Arranha-Céu: Coragem Sem Limites é mais uma bobagem divertida da carreira de Dwayne Johson
Caro leitor, vamos ser sinceros: o que você espera de Arranha-Céu: Coragem Sem Limites (Skyscraper, 2018)? Um drama profundo? Um estudo de personagem? Não, né? Pois bem, assim como em Rampage – Destruição Total, o novo longa estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson é uma aventura cuja palavra-chave para entender toda a proposta da história é essa: estupidez. Mas isso não é ruim – pois, assim como a luta do astro com os monstros gigantes, essa nova aventura se mostra uma boa diversão descomprometida.
Will Sawyer (Dwayne Johnson) é um ex-agente do FBI que, após uma operação de resgate malsucedida – que custou uma de suas pernas – se casou com a médica Sarah (Neve Campbell) e se tornou um especialista em segurança de arranha-céus. O seu novo e mais difícil trabalho é o colossal prédio Pérola, que tem 220 andares, desenvolvido pelo poderoso empresário Zhao (Chin Han). Tudo no arranha-céu funciona perfeitamente, até que – pra variar – terroristas conseguem invadir e provocar um incêndio no local. Cabe a Will salvar o dia, retirando a sua família do prédio e descobrir a verdadeira identidade dos terroristas.
Quem tem qualquer conhecimento os filmes brucutus da década de oitenta e noventa sabe exatamente o que vai acontecer aqui: frases de efeitos, situações que extrapolam a física e personagens servindo como arquétipos dos mais rasteiros. Apesar de, por vezes, se levar demasiadamente a sério, o roteiro assinado pelo diretor Rawson Marshall Tumber ao menos abraça esses clichês, remetendo aos clássicos de ação oitentistas e noventistas sobre desastres e situações limítrofes, à lá Daylight estrelado por Sylvester Stallone.
E porque os personagens são arquétipos, vemos os atores ligados no automático. Há o vilão (Roland Moller) e seus capangas (Noah Taylor e a jovem Hannah Quinlinvan); o policial teimoso (Byron Mann); e os filhos indefesos do casal de heróis (os péssimos McKenna Roberts e Noah Katrell). Já a esposa vivida por Neve Campbell se mostra longe de ser uma moça indefesa, já que sabe se proteger e tem treinamento em enfermagem, além de ser fluente em vários idiomas. Pacote completo. E os cinéfilos de longa data vão perceber que ainda há resquícios da personalidade da heroína da franquia Pânico em Campbell – só que menos protagonista tonta, e mais badass.
E, por fim, temos Dwayne Johnson, que assume o pódio de “herói venoso de ação” dessa geração – com merecimento. Além da presença forte, Johnson conhece e assume suas limitações dramáticas – e usa como pode o seu magnético carisma, tentando criar – dentro dessas limitações – um tipo diferente. Se em Rampage ele era o engraçadinho corajoso, no início de Arranha-Céu vemos Will como uma pessoa ainda traumatizada pelos eventos pregressos, mostrando certa insegurança no trabalho e o amor explícito pela sua família.
Mas isso acaba sendo esquecido nas cenas de ação, nas quais vemos “Dwayne” morfando em “The Rock”: ele escala um guindaste – sem usar uma escada – até o 96º andar do prédio; ele se cura de uma ferida no ombro usando Smirnoff e silver tape, até que, na cena seguinte, ele segura dois cabos de aço para que uma das pontas não caia; e não faz diferença alguma o fato dele não ter uma perna, porque ele é The Rock, e 25% de membros a menos são apenas um detalhe para ele.
O mesmo problema de sempre: muito CGI
Mesmo com tudo levando a crer que a peça é apenas mais um guilty pleasure, Rawson Marshall Tumber até cria situações que conseguem deixar o espectador tenso, mostrando um cuidado na criação da situação e do tempo que o herói tem para solucionar os desafios apresentados. Sendo assim, qual o problema?
O problema é que qualquer tentativa na criação de tensão morre porque vemos Johnson correndo contra chama claramente digitais, em um prédio digital localizado em uma cidade digital. Como chegamos a mencionar também na crítica de Tomb Raider, isso destrói qualquer possibilidade de sensação de perigo, porque o espectador percebe que esses elementos artificiais não reagem apropriadamente às ações dos atores.
Entre outros problemas, a trilha de Steve Jablonski se mostra muito intrusiva e monocórdica; assim como, na fotografia, um trabalho não muito inspirado de Robert Elswitt, que é colaborador de Paul Thomas Anderson. Não que seja um trabalho ruim ou mal-feito, mas em nada se assemelha ao trabalho do cara talentoso que fotografou Sangue Negro, O Abutre e Boa Noite, Boa Sorte. Absolutamente genérico e comum. Uma pena desperdiçar um artista desse nível.
Esse é Arranha-Céu: Coragem Sem Limites: um filme de ação absurdo, mas que vai divertir quem busca algo descomprometido e com ares saudosistas dos 80 e 90. Sei que Dwayne Johnson está em Velozes e Furiosos, mas será que não da para Stallone chamá-lo para o próximo Os Mercenários? Porque ele já merece uma vaga na equipe.