A época de ouro de Hollywood. Os astros e estrelas do cinema com suas vidas conturbadas. Um sequestro misterioso. Uma conspiração comunista. Números musicais mirabolantes. No meio de tudo isso, um executivo em conflito existencial. Esses são os diversos e interessantes elementos que os irmãos Coen tem que equilibrar em seu novo e espetacular filme, Ave César! (Hail, Caesar!). Divertido, cínico, inteligente e surpreendentemente sentimental, é uma homenagem ao cinema e à era dos grandes estúdios pós-Segunda Guerra.
Na história, diversas tramas paralelas se ligam de uma certa forma pelo personagem Eddie Mannix (Josh Brolin), um executivo de um estúdio de Hollywood que tem que lidar com inúmeros problemas e virar-se de ponta-cabeça para garantir que as produções sigam em frente. Tudo isso enquanto tem que tomar uma grande decisão em sua vida profissional, passando por uma espécie de crise espiritual. Entre as loucuras pendentes estão o sequestro do astro da principal produção do estúdio, cuidar da vida pessoal e imagem de uma das estrelas, a mudança na carreira de um ator de faroeste para ator de drama, uma dupla de jornalistas em busca de um furo sensacionalista e assim por diante.
O filme discute de maneira esperta – engraçadíssima, por vezes – diversos temas, como religião, comunismo, cinema e ética profissional, brincando também com diferentes gêneros, como o suspense, comédia e musical, numa mistura que funciona de maneira eficiente e muito bem afinada. Ele contém cenas belíssimas que homenageiam os filmes produzidos naquela época, ao mesmo tempo em que mostra os bastidores muito menos mágicos e glamourosos das produções. Também há momentos bastante criativos de metalinguagem, que ligam a trama que assistimos aos filmes em produção na história.
Uma das poucas falhas – que pode até ser uma virtude, dependendo de como você enxerga – é que algumas subtramas e personagens secundários são pouco desenvolvidos. Fica claro que estão lá mais para enfatizar a jornada e desafios de Mannix, mas são tão interessantes e bem representados que gostaríamos de ver um pouco mais deles, nos deixando com um sabor de “quero mais”.
Além de mais uma excelente interpretação de Josh Brolin, o elenco estelar está ótimo, como era de se esperar. Sob a batuta de bons diretores e na pele de bons personagens, não poderia ser diferente e eles brilham, fazendo valer o pouco tempo de tela que alguns têm. Clooney está divertido como um astro meio bobalhão. Scarlett Johansson, linda e cativante como uma estrela desbocada. Ralph Fiennes está hilário como um diretor às voltas com um ator que não sabe atuar. Channing Tatum dá um show em seu número musical. A presença habitual Frances McDormand e até o sumido Christopher Lambert fazem pontas bastante divertidas e por aí vai.
No fim das contas, Ave, César! é mais um belo trabalho dos irmãos Coen. Talvez mais leve que o habitual, mas, ainda com o bom humor inteligente e sagaz que lhes é peculiar, consegue debater e entreter, criticar e homenagear com a mesma eficácia. No fundo, além de uma ode aos filmes e à sétima arte em si, é acima de tudo uma ode ao ofício de se fazer cinema, que, ao contrário do que muitos pensam, é extremamente difícil e trabalhoso. Porém, como atestam os irmãos Coen e essa nova obra, é na mesma medida importante e recompensador.