A Morte de Stalin não passa de uma comédia idiota
Josef Stalin ficou conhecido por sua cruel ditadura na então União Soviética, até a sua morte por hemorragia cerebral em março de 1953. Com o falecimento do ditador, houve uma disputa de poder entre Lavrenti Beria e Nikita Khrushchev. Contexto interessante, não? Pois é! Quando se decide fazer um filme sobre um evento dessa magnitude, é preciso ter em mente a importância dos fatos. No entanto, A Morte de Stalin (The Death of Stalin) é uma comédia – o que não é acidental – completamente equivocada e boba.
O longa mostra os dias de luto após da morte do ditador (Adrian McLoughlin) e a consequente briga entre Nikita – ou Nikky (Steve Buscemi, de Norman: Confie em Mim) – e Beria (Simon Russel Beale, de A Lenda de Tarzan), disputando para manipular o então sucessor de Stalin, Georgy Malenkov (Jeffrey Tambor) e conseguir a posição máxima no poder.
O grande problema do longa está na forma com que trata o assunto. Se nos primeiros quinze minutos ele cria uma atmosfera tensa, mostrando todo o clima de medo por conta do abuso de poder e da paranoia de Stalin, a partir da sua morte tudo vira piada. Baseado em uma HQ homônima, o roteiro assinado pelo diretor Armando Iannucci, junto com David Schneider, Ian Martin e Peter Fellows (quatro roteiristas já é um mau sinal) se perde em meio à piadas que se acham inteligentes, mas no fim se mostram ingênuas e bobas. Um exemplo é a cena em que encontram o corpo do ditador, quando o diálogo é mais ou menos assim: “Deveríamos chamar um médico, não? Mas todos os bons estão presos. Então chamamos um menos bom. Não podemos, pois ele não gostaria que fosse examinado por um médico menos bom”.
Todo o contexto político, histórico e social envolvido foi reduzido a piadas que lembram Chaves e Chapolin, o que evidencia que falta sensibilidade dos realizadores. O problema não é fazer comédia sobre uma situação como essa, desde que se mostre um mínimo de inteligência no texto. Até existem bons momentos cômicos em A Morte de Stalin, mas perdem a graça em questão de segundos, quando o espectador lembra do contexto e do que eles estão falando.
Aliás, um dos maiores erros do roteiro está na superficialidade de seus personagens. Exemplo: com duas exceções, todos os membros do gabinete de Stalin são representados como completos idiotas. Não no sentido de comprar as ideias loucas do “líder”, mas por serem pessoas tapadas e avoadas, que parecem que parecem não saber o que está acontecendo. Um caso que ilustra bem essa queixa é o personagem interpretado pelo ex-Monty Python Michael Palin. Mesmo sabendo que estava na famosa lista de execuções do exército, não sabe para onde ir, perdoando Stalin por ordenar sua morte de uma hora para outra. Krushchev e Beria são os únicos inteligentes e articuladores, manipulando as pessoas certas, etc. Mas colocar os dois em um ambiente onde todos tem um QI mais baixo que Forrest Gump facilita as coisas.
Visualmente o filme não chama a atenção, se mostrando apenas correto. Apesar da reconstituição de época ser muito bem feita, principalmente nos figurinos, ela não tem nada que se destaca. A direção de Armando Ianucci se mostra irregular, sem saber transitar entre a comédia e o drama, como já foi possível perceber. Não cria planos interessantes, tanto do ponto vista narrativo, quanto do estético, mas faz um bom trabalho do elenco.
Atores em sintonia
A maior qualidade do longa está no trabalho de elenco. São atores excelentes com um excelente timing cômico, além de uma excelente química. Steve Buscemi, Jeffrey Tambor e Michael Palin – além de uma ótima participação de Jason Isaacs como um militar – são nomes que dispensam apresentações e fazem jus à fama. O problema é o texto, algo que eles não teriam como salvar. Principalmente Tambor, que fica repetitivo depois de um tempo.
Steve Buscemi se mostra o mais bem sucedido, pois, por conta do seu rosto característico, consegue fazer a transição do drama para a comédia de maneira natural. Também consegue passar a sensação do drama interno, porque mesmo que Khrushchev saiba o quanto Stalin maltratou o seu povo e sendo contra a sua política, ele percebe pouco a pouco que terá de usar métodos sujos para conseguir o poder. O rosto expressivo e o tom de voz do ator se intensificam conforme avança a narrativa.
Com mais defeitos do que qualidades, não há mais nada a dizer quanto A Morte de Stalin, a não ser: Chaves faz melhor.