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Jackie – Quando Washington se transforma em Camelot!

Natalie Portman encarna Jackie Kennedy com perfeição em longa de Larraín

Jackie (idem), do diretor chileno Pablo Larraín, é um recorte da vida da ex-primeira-dama nos dias que se seguiram ao assassinato do presidente americano John Fitzgerald Kennedy. Estrelado por Natalie Portman em atuação bastante elogiada, a atriz é um grande fator de valorização da obra como um todo. Mas ainda não é hora de falar sobre a performance da antiga Padmé Amidala. Chegaremos lá.

Natalie Portman encarna Jackie Kennedy com perfeição em longa de Larraín

Jackie tem Natalie Portman brilhando!

Antes, é bom ressaltar que o tema do assassinato do presidente JFK foi extensamente explorado por diversos lados, e por grandes cineastas como Oliver Stone (JFK, A Pergunta Que Não quer Calar, de 1991) e autores como o incansável Stephen King (22-11-63, que virou série estrelada e produzida por James Franco). Era preciso um olhar diferente da história e trazer um promissor diretor estrangeiro foi uma decisão bastante acertada.

O produtivo Larraín mal tinha entregue o filme sobre Pablo Neruda e já emplacou mais um drama. O enfoque do filme é inteligentemente dúbio, colocando mais pontos a serem pensados do que respostas. Exatamente como é a história da família Kennedy.

 

Os Kennedy sempre foram o mais próximo que os americanos tiveram de uma família real. Um presidente garboso e enérgico, de pensamentos modernos e sem medo de se expor – seguido por esposa, bela, recatada e do lar, um ícone da família americana. Além do escudeiro fiel, o irmão Bob, vivido por Peter Sarsgaard (atuação sóbria que quase apaga o péssimo vilão de Lanterna Verde – aliás, um filme que já foi comentado em nosso videocast). Um conto de fadas com final trágico.

Natalie Portman encarna Jackie Kennedy com perfeição em longa de Larraín

O que o filme propõe é justamente a construção desse final para que ele se tornasse “épico”. A Jackie de Portman foi construída com tamanha fidelidade que parece um personagem deslocado da realidade. Precisei procurar por antigos documentários para confirmar se a verdadeira primeira-dama tinha aqueles trejeitos de fala. Sim, a intérprete foi realmente fiel. Principalmente na apresentação da personagem, enquanto ela é entrevistada após o assassinato. Essa entrevista é o fio condutor da trama e levanta as principais questões sobre o que a protagonista realmente queria.

Mas é justamente quando a atriz abandona os excessos de realismo que a vemos brilhando. Sob a batuta de Larraín, Portman emociona. Em uma cena sem um único diálogo e várias gotas de sangue no rosto, ela traz um vulcão de sentimentos que toca absolutamente. Não é possível ficar impassível. John Hurt  (1940-2017)  tem uma participação pequena, mas digna.

Beleza nos detalhes humanos e técnicos

Além da direção, a fotografia é realmente muito elaborada. O diretor de fotografia Stéphane Fontaine, também ocupando a função em Elle e Capitão Fantástico, não teve medo de misturar texturas e linguagens, sem perder a mão em nenhuma das fases do filme. Em determinados momentos, percebe-se a granulação característica das filmagens da década de 1960.

São pontos sutis, mas que enriquecem o filme. Além disso, ele ousa bastante fazendo planos frontais muito próximos para causar desconforto. Também há tomadas elaboradas, como a sequência da passagem do carro presidencial por baixo de um viaduto logo após o tiro.

Natalie Portman encarna Jackie Kennedy com perfeição em longa de Larraín

O roteiro é muito bom, construído para mostrar a primeira dama como real protagonista, sem ficar à sombra de JFK. Alguns momentos lembram bastante outros grandes filmes como Poderoso Chefão e Cidadão Kane, mas me chamou atenção uma referência à cena memorável de Marilyn Monroe cantando Happy Birthday to You para Kennedy, que é colocada de maneira sutil e genial. Grande trabalho.

A montagem é um pouco menos tradicional e se utiliza bem de flashbacks e jump cuts, aqueles cortes secos que dão agilidade ao filme. Jackie é ainda mais interessante quando se percebe que é um filme de desconstrução e reconstrução do homem John Kennedy. Ele nos induz a ver uma Jackeline Kennedy que passa do desespero da morte ao planejamento de um mito de forma coesa, enfrentando conflitos externos e internos.

No final das contas o filme fala sobre o legado dos Kennedy. Uma família que transita entre o REAL de realidade e o REAL de realeza.

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