1990, ano de lançamento de Os Bons Companheiros, filme que se tornou referência para tantos outros que trazem a máfia como tema. Aliança do Crime (Black Mass) é uma prova de sua influência, já que bebe diretamente do filme de Scorsese, criando até mesmo uma cena muito parecida com aquela em que Joe Pesci ameaça seus colegas no restaurante. O filme conta a história de James “Whitey” Bulger (Johnny Depp), um dos mafiosos mais poderosos dos Estados Unidos, irmão de um importante senador (Benedict Cumberbatch), que com a ajuda do agente do FBI John Connolly (Joel Edgerton), seu amigo de infância, passa a ser delator de outras famílias mafiosas, assim ganhando cada vez mais poder.
Dirigido por Scott Cooper (dos ótimos Coração Louco e Tudo por Justiça, respectivamente de 2009 e 2013), Aliança do Crime tem como grande trunfo seu excelente elenco. Depois de diversas frustrações seguidas, Johnny Depp finalmente emplaca uma atuação de respeito, criando um personagem que traz muito do Tommy DeVito de Joe Pesci. Depp destaca-se do resto do elenco por trazer uma característica única entre os personagens: a ameaça. Obviamente, além dos protagonistas, o restante não fica atrás em termos de atuação, contando com Dakota Johnson, Kevin Bacon, Jesse Plemons, Peter Sarsgaard, Corey Stoll e por aí vai… Todos extremamente competentes, porém nem sempre relevantes e com alguma função na trama. Um ponto que deve ser ressaltado, nessa questão de roteiro, é o fato termos sempre um personagem narrando a história, mas nem sempre o mesmo está em cena, gerando uma certa incoerência narrativa na trama.
Problemas de roteiro à parte, devemos analisar a direção de Cooper, e ele nos mostra mais uma vez que é um nome em ascensão. Extremamente hábil para lidar com todos os aspéctos técnicos, o diretor faz uso de artifícios interessantes para que a narrativa seja desenvolvida com fluidez e que o espectador mergulhe de cabeça na história; com a câmera, por exemplo, ele dispensa firulas e faz o básico de forma muito eficiente: Planos fechados quando temos os personagens dentro de um carro ou quando a tensão precisa ser ressaltada, planos de localização para que saibamos onde a cena está se passando, fazendo com que a cidade de Boston seja retratada até mesmo como um personagem.
Tudo isso, aliado a outros aspectos, como o som que traz uma trilha eficiente,que em cenas de tensão aumenta gradativamente e é cortada de forma brusca, levando insegurança ao espectador sobre qual atitude será tomada por Bulger e ressaltando sua brutalidade. Uma fotografia amarelada, que por diversas vezes faz alusão à de Donnie Brasco (onde Depp também é protagonista), e uma direção de arte impecável, desde objetos de cena até a penteados contemporâneos à trama.
Aliança do Crime não é original, mas traz consigo ótimas referências, a consolidação de Scott Cooper como um diretor de grande talento e a aparente volta por cima de um ator que demonstrava muito potencial quando jovem, mas que rapidamente acomodou-se, chegando perto de tornar-se mais um daqueles que são lembrados sempre pelo mesmo tipo de papel. Um filme que – com certeza – deve ser apreciado, principalmente por aqueles que tem obras envolvendo máfia entre seus favoritos.