O filme Norman: Confie em Mim é simples, mas bem escrito
Norman: Confie em Mim (Norman: The Moderate Rise and Tragic Fall of a New York Fixer) poderia ser categorizado como mais um filme de vigaristas, mas existe algo que o impede de ser visto de tal maneira: a bondade e a ingenuidade do seu protagonista. É alguém da qual não sentimos raiva em momento algum, pois sabemos não haver segundas intenções em suas ações. Mas o longa segue muito bem a fórmula deste tipo específico de trama, valorizado por um humor muito rebuscado.
O personagem-título (Richard Gere) é um senhor que se diz um consultor, sem nunca especificar em qual área. Por conta do intermédio de seu sobrinho (Michael Sheen), Norman descobre que um jovem político israelense (Lior Ashkenazi), em plena ascensão, estará em Nova York. Nosso personagem principal vê essa como uma grande chance para a sua carreira: ter um “cliente” no meio da tumultuada política de Israel. Três anos após o primeiro contato com o político, este se torna o Primeiro Ministro de Israel e tem grande consideração por Norman, mas essa amizade tem custos. Ao mesmo tempo que dará notoriedade ao veterano consultor, será o começo de sua queda.
O longa tem quatro atos que vão desde a ascensão a queda de Norman. Em geral, o roteiro do diretor Joseph Cedar se mostra muito coeso e coerente dentro deste universo. Por mais que possa ser verborrágico, os diálogos são muito bem escritos, graças à sua ambiguidade. Principalmente no discurso do protagonista, que é o clássico cara-de-pau, sempre usando o argumento de ser amigo de um amigo de um primo da pessoa. Por mais que utilize essa situação de anedota, sentimos que há uma vontade genuína de usar o recurso para ajudar essas pessoas. Vemos que Norman não é alguém ruim e que seu único objetivo é apenas o reconhecimento em seu trabalho.
A maneira como as fontes vão se juntando, e como o personagem vai enrolando os outros para que consiga os seus contatos, é muito curiosa. Parece que estamos vendo uma rede de corrupção sendo criada, já que sempre há uma condição quando Norman diz que vai encontrar uma pessoa influente que pode ajudar outra. Lembra aqueles filmes de golpes, onde vemos como as peças vão se encaixando e como a fachada do protagonista é aos poucos descoberta. A impressão é que ele não tem família, casa ou mesmo um escritório para conduzir os seus negócios. É um personagem muito interessante e um bom protagonista.
Aceitando a idade e as limitações
Em um elenco com nomes como Charlote Gainsbourg (de Incompreendida), Michael Sheen (de Passageiros), Dan Stevens ( de A Bela e a Fera) e Steve Buscemi (voz em O Poderoso Chefinho), o limitado – e muitas vezes, canastrão – Richard Gere aguenta segurar o filme? Sim. O primeiro ponto que merece destaque no trabalho de Gere é que esse personagem é diferente dos outros de sua carreira, na maioria das vezes, canalhas inescrupulosos, como visto em Chicago (2002).
Como já dito, é o completo oposto visto no filme Norman. Vemos o ator realmente assumindo a terceira idade, pois o protagonista é visto e tratado como um senhor, que consegue transmitir bondade e ingenuidade através do olhar. É um trabalhos mais interessantes de sua longa carreira. Com os outros atores saindo-se bem, quem se destaca é Lior Ashkenazi, que mostra uma ótima química com Gere e compõe um personagem que consegue ser tão ingênuo quanto Norman, com muita delicadeza.
A condução de Joseph Cedar é correta. O diretor mostra pleno controle narrativo do filme, acertando principalmente no tom. O longa é leve até nos momentos mais pesados e, quando esses chegam, percebemos que há um desenvolvimento dramático e como o tom vai mudando pouco a pouco. Como o diálogo é o elemento mais importante do longa, o cineasta faz um trabalho sutil durante toda a projeção. A montagem e o trabalho de som merecem destaques por deixar a trama bem simples de ser entendida.
Enfim, Norman: Confie em Mim é um longa simples e divertido. Tem um texto muito eficiente e um bom trabalho de Richard Gere, que mostra que não o famoso “cara de pau” não é exclusividade brasileira…