Diamantino até tem boas ideias, mas peca pelo excesso
Fazer uma paródia é uma missão complicada. Além da qualidade das piadas – e fazer comédia é muito difícil -, o humor tem que ser pontual para que, no fim, o espectador não fique anestesiado. E esse é o problema do longa Diamantino, dirigido pela dupla Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt. Ao criar um universo completamente absurdo, o filme deixa o espectador fica entediado ao chegar na sua metade.
O personagem-título, interpretado por Carloto Cotta, é um jogador de futebol considerado o melhor do mundo. Após perder um pênalti que daria a vitória da Copa do Mundo para a seleção de Portugal, sua família, que também gerencia sua carreira, decide submetê-lo a uma misteriosa experiência. Enquanto isso, o jogador está sendo investigado por lavagem de dinheiro e a agente especial Aisha (Cleo Tavares) decide se infiltrar na mansão de Diamantino usando um disfarce um tanto insólito: a de filho adotivo do jogador, um refugiado de Moçambique. Eu sei que é louco, amigo leitor.
Não há problema em ter uma sinopse absurda quando a produção é uma paródia. Basta lembrar das obras do grupo inglês Monty Python ou do trio Zaz. A questão em Diamantino é que o filme acha que está sendo eficiente, quando na verdade não consegue fugir dos clichês. Todas as piadas são óbvias e abordam temas em alta na Europa, como a questão dos refugiados, o crescimento da onda conservadora e o narcisismo dos jogadores de futebol. Tudo isso é salpicado dentro da trama, como se os diretores tivessem escolhidos os assuntos aleatoriamente, sem preocupação com a construção do roteiro.
Outro ponto negativo é o fato da dupla de diretores pesarem a mão na direção. Todo o elenco insiste em uma interpretação over e caricata, que não funciona na maioria das cenas. Na parte visual,o longa peca ao fazer uso de planos esquisitos ou muito plastificados, lembrando em alguns momentos um videoclipe brega. Um exemplo são as cenas onde aparecem os cachorros que o protagonista visualiza toda a vez que está em campo: é um efeito especial ruim que não tem uma proposta clara. Parece ser tosco apenas por ser…tosco.
Bobagem tem limite
Mas o que mais irrita no longa é o protagonista. Diamantino segue o clássico clichê do homem com mentalidade infantil, chegando ao nível de testar a paciência do espectador. Como não há uma evolução do personagem,seu jeito ingênuo de ver o mundo torna-se repetitivo. Mesmo Carloto Cotta tendo presença e carisma em cena, ele fica limitado a interpretar com cara de tapado durante o filme inteiro. Nada contra esse tipo de personagem, mas tem que haver algum tipo de mudança durante a jornada ou optar por um ator que torne a situação realmente divertido. É só lembrarmos de Jim Carrey e Jeff Daniels em Débi e Lóide – Dois Idiotas em Apuros que temos dois personagens que o próprio titulo salienta que são idiotas, mas que são adoráveis. É mais fácil perder a paciência com Diamantino do que criar empatia por ele.
Diamantino tinha potencial para ser uma boa paródia para os tempos de hoje, mas faltou cuidado aos diretores. E, no final, temos um filme sem pé nem cabeça, do qual saímos da sessão mais entediados que entretidos.