Cinebiografia Chacrinha: O Velho Guerreiro é rasa e caricata
Abelardo Barbosa, o Chacrinha, foi um dos apresentadores mais importantes da história da comunicação brasileira. Divertido, irreverente e carismático, ele conquistou todo o Brasil por conta das peculiaridades do seu programa de TV e de seus famosos bordões, principalmente “Alô, Therezinha!”. Era questão de tempo que uma figura como essa tivesse uma cinebiografia. E essa missão foi dada ao diretor Andrucha Waddington (Sob Pressão) e o resultado é Chacrinha: O Velho Guerreiro, mais um subproduto raso.
Quando jovem, o ator é interpretado por Eduardo Sterblitch. Já na maturidade, coube a Stepan Nercessian (Trash – A Esperança Vem do Lixo) dar vida à Chacrinha. O problema do filme é semelhante ao de outras tantas cinebiografias, como, por exemplo, 10 Segundos Para Vencer: abraçar o mundo e tentar mostrar toda a vida do biografado. Essa estratégia se mostra falha, já que, por conta da ambição vinda do roteiro de Claudio Paiva, o texto apresenta vários furos e personagens que, ou não são desenvolvidos, ou simplesmente esquecidos ao longo da história. Isso tudo é aliado à diálogos que, na teoria, são econômicos, mas que se mostram preguiçosos na tela.
Nota-se isso principalmente no relacionamento entre Chacrinha e sua esposa Florinda (Amanda Grimaldi/Carla Ribas). No primeiro encontro dos dois, há um pedido de casamento que vem do nada, seguido de um corte brusco onde, por meio de um diálogo, descobrirmos que o casal teve três filhos. Aliás, o filme é repleto desses problemas de montagem, dando a ideia de que haviam cenas a mais que foram deixadas para quando o filme for exibido no formato de série na televisão, algo comum em algumas produções da Globo Filmes.
Protagonista monotônico e caricato
Apesar de bem finalizado, há poucos propósitos narrativos no longa. A começar pela direção de Andrucha Waddington, que é extremamente burocrática. Ele se contenta em colocar a câmera no lugar mais seguro e escolher caminhos fáceis e poucos inventivos. O mesmo pode ser dito da fotografia, que é apenas bonita. Essa beleza está em forma de artificialidade, porque é limpa demais e não há momentos narrativos em que chame realmente a atenção. O melhor da parte técnica é o design de produção, que faz uma excepcional reconstituição de época e usa muito bem os figurinos e cenários para mostrar o interior dos personagens, principalmente do protagonista, que mostra-se uma pessoa solitária e amargurada por trás daqueles figurinos extravagantes.
Mais que um resumo da história do personagem, o longa é uma visão caricata e rasa do próprio Chacrinha. E o problema nem são as atuações de Sterblich e Nercessian. Parece que os realizadores estavam mais interessados no jovem radialista, que mostra personalidade forte, carisma e grande potencial. Já o velho Chacrinha se torna um personagem monotônico e desagradável, que em todas as cenas está ofendendo alguém e mais preocupado com o seu trabalho do que com sua família.
Como arco dramático, esse conflito pode funcionar por um ato, porém Waddington e Paiva decidem usar isso durante segunda metade inteira do filme. Como Chacrinha era um personagem de trejeitos únicos e expressivos, principalmente por conta da voz rouca e da dicção específica, Eduardo Sterblitch e Stepan Nercessian nunca soam como se fosse uma imitação mal feita do apresentador, pois usam os trejeitos de maneira natural e pontual.
Enfim, Chacrinha – O Velho Guerreiro não adiciona nada a imagem do icônico apresentador. Se o próprio estivesse vivo, buzinaria para os realizadores do seu filme, que fazem pouco da grande figura que ele foi.