Bruxarias é uma animação anacrônica
Hoje em dia, há um consenso sobre o alto valor artístico das animações norte americanas e também daquelas feitas em outros lugares do Mundo. Produções recentes, como O Poderoso Chefinho e Minha Vida de Abobrinha, estão aí para justificar a unanimidade. E um dos fatores responsáveis por esse sucesso é a perfeita junção entre um conteúdo que atinge as crianças e outro mais direcionado para o público adulto. Sendo assim, não é de se estranhar que a animação Bruxarias (Brujerías) seja recepcionado friamente, uma vez que a sua história é muito desinteressante para atrair tanto os pequenos quantos os grandões.
Com texto de Anxela Loureiro e direção de Virginia Curiá, o filme conta a história da jovem Malva, uma garota que busca ansiosamente por uma maneira de voar. No entanto, ela é obrigada a adiar o seu plano quando a avó, uma curandeira pertencente à ordem das bruxas, é sequestrada por uma organização que está interessada em uma de suas poções. Contando com a ajuda de dois amigos, a jovem terá de encontrar uma maneira de impedir que os objetivos malévolos dos sequestradores sejam atingidos.
Uma das coisas que mais chamam atenção em Bruxarias é o fato de que, mesmo tendo apenas 79 minutos de duração, a trama se arraste demasiadamente. Há vários momentos que poderiam ser eliminados da montagem final e a história continuaria tendo o mesmo efeito. Algumas cenas e conflitos são repetitivos e é perceptível que determinados momentos foram incluídos somente para aumentar a duração. Porém, é difícil negar que a grande culpada pelo fracasso da animação é mesmo a sua história.
Apesar de qualquer criança conseguir se relacionar com o drama da protagonista – afinal de contas, um dos maiores temores sentidos durante a infância é o de perder os pais ou avós -, a história não oferece atrativos além daqueles que podem ser conferidos num desses programas infantis da televisão paga. Basta assistir a um deles que a possibilidade de ver algo parecido ou até mesmo melhor que Bruxarias é grande. No filme, os traços não se destacam, a trama é ordinária, a maioria das piadas é ineficaz e os personagens não possuem nenhuma característica marcante (a insistência da diretora em colocar, repetidamente, três caracóis cantando é um claro sinal de desgaste intelectual).
Uma tortura para adultos que apreciam animação
E se para crianças o filme é entediante, ele o é ainda mais para os adultos. Não há uma única brincadeira ou comentário capaz de satisfazer uma inteligência mais desenvolvida. A mesma coisa vale para os possíveis momentos dramáticos. A história se desenrola de maneira muito superficial para que alguém mais velho possa sentir saudade ou nostalgia da infância. Já os elementos envolvendo bruxaria existem apenas para que coisas fantasiosas surjam na narrativa. As inúmeras possibilidades levantadas pelo tema são completamente ignoradas pelo texto de Anxela Loureiro.
Lançado no melhor momento histórico das animações cinematográficas, Bruxarias é um filme anacrônico, pois, além de faltar apelo para entreter crianças e adultos, sequer consegue contemplar um ou outro grupo isolado. É até possível que a intenção dos responsáveis fosse subverter a tendência atual e voltar a um patamar mais básico e direcionado ao público infantil. Se foi isso, ainda assim, o resultado ficou muito aquém da intenção.