Infiltrado na Klan marca o retorno do estilo de Spike Lee
(Infiltrado na Klan tem estreia em circuito comercial prevista para 22 de novembro, mas está na 42º Mostra Internacional de Cinema)
O diretor e roteirista Spike Lee é um dos cineastas mais importantes do cinema norte-americano, graças ao seu estilo objetivo, claramente engajado e sem medo de ser criativo e ousado na parte técnica. Tudo isso pode ser notado em filmes incríveis como Faça a Coisa Certa, Malcolm X, Irmãos de Sangue, Febre da Selva e A Última Noite. Mas Lee também realizou algumas bombas, como o dispensável remake de Oldboy e o pavoroso Milagre em Santa Ana. Agora com Infiltrado na Klan (BlacKkKlasman), o diretor retorna ao espírito que o colocou entre os grandes de Hollywood.
Baseado em uma história real, o longa se passa no ano de 1978 e acompanha o jovem policial Ron Stallworth (John David Washington), o único negro em uma delegacia localizada em uma pequena cidade da Califórnia. Para conseguir se impor como policial, ele decide fazer uma investigação sobre a Ku Klux Klan. Depois de uma série de ligações para conseguir informações, ele envia seu parceiro de origem judia Flip Zimmerman (Adam Driver, de Star Wars: Os últimos Jedi) para as reuniões do grupo. Quanto maior o envolvimento de Ron com a Klan, fica mais claro o seu papel como negro nessa investigação e do perigo que essas pessoas representam.
O roteiro, assinado por Lee junto com Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmot, é bastante consistente e apresenta o cenário político e social da época de maneira clara e logo nos primeiros vinte minutos de projeção, evitando qualquer excesso de explicações ao longo da trama. Vemos o crescimento da Klan e a pouca importância dada pela sociedade para o movimento e também o partido dos Panteras Negras crescendo entre os estudantes afro-americanos.
Os personagens são bem desenvolvidos e, apesar dos membros da Klan serem mostrados de maneira estereotipada, percebe-se que o diretor tem interesse em tentar compreender de onde vem o preconceito que move os seguidores do movimento. Isso fica claro nos diálogos por telefone entre o protagonista e David Duke (Topher Grace), o líder da Ku Klux Klan. Por mais que seja retratado como um completo idiota, isso não é apresentado de maneira simplista. É interessante notar que mesmo Flip, que não se importa de início com os medos de Ron, vai se envolvendo e ficando cada vez assustado e enojado com o pessoal da Klan, o que mostra que o filme não tem uma visão unilateral.
Uma nova parada de Spike Lee
Infiltrado na Klan tem todas as características que deixaram o Lee famoso: a crítica feita de maneira clara e direta, atuações naturalistas, experimentalismo na montagem e na fotografia e o movimento de câmera que dá a impressão de que os personagens estão flutuando enquanto encaram a lente. É o chamado “A Spike Lee Joint“, que pode ser traduzido como “Uma Parada de Spike Lee”.
A direção, aliás, é muito segura. Alguns experimentalismos estão ali para dar a sensação de um filme feito nos anos 70, com claras referências à exemplares do cinema blaxploitation,que servem para dar um charme a mais ao longa. Também chama a atenção o uso do humor no filme. Apesar de ter uma situação assustadora como mote, há piadas ácidas no filme que, ao invés de atrapalharem, consegue, mostrar o nível do absurdo da situação.
Enfim, Infiltrado na Klan não é apenas o melhor filme de Spike Lee na ultima década, mas um dos melhores do ano.