vos escreve…
O documentário exemplifica momentos importantes de sua vida, como sua primeira e traumática experiência sexual e seus estranhos momentos criativos na casa de sua primeira namorada, através de interessantes cenas de animação que não deixam de ser uma inteligente alternativa para a obra. Porém, isto é pouco e por mais que tenhamos noção da angustiante vida de Cobain, há depressão demais para encarar no restante e o conteúdo se repete. As mais de duas horas se tornam cansativas.
Krist Novoselic, o baixista do Nirvana, aparece com frequência, mas quem tem o destaque maior (não que isso seja positivo) no documentário é a companheira de sexo, drogas pesadas e rock & roll de Cobain, Courtney Love. Acontece que, por mais que ela entregue muitos fatos importantes da vida do músico para o público, ela esbanja uma falta de simpatia (ficou claro isso?) que colabora para termos cenas bem insossas no filme.
Enfim, entre prós e contras, há relatos que podem impressionar e são verdadeiros achados, principalmente para os fãs do músico. São os trunfos desta realização, mas como um todo, este documentário fica devendo um produto mais atrativo. É um retrato interessante, mas a aparente pretensão do diretor atrapalha o resultado final. Talvez uma estrutura mais arroz com feijão funcionaria melhor…