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Kong: A Ilha Da Caveira – O gigantesco símio retorna em uma obra divertida!

Kong: A Ilha Da Caveira entrega exatamente aquilo que promete

O principal critério que todo crítico de Cinema deve respeitar é o de julgar um filme por aquilo que ele pretende ser. Não adianta exigir de uma obra cinematográfica algo que os seus responsáveis não tinham a intenção de realizar. Ver um filme com um pensamento contrário a esse sempre resultará num profundo sentimento de decepção.

Tendo isso em mente, é impossível achar que Kong: A Ilha Da Caveira (Kong: Skull Island), a quarta encarnação do símio gigantesco nos cinemas (sem contar aparições nipônicas não oficiais e o medonho King Kong Lives (1986), com Linda Hamilton) , não é um filme bem sucedido, uma vez que, em meio aos seus vários problemas, o maior objetivo da obra é mostrar o macacão em ação, e isso ela faz perfeitamente bem.

Pôster Kong: A Ilha da Caveira

Kong: A Ilha da Caveira

Diferentemente dos filmes de 1933, 1976 e 2005 – que contavam, praticamente, a mesma história -, Kong: A Ilha Da Caveira nos apresenta a uma trama distinta. Se passando nos anos 1970 – portanto, em uma década marcada por importantes conflitos políticos -, ela tem como personagens principais – além de Kong, é claro – um rastreador (Tom Hiddleston), uma fotógrafa (Brie Larson), um cientista (John Goodman) e um militar (Samuel L. Jackson), que, viajando sob o falso pretexto de explorar as riquezas geológicas de uma ilha perdida no meio do Pacífico, se deparam com uma local habitado por animais gigantescos.Separados após um ataque fulminante, eles terão de enfrentar as dificuldades do ambiente hostil para se reencontrar e fugir do lugar infernal.

Concebida por John Gatins e transformada em roteiro por Dan Gilroy (cuja estreia na direção em O Abutre foi comentada em um Formiga na Tela ), Max Borenstein e Derek Connelly, a história de Kong: A Ilha Da Caveira não tem a menor intenção de introduzir personagens tridimensionais ou motivações complexas.

Construídos como arquétipos, eles são meros fantoches incluídos na trama para atuarem como os nossos olhos dentro daquele ambiente inimaginavelmente aterrorizante. Aliás, a própria escalação de atores carismáticos e famosos para esses papéis é um indicativo de que os realizadores, tendo noção desse defeito, quiseram mascará-lo com a presença de rostos reconhecíveis.

Kong: A Ilha da Caveira

Contendo também alguns diálogos assustadoramente ruins e usando recursos risíveis (as brincadeiras envolvendo a carta de um dos soldados ao seu filho não tem nenhum efeito cômico e as interações entre os soldados não funcionam), o roteiro do filme até tenta ser politicamente relevante, fazendo comentários sobre a guerra, o pensamento militar norte americano e questões ambientais. Mas isso é trabalhado de uma maneira tão superficial que dizer que o filme tem uma consciência política seria um exagero injustificável.

No entanto, esses defeitos incomodam muito pouco ao longo da projeção. Afinal, ninguém assiste a um filme de ação – que tem como protagonista o King Kong – esperando estudo de personagens, diálogos complexos ou discussões filosóficas sobre assuntos relevantes. O que o público procura – e os realizadores desejam entregar – são cenas de ação empolgantes, efeitos especiais impressionantes e uma diversão passageira, facilmente esquecível.

Com várias referências a filmes de guerra clássicos (Apocalypse Now, Platoon, Dr. Fantástico), Kong: A Ilha Da Caveira entrega exatamente isto: uma aventura escapista que diverte e entretém. Inclusive, um dos maiores méritos do filme é o seu forte clima de matinê, como se fosse uma daquelas obras feitas antigamente para um público que é fã de produções B, repletas de humor e momentos deliberadamente ruins.

Kong: A Ilha da Caveira

Riqueza visual e sonora

Embalado por uma trilha sonora composta por clássicos da década de 1970 e músicas tribais e criativas de Henry Jackman, o filme deve grande parte do seu sucesso à direção eficiente de Jordan Vogt-Roberts. Ao lado de Larry Fong, o diretor de fotografia de Batman Vs. Superman (cuja iluminação ora amarelada, ora condizente com os tons esverdeados e amarronzados da natureza pinta o cenário de forma pitoresca), o cineasta trabalha com uma mise-en-scène que privilegia a movimento dos atores dentro dos ambientes (a maneira como os personagens sempre parecem diminuídos pela paisagem monumental é um dos maiores méritos da dupla) e a presença dos animais gigantescos na tela.

Com a ajuda da contida montagem de Richard Pearson (a ausência de cortes frenéticos é uma característica incomum nos blockbusters hollywoodianos), que respeita o espaço cênico em que a ação transcorre, Roberts e Fong também compõem belíssimos planos gerais, revelando os espaços onde as brigas ocorrem como se fossem ringues e fazendo com que o público entenda a geografia da cena e consiga entender tudo o que está acontecendo. Magnificamente grandiosa, a escala dessas cenas encontra um ótimo contraponto nos planos fechados que a dupla usa para destacar os olhares violentos e também amorosos de Kong.

Kong: A Ilha da Caveira

No entanto, todo esse cuidado seria desperdiçado se os efeitos especiais não conseguissem criar os monstros de uma maneira verossímil. Felizmente, a equipe responsável realiza um trabalho memorável. Amparada por um design de som brilhante, ela, ao usar tanto o CGI quanto captura de movimento de forma exemplar, dá vida às criaturas e torna cada um dos seus movimentos em algo natural. Na proporção em que o filme é feito, não lembro de ter visto uma obra recente com efeitos especiais tão competentes (com a exceção óbvia de Mogli: O Menino Lobo).

Com uma cena pós-créditos que aponta para o surgimento de um universo cinematográfico habitado também por outras criaturas famosas, Kong: A Ilha Da Caveira não tenta esconder em nenhum momento as suas intenções. Com ambições rasas e ciente do seu caráter descartável, o filme entrega exatamente aquilo que promete. Nem mais, nem menos. E, por isso, deve ser considerado um projeto bem sucedido. Exigir do filme mais que bons efeitos e cenas de ação seria cometer um ato de injustiça.

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