Um recorte da trajetória de Churchill
Churchill (idem), do diretor Jonathan Teplitzky, segue mais uma daquelas ondas do cinema/audiovisual, que pega um assunto, no caso, o papel britânico na Segunda Guerra Mundial, e o destrincha em vários produtos. Já tivemos uma amostra disso com The Crown (série da Netflix), Durkirk (de Christopher Nolan) e agora teremos mais dois filmes, ambos focados numa figura icônica do período, o Primeiro Ministro da Inglaterra, Winston Churchill.
Escrito por Alex von Tunzelmann, Churchill é a jornada de um velho homem acostumado a ser “O” grande líder de sua nação e sua difícil missão de confiar a vida de duzentos mil soldados aos novos homens que decidem a guerra. Essa passagem de bastão é algo difícil e doloroso, pois, além de seus fantasmas de outras batalhas, ele enfrenta uma gradativa perda de comando aos olhos daqueles que antes o viam como um líder infalível.
Brian Cox (visto recentemente no terror A Autópsia) recebeu a missão de protagonizar o filme que trata de um período de 4 dias que antecedem ao Dia D, o famoso marco da invasão da Normandia. Cox é o nome mais conhecido do elenco, que ainda conta com Miranda Richardson (Harry Potter e o Cálice de Fogo), John Slattery (da série Mad Men) e James Purefoy (das séries Roma e The Following).
Os problemas e as virtudes de Churchill
Aqui começam os problemas da obra. Cox é um grande ator, mas tem um “ápice” de atuação limitado. Falta-lhe o “Punch” de Gary Oldman, que também encarnará o Primeiro Ministro em O Destino de uma Nação (Darkest Hour, de Joe Wright), a ser lançado em breve e enfocando o início do conflito, ou o charme que John Lithgow desfila na série da Netflix.
Isso, combinado ao roteiro extremamente formulaico, acaba fazendo com que o filme seja mais um que não se destaca, apesar de todo o primor técnico. O protagonista não consegue gerar empatia em momento algum, pois seus erros são sempre causados por uma soberba mal apresentada e suas atitudes são desconectada de suas fragilidades. Isso faz com que não nos importemos com o destino dele, já que o seu drama pessoal não atrai e não gera conexão.
Uma cena, particularmente, onde Churchill ora em seu quarto, me pareceu desnecessária e teatralizada demais. Não combinou com o filme e não convence pela interpretação de Cox. Muitas vezes o protagonista é até ofuscado por Miranda Richardson, que interpreta a esposa do político, a lendária Clementine Churchill.
Apesar disso, o filme faz uma escolha interessante. É um filme de guerra SEM BATALHAS. O conflito se torna um fantasma que vive rondando toda a cúpula principal, mas não é apresentado. As opções foram tomadas para amplificar a batalha interna e a jornada de transformação do velho líder. Teria funcionado com uma direção mais gabaritada ou, talvez, menos “quadrada”. Com 105 minutos de duração, o filme tem um bom ritmo e uma montagem invisível e funcional. A fotografia é bastante técnica, bem executada e a trilha tenta trazer emoção mas ambas ficam no padrão mediano.
Por todos esses fatores Churchill, o filme, perdeu a chance de ser épico. Mesmo assim, deve agradar aos que querem apenas ver um filme de jornada sobre um homem que precisa vencer uma batalha maior que a Segunda Guerra: a do próprio ego.