A Voz do Silêncio se mostra um exercício de estilo eficiente
Um dos exercícios mais fascinantes para qualquer roteirista é o multiplot, que consiste em contar várias histórias ao mesmo tempo. É preciso ter total controle sobre o que está acontecendo e qual o objetivo da história para que o filme não vire uma experiência enfadonha. Felizmente, A Voz do Silêncio, do diretor e roteirista André Ristum, é muito claro quanto a sua proposta.
O longa se passa em São Paulo e apresenta nove personagens, de idades e nacionalidades diferentes, mas que tem em comum a solidão. O primeiro ponto a ser destacado no longa são as atuações. Os atores mostram uma grande sintonia e compreensão dos seus personagens. O elenco é diverso e conta com nomes como da maravilhosa Marieta Severo, Claudio Jaborandy, Augusto Madeira e Marat Descartes, além de atores menos conhecidos com destaque para a jovem Stephanie de Jongh, uma atriz muito disciplinada e que merece ser acompanhada.
(Confira as críticas de outros filmes nacionais: Chacrinha: O Velho Guerreiro e O Segredo de Davi)
Na parte técnica, A Voz do Silêncio é eficiente em suas propostas, principalmente no design de produção e na fotografia, que enfatizam como a capital paulista é fria e tristonha. É um filme em que a história é mais importante que a execução em si. É um longa em que o menos é mais. E nisso o trabalho de Ristum é bastante consistente, tanto no roteiro quanto na direção.
Gramática visual
O trabalho de decupagem e mise-en-scène pode parecer simples, mas diz muito sobre os personagens.A câmera está sempre distante, o que mostra uma gramática visual que foi bem trabalhada e dotada de conceito.
O roteiro é o mais fascinante do longa,pela riqueza dos personagens e as situações verossímeis nas quais eles se encontram. Isso aumenta a empatia do espectador, assim como a ligação entre as histórias. As informações aparecem no momento certo e aumentam a riqueza da trama.
A Voz do Silêncio é mais um filme que trabalha bem a ideia da perdição na grande selva de pedra.