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Jauja – Uma viagem tranquila demais!

Jauja

Jauja

Você se lembra de algum filme que exagerou na ação e acabou cansando? Não falo daquele desgaste satisfatório que um bom e competente filme frenético causa, mas aborrecimento mesmo, decorrido de tanta explosão e barulho sem muito critério, que muitas vezes nem permite que o espectador se importe com alguma coisa ocorrendo na tela. Dependendo da frequência com que você assiste a filmes, não vai precisar de muito esforço para recordar-se de algum exemplo. Se conseguiu ao menos imaginar algo assim, agora tente pensar em algo completa e radicalmente oposto a isso, porém com o mesmo efeito um tanto entediante, e assim você já tem uma boa ideia sobre como é Jauja, do argentino Lisandro Alonso.

Jauja

Co-produção entre Argentina, Dinamarca, França, México, Estados Unidos e Holanda, o filme tem seu título explicado logo no início, informando que a tal Jauja é uma espécie de terra mitológica lendária. Na apresentação dos personagens, vemos um minúsculo destacamento militar acampado em algum lugar próximo ao deserto da Patagônia, onde um oficial dinamarquês , vivido por Viggo Mortensen, trabalha como engenheiro para o exército argentino. Instalado na companhia da filha adolescente, o capitão Dinesen lida, além do choque cultural, com a inquietação que a garota causa em um ambiente masculino e solitário há tempos. Quando ela foge com um jovem soldado, o pai desesperado empreende uma busca deserto adentro, iniciando uma travessia que será bastante tranquila, conforme indicado no título deste texto… Bem, não para ele, mas para o público, que ao decidir embarcar nesta experiência, deve ir consciente de que o ritmo começa lento, e vai nesta pegada até o final, completando seus 109 minutos.

É necessário deixar claro que a lentidão não é, nem nunca será, um defeito por si só em qualquer obra audiovisual. Existem histórias que pedem esse tipo de condução, assim como o silêncio é muitas vezes mais poderoso que uma explosão. O problema é que Jauja não parece dizer algo claro com essas características, pois apoia-se apenas em uma situação que vai se estendendo,  repetindo longos planos que mostram a paisagem e o personagem aos poucos se aproximando, e assim que ele passa pelo enquadramento, o plano se inverte e o vemos pelas costas, afastando-se. Evidente que algumas coisas vão acontecendo por essa travessia, mas nada que caracterize uma verdadeira virada. Ao insinuar uma resolução para o problema deste protagonista, a narrativa toma ares abertamente surreais, na parte mais interessante do filme, só que não o bastante para validar os acontecimentos prévios, por fim, fechando o ciclo na sequencia seguinte, da forma mais aberta a interpretações possível.

Jauja

Rodado em formato diapositivo e deixando a projeção na proporção 4:3, o que mantém as laterais da tela vazias, talvez o filme esteja tentando negar uma tradição visual do western clássico, levantando até uma questão colonialista. Não que isso necessariamente torne o filme bom, mas um ponto irônico é que a fotografia do finlandês Timo Salminen é realmente muito bonita, mas a imagem fica limitada pelo formato escolhido e isso é curioso. O figurino também tem alguns toques sutis bacanas, mas o melhor do filme é Viggo Mortensen, de quem sempre se espera uma interpretação competente e aqui não decepciona. O ator também assina a – pouca – música do filme, mostrando uma versatilidade rara.

Qualquer profissional consagrado que procura projetos menos comerciais merece consideração, então se você é muito fã do trabalho de Viggo Mortensen, poderá apreciar melhor a viagem de Jauja. Aliás, o termo “viagem” cabe perfeitamente aqui, em mais de um sentido. Pena que é fácil cair no sono quando você se acostuma com a paisagem.

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