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Argentina – Os ritmos do país sul-americano!

Argentina e a sua cultura musical

Dando seguimento ao lançamento de obras dedicadas à celebração da cultura musical de determinadas regiões do globo (e que conta com o filme Fados, que tem a presença dos brasileiros Toni Garrido, Caetano Veloso e Chico Buarque), o genial Carlos Saura presenteia o público mais uma vez com o seu último esforço, o filme Argentina (Zonda: Folclore Argentino). E, assim como os outros longas que têm uma estrutura muito parecida, sua nova obra é mais um daqueles projetos peculiares que criam alguns problemas para um crítico de Cinema na hora de analisar e escrever um texto interpretativo sobre ela.

O filme Argentina, de Carlos Saura, é uma celebração dos ritmos regionais dos nossos vizinhos.

O filme Argentina é uma celebração dos ritmos regionais dos nossos vizinhos.

Pois, ao mesmo tempo que tem os elementos característicos de uma obra cinematográfica, às vezes, parece ser anti cinema (não se encaixa completamente no formato documental e não possui uma narrativa com a qual estejamos familiarizados dentro da Sétima Arte – com a exceção dos lançamentos anteriores do próprio Saura). Por um lado, há breves histórias contidas em cada uma das letras, os músicos funcionam como verdadeiros intérpretes, a câmera se movimenta dramaticamente de acordo com a preponderância momentânea de um verso ou instrumento, o figurino e o design de produção refletem as características de uma uma determinada canção e a fotografia saturada capta toda vibração das cores e dos gestos – como em um filme -, mas, em contrapartida, não há uma narrativa propriamente dita.

No entanto, mesmo sendo difícil de catalogar ou buscar um ponto de apoio para tentar analisar objetivamente, ainda assim, o filme possui elementos que são fáceis de serem destacados, como, por exemplo, o conteúdo educacional na comovente homenagem feita a Mercedes Sosa (no número, há várias crianças vestindo roupas brancas – um símbolo de pureza – e aprendendo música na escola) e os aspectos estéticos que dizem muito sobre a intenção poética das letras (em uma canção que fala sobre sombras, há uma luz recriando a aurora), envolvem diferentes tipos de mídia (há instalações de vídeo nos cenários) e indicam um controle completo de Saura sobre o material (ao contrário de Damien Chazelle em La La Land – Cantando Estações, o cineasta espanhol compõe movimentos de câmera comedidos e precisos na hora de filmar os números musicais)

O filme Argentina, de Carlos Saura, é uma celebração dos ritmos regionais dos nossos vizinhos.

Além disso, o diretor faz questão de mostrar ainda no início do filme os recursos cinematográficos usados para a criação da obra (ao mesmo tempo que se apropria da técnica para gerar emoção, ele revela ao público no que consiste essa técnica – algo parecido com o que Alfred Hitchcock fez em Um Corpo Que Cai – sobre o filme, acesse este artigo). Assim, nos primeiros minutos, vemos um armazém sento tomado por refletores posicionados no teto, uma grua que se movimenta como um personagem no espaço e um jogo de espelhos e reflexos (estes serão recorrentes ao longo da projeção). Como num ensaio antes de uma apresentação, somos introduzidos aos elementos que estarão à disposição dos artistas para gerar a nossa comoção.

Tudo isso é essencial para antecipar o sentimento de magia que se inicia quando eles sobem no palco, armados apenas com os seus corpos, vozes e instrumentos. Contendo canções que vão desde o flerte com a música clássica (o primeiro trecho musical é um exemplo disso) até o tribal e carnavalesco (os números com tambores refletem o primeiro e a dança ao redor da fogueira, o segundo), passando pelos seresteiros, trovadores e menestréis (a canção sobre o revolucionário popular é de partir o coração), o filme é uma viagem pela cultura de um país através de suas músicas e danças.

O filme Argentina, de Carlos Saura, é uma celebração dos ritmos regionais dos nossos vizinhos.

As irregularidades de Argentina

Entretanto, mesmo com toda essa riqueza musical e visual, Argentina é um filme que tropeça em certos instantes. Além de alguns ritmos musicais serem parecidos e não justificarem a sua presença (embora essa seja uma crítica totalmente subjetiva), em alguns momentos, percebe-se que Saura estava sem ideias novas para compor o visual de certos números. Evidentemente, ele se repete, comprometendo o ritmo da obra e o nosso envolvimento emocional com aquilo que está sendo executado. Exemplos disso são o jogo com as sombras e a presença de cores fortes, que, aos poucos, começam a perder o efeito e cansar o espectador.

Mas, felizmente, esses percalços não são suficientes para comprometer o todo. Na maior parte do tempo, o filme Argentina é um projeto comovente e com um refinado senso de espetáculo e emoção. Mais uma vez, Carlos Saura nos entrega não só uma celebração à música e às diferentes culturas, mas uma ode à vida e suas diferentes e ricas manifestações.

(Para os interessados em conhecer um pouco mais sobre cineastas espanhóis, peço que também prestem atenção em Albert Serra, o diretor do recente A Morte De Luís XIV )

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