Gênios do Crime é um bom exemplar do subgênero
Assalto/crime é um subgênero que originou ótimas filmes, como O Grande Golpe, de Stanley Kubrick, Butch Cassidy, de George Roy Hill, Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, de Arthur Penn e Onze Homens e um Segredo, de Steven Sodenbergh (remake do clássico homônimo dos anos 1960, também excelente). Alguns baseados em fatos (Bonnie & Clyde, Butch Cassidy), outros em livros (O Grande Golpe), mas todos com elementos em comum: uma trupe de assaltantes, competente ou atrapalhada (dependendo do tom do filme), um plano infalível repleto de falhas – cujo funcionamento pode ter maior ou menor destaque, novamente, dependendo do estilo da produção – e muito, mais muito, dinheiro envolvido. A esta vertente, podemos acrescentar o novo Gênios do Crime (Masterminds, 2016), dirigido por Jared Hess, do divertido Napoleon Dynamite.
Relatando o caso real do roubo de 17 milhões de dólares de uma filial da transportadora norte-americana Loomis Fargo, o filme acompanha Dave Ghantt (Zach Galifianakis), segurança responsável pela chave do cofre, em sua jornada de fuga após um dos mais bem-sucedidos roubos da história daquele país. A motivação: o amor. Ghantt é apaixonado por Kelly Campbell (Kristen Wiig, do remake de Caça-Fantasmas), ex-empregada da empresa onde ocorreu o crime.
Esta, por sua vez, tem como amigo Steve Chambers (Owen Wilson), um bandido pé-de-chinelo que chefia uma quadrilha criminosa (composta pela própria esposa deste e outros bandidos ruins de serviço) que sugere a Kelly cometerem o crime. Como ela sabe da paixão de Ghantt, o manipula para que ele roube para Steve. Dave, insatisfeito com a vida que leva, ainda mais como noivo da estranhíssima Jandice (interpretada pela sempre ótima Kate McKinnon), aceita, com a condição de fugirem juntos, ele e Kelly, para o México.
A escolha do diretor pelo caricato, principalmente no figurino, causa uma estranheza quanto aos personagens, principalmente Ghantt (o gorducho Galifianakis interpreta um homem que, originalmente, é bem mais magro, mas não menos esquisito – ambos são portadores de um cabelo de fazer Chitãozinho e Xororó morrerem de inveja). A escolha é acertada e aproxima o público da realidade estética da década de 90 (quem não lembra das calças de cintura alta?).
Em momento algum Hess esconde que o filme se apropria de um evento real, mas que se trata de uma obra puramente farsesca, com o intuito de fazer rir. A forma como o ambiente foi recriado (repare na escolha de tema para festa feita pela esposa do assaltante Chambers, e nas roupas e trejeitos do assassino de aluguel interpretado por Jason Sudeikis, de Quero Matar Meu Chefe 2) ajuda na zoeira feita aos excessos da década.
Há também, uma crítica sutil ao sonho americano: o dinheiro do roubo é um sinônimo de independência financeira e social para Kelly e mais uma chance de se dar bem para Steve e os comparsas que, apesar de bandidos, vivem em condições precárias. A única motivação que em nada tem a ver com o dinheiro ou o sonho americano é a do próprio protagonista, que busca, no roubo, chamar a atenção de sua amada e prover a ela o que considera uma vida confortável.
Ficou devendo na trilha sonora
A trilha sonora de Gênios do Crime poderia ser recheada de clássicos da década, mas é completamente esquecível, em desencontro com o tom do filme (traçando um paralelo com os exemplos que citei, a trilha sonora de Onze Homens e um Segredo resgatou um clássico de Elvis Presley e a de Butch Cassidy possui o clássico Raindrops Keep Falling on My Head, de Burt Bacharach, música até hoje associada à película). A fotografia não tem novidades, mas é bem trabalhada nas cenas de fuga em movimento passadas no México.
A atuação de Galifianakis não tem grande diferença em comparação a do abobado Alan, de Se Beber Não Case ou com o inconveniente e ingênuo Ethan, de Um Parto de Viagem, mas, para o retrato de Dave Ghantt que o filme faz, o de um homem cuja coragem e motivação para cometer tal crime vem única e exclusivamente do amor, cai como uma luva.
Apesar de retratar um caso real, alguns fatos foram acrescidos ou alterados (incluindo um terceiro ato diferente do desfecho do evento verdadeiro, mas com o mesmo resultado), com o explícito intuito de fazer o espectador rir. E é exatamente no fazer rir do absurdo que Gênios do Crime tem sua melhor qualidade. Ao assistir ao filme sem muitas pretensões, você vai se divertir.