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Invasão Zumbi – Muito, mas muito além do rótulo!

Invasão Zumbi

Invasão Zumbi

Quem vive em uma grande metrópole e utiliza o transporte público conhece bem a cena. Idoso, grávida ou qualquer tipo de incapacitado em pé, enquanto alguém fingindo não perceber a situação ocupa um assento reservado a essas pessoas. Momentos antes de assistir ao sul-coreano Invasão Zumbi (Busanhaeng), testemunhei mais um evento como esse, desta vez, com direito a discussão entre o folgado e um terceiro indignado. Além de trazer aquele desconforto inevitável pela atitude comum de algumas pessoas, inesperadamente, me fez prestar mais atenção a um aspecto do filme. Não estou louco ou buscando subjetividade demais onde não existe, pois a obra do diretor e roteirista Sang-ho Yeon toca forte em algo que atrapalha a vida em sociedade: egoísmo.

Esqueça esse título nacional genérico, que mal aponta a superfície. Não tenho dúvidas ao afirmar que essa história caberia em qualquer outro contexto de caos social, pois a praga zumbi é apenas o cenário escolhido para ambientar o arco dramático dos personagens principais. A situação que nos leva para dentro da narrativa é o conflito de Seok Woo, pai ausente divorciado que cuida da filha pequena, Soo-an. A menina está tão infeliz e disposta a ficar com a mãe que o convence a levá-la de trem até a cidade de Busan, uma viagem curta. Quando os dois finalmente embarcam, o apocalipse já está em curso no país inteiro e um infeliz acaso leva a epidemia para dentro dos vagões.

Invasão Zumbi

Os infectados se movem rápido, como em Extermínio, de Danny Boyle, passando a doença por mordidas, um clichê inevitável. Apesar destas capacidades físicas dos zumbis garantirem uma narrativa mais frenética, cuja sensação de urgência aumenta pelo confinamento em um espaço muito restrito, o filme não exagera nestes momentos de correria, a ponto de banalizá-los. Ainda que espectador que procura a tensão característica deste tipo de filme seja bem recompensado, o drama pessoal em curso chama atenção. Se George Romero imprimia uma discussão sociológica em suas tramas de mortos-vivos, Sang-ho Yeon busca um caminho muito mais intimista e emotivo aqui, sem sacrificar a diversão.

Mesmo com um drama simples, que poderia facilmente cair no estereótipo vazio do pai que trabalha demais e não presta atenção na filha, é fácil criar empatia com a pequena Soo-an, que já á capaz de entender o motivo da separação dos pais. Seok Woo, por sua vez, é obrigado a reavaliar certos valores, não apenas pela sua própria sobrevivência, a da menina e de todos ali em jogo, mas também pelo antagonismo específico que criou com a filha. A conclusão do arco dramático dele consegue ser especialmente emocionante, ainda mais dentro de um filme como esse.

O ator Yoo Gong parece um tanto inexpressivo em algumas situações, mas convence nos picos emocionais, o que nos deixa na dúvida se a construção geral não seria proposital. Com o roteiro apostando bastante na personagem infantil, houve um sério risco de colocar tudo a perder com a intérprete-mirim errada, mas a menina Soo-an Kim – recurso sábio esse de usar o nome real dela – não apenas dá conta do recado, mas sua performance vai crescendo enquanto nos aproximamos do final. Difícil essa dupla não arrancar algumas lágrimas de qualquer plateia.

Além desta estrutura dramática bem executada, os trechos de perigo estão muito bem distribuídos em quase duas horas de filme. São momentos comuns em narrativas com zumbis, mas estão pontualmente localizados e com uma bela carga de tensão, como já citado. Não apenas isso, as estratégias que os personagens precisam criar rapidamente para escapar são bem convincentes, sem apelar para nenhuma habilidade muito específica e conveniente de algum passageiro. Conforme descobrimos com eles as “fraquezas” dos infectados, é impossível não raciocinarmos também sobre o que seria possível fazer naquela situação. Aquele velho sentimento de “E agora?”, que algumas obras têm o poder de provocar.

Invasão Zumbi

Com o ritmo do filme funcionando perfeitamente, graças a uma decupagem que não se atrapalha com a restrição de espaço, os outros detalhes técnicos só acrescentam. Sem carregar na fotografia e mantendo-se em uma pegada mais naturalista, exceto no uso de câmera lenta aqui e ali, mas sem comprometer o conjunto, Invasão Zumbi é um filme claro. Lembra- se de [REC], dirigido por Jaume Balagueró e Paco Plaza em 2007? Sim, é um ótimo filme de zumbis, mas se beneficiava dos ambientes escuros. Não que isso seja um demérito, mas aqui temos plena visão do desenrolar dos acontecimentos à luz do dia, o que não o impede de causar medo e fazer o público temer pelo destino dos personagens principais. O trabalho de som também é absolutamente eficiente, junto com sua trilha sonora, que prepara o clima para tirar o fôlego do espectador.

Pecando apenas ao exagerar um pouco na maldade de um dos passageiros, mas conseguindo ser sutil até na reviravolta, Sang-ho Yeon demonstra, para quem quiser ver, que é possível combinar os arroubos frenéticos de um blockbuster – independente do teor da história – com conteúdo verdadeiramente humano, com um trabalhando a favor do outro. A ressalva arranha muito pouco o resultado final e Invasão Zumbi reafirma a excelência do cinema sul-coreano. Extremamente indicado para fãs de zumbis, de terror em geral e, principalmente, de produções que buscam visivelmente extrair todo seu potencial.

P. S.: Há algum tempo, falamos também sobre a animação prelúdio do filme, pelo mesmo diretor!

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