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Logan – Eis o Filme Definitivo do Wolverine!

O filme Logan faz jus ao personagem e é uma despedida digna

Há 17 anos, em uma das cenas mais celebradas de X-Men: O Filme, a jovem Vampira (Anna Paquin) entra em um local onde acontecem lutas ilegais. Ela avista um dos lutadores – um sujeito sombrio, fumando charuto e com um cabelo característico. O lutador em questão era Hugh Jackman – na época um ilustre desconhecido – interpretando um dos personagens mais icônicos da Marvel: Wolverine. Os trejeitos do ator deram autenticidade ao papel, a ponto de dizermos que havia no cinema o “Wolverine do Hugh Jackman” e não apenas uma adaptação do personagem.

(Logan foi comentado no Formiga na Cabine. Leia também nossas críticas de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido e X-Men: Apocalipse)

O filme Logan entrega o Wolverine que os fãs sempre sonharam

Logan

Muito da atuação de Jackman se baseava em compor uma criatura selvagem (não por acaso, ele fareja e rosna), mas com humanidade um tanto perdida em seu olhar, o que criava o interesse sobre seu passado. Como o personagem já tinha fama e essa versão cinematográfica agradou, era inevitável um filme solo. Depois do péssimo X-Men Origens: Wolverine e o divertido, porém irregular, Wolverine: Imortal, chega Logan, a terceira aventura solo, que é a mais digna e a que melhor explora Wolverine.

O filme Logan se passa em 2029, em um mundo em que os mutantes estão praticamente extintos. Nosso herói está trabalhando como chofer de limusine perto da fronteira entre Estados Unidos e México, economizando para comprar um barco e viver em paz com Charles Xavier (Patrick Stewart). Infelizmente, o mentor dos X-Men está fraco, desiludido e seu poder telepático se tornou uma ameaça à humanidade.

Pensando que seria mais um dia de trabalho comum, Logan recebe a missão de uma enfermeira mexicana para levar Laura Kinney (Dafne Keen), uma menina de 12 anos, até o Canadá. O que parecia uma missão normal se torna uma feroz caçada, já que ela se mostra uma mutante criada em laboratório e com os mesmos poderes de Logan: as garras, o fator de cura e o instinto animal. O herói não tem escolha, a não ser levar a criança para seu objetivo e redescobrir seus valores.

Primeiro ponto que deve ser dito sobre Logan: não é um filme de super heróis, mas um estudo de personagens. O roteiro de Michael Green, Scott Frank e do diretor James Mangold, não está preocupado em criar ação atrás de ação, mas em explorar o relacionamento entre os personagens. E esses não são como os que haviam sido apresentados nos outros filmes. O protagonista não é mais o herói corajoso e destemido que vimos na franquia X-Men. Ao contrário. É um Logan velho, cansado, desacreditado, fora de forma, egoísta, fumante e alcoólatra. Como é alguém que sofreu demais na vida, não encontra muito propósito para viver, tanto que um suicídio lhe vem à cabeça várias vezes. Se o protagonista se mostra tão triste, o que dizer do professor Xavier?

O filme Logan entrega o Wolverine que os fãs sempre sonharam

Heróis fragilizados!

Antes uma figura forte, com um discurso veemente e uma incrível ideologia de igualdade, mas, em Logan, o professor se tornou depressivo. Até o seu tom de voz se mostra frágil. O texto faz o espectador compreender a situação do personagem, já que alguém com tais objetivos tornar-se uma ameaça à humanidade, ainda mais por perder o controle dos poderes é uma justificativa palpável. Mais sólida ainda se lembrarmos que sua responsabilidade era treinar jovens mutantes. Mas a presença da jovem Laura faz os dois homens lembrarem um pouco dos tempos de outrora e pelo que eles lutavam, ao mesmo tempo que recordam do que isso custou a cada um deles. Isso também evidencia o grande amor e respeito mútuo, pois só tem um ao outro.

Laura se mostra tão selvagem quanto Logan no primeiro filme da franquia. Sempre utilizando sua selvageria para evitar qualquer tipo de relacionamento (como o protagonista, foi criada para ser uma arma de guerra), ela vai se afeiçoando aos poucos com outras pessoas, principalmente com Wolverine, criando uma relação paternal. Esses relacionamentos criados e o nível de profundidade dos personagens fazem com que Logan seja diferente de outros filmes de heróis. Realmente, um novo passo foi dado.

Mas é claro que existem outras conveniências do gênero, como os vilões, aliás, bem interessantes. O capanga vivido por Boyd Holbrook se mostra ameaçador desde o começo do filme. Evitando frases de efeitos, vemos em ação como ele não tem limites e demonstra um grande sadismo ao realizar torturas. Por sua vez, o grande vilão, um cientista vivido por Richard E. Grant, mostra ter uma visão de mundo onde os mutantes não tem mais capacidade de escolher, como os que fizeram parte do projeto Arma X, que criou Wolverine: sua razão de ser é obedecer ordens.

Se tudo até esse ponto foi só elogios ao roteiro, infelizmente, há um problema entre o final do segundo e o começo do terceiro ato. Parece que é impossível fazer um filme do Wolverine sem que haja algum problema (que poderia facilmente ser evitado). Não chega a ser um deslize que quase compromete o filme, como o Samurai de Prata em Imortal, mas incomoda por ser um elemento preguiçoso e que não adiciona em nada à trama. Aliás, o ritmo do filme cai consideravelmente no terceiro ato. Repito: não chega a comprometer, mas atrapalha o que estava excelente. É um dos poucos defeitos no roteiro de Logan, assim como o vídeo secreto feito por um personagem, tão bem montado e dirigido que poderia se inscrever em qualquer festival de vídeo amador.

O filme Logan entrega o Wolverine que os fãs sempre sonharam

Vilões bacanas!

Garras, violência e sangue: o sonho de qualquer fã

Desde o primeiro filme, todo fã de X-Men tem o desejo ver uma aventura realmente violenta do Wolverine. Afinal, ele tem garras feitas por um metal indestrutível e é tão selvagem quanto um animal. Todos pensam no que realmente aconteceria se uma pessoa normal fosse atingida por um golpe dado pelo personagem. Logan entrega isso aos fãs, de maneira mais que satisfatória. Na primeira cena do filme, já é demonstrado como James Mangold aproveitou a classificação etária que o filme conseguiu (18 anos, uma polêmica que comentamos).O primeiro dialogo é um “fuck” dito pelo protagonista e, ao se livrar de um grupo de assaltantes, já mostra o que um golpe com uma garra de adamantium pode fazer em uma pessoa comum: digamos que amputação de membros é uma das consequências.

Mas é importante pontuar que, mesmo o filme sendo bem violento, não é feito de maneira gratuita. Todas as ações com violência e mortes que ocorrem durante a projeção tem uma consequência na cena seguinte. Desde os golpes que Logan recebe até alguma vítima de sua selvageria, o que demonstra um amadurecimento de James Mangold. Seria muito mais fácil conseguir uma classificação indicativa mais alta e encher o filme com palavrões e violência. Há tais cenas, mas existe um objetivo.

Já que Mangold foi citado, vale mencionar como a sua direção é segura. Mesmo o longa não sendo visualmente muito interessante, o diretor mostra uma excelente noção de ritmo. Conhecido como um diretor sem voz autoral, em compensação, ele é incrivelmente eclético. Johnny & June, Os Indomáveis e Garota Interrompida são exemplos de ele consegue se adaptar ao material que tem. Em Imortal já havia demonstrado que entendia bem o personagem e que sabia comandar sequências de ação. As sequências de ação de Logan são muito eficientes, por ele não disfarçar e conduzir as cenas as cenas de forma elegante. A câmera fica estática por boa parte do tempo e ele realmente mostra o resultado da violência, principalmente das sequências com Laura. Um trabalho que, mesmo não sendo brilhante, é muito eficiente.

O filme Logan entrega o Wolverine que os fãs sempre sonharam

A menina rouba a cena!

As atuações estão excelentes. Se Hugh Jackman e Patrick Stewart já sabem de cor como interpretar, respectivamente, Wolverine e Charles Xavier, em Logan eles vão aos seus limites, por conta da proposta do longa. Como já foi descrito nos perfis de cada personagem, as caracterizações dadas pelos atores os deixam mais sofridos. Só notar os cuidados nas caracterizações, como a expressão de Jackman triste e cansada durante toda a parte do longa, além dos detalhes físicos: como as mãos sempre tremendo; a perna manca; a tosse que vem a todo momento, etc.. Detalhes que deixam esse trabalho de Jackman como a sua interpretação mais completa na franquia.

O veterano Patrick Stewart cria um Xavier oposto ao que foi visto em outros filmes com ele, deixando-o frágil em todos os momentos do filme. Mais um grande trabalho desse ator excepcional. E a jovem Dafne Keen merece muito destaque, ao compor Laura com os seguintes elementos: ferocidade, curiosidade e infantilidade. Por mais que Laura seja uma arma viva e sempre pronta para atacar, a atriz mostra como ela está se adaptando ao mundo real e que ainda é uma criança descobrindo seus sentimentos. A menina consegue criar um olhar tão expressivo e intenso, passando todo o conflito interno da personagem. Mais uma jovem profissional para ficar de olho.

Logan é o filme que todos queriam do Wolverine, além de ter elementos que o diferenciam de outras produções de super-herói. Que haja mais iniciativas no cinema como essa.  Hugh Jackman diz que é o seu último filme como o personagem. Que realmente seja, pois, depois dessa aventura, seria bom a Fox deixar Wolverine descansar por um tempo para ele encontrar o que ele sempre procurou: paz. Mas, como em Hollywood o dinheiro fala mais alto, vamos ver por quanto tempo esse será o “último” filme com ele. Por mim, sem problemas se for mesmo.

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