Nossas mamães já roteirizaram, incansavelmente, esse e outros contos de fadas para nos fazer dormir quando éramos pequenos. As mamães de hoje também o farão, mas com a adição de Shrek e companhia. Então como fazer um filme de uma história batida não ser mais uma adaptação apenas?
Responder essa pergunta coube à Disney (Surpresos??), com Cinderela, comandada pelo talentoso Kenneth Branagh, acostumado a dirigir e atuar em adaptações Shakespearianas. A história todos nós conhecemos, e essa não foi a primeira e nem será a última vez que a veremos nas telonas. O diferencial do filme, obviamente começa pelo elenco atualizado. Em destaque temos Lily James como a protagonista homônima, e Richard Madden como o príncipe, ambos carregando o filme de sotaque britânico. Cate Blanchett como madrasta má é de quem se espera o grande diferencial, mas quando há a oportunidade de trazer alguma profundidade à personagem, o roteiro cessa sua fala e vemos só a vilania padrão dessas histórias. Sendo assim, Cate cumpre o papel com competência, mas nada além disso. A presença de Helena Bonham Carter como fada madrinha é curta, mas simpática, aproveitada mais no filme como narradora dos fatos(Não se preocupem, ela não trouxe Tim Burton e nem Johnny Depp). Os personagens animais são usados para os poucos alívios cômicos, e como ajuda para a protagonista alcançar seus objetivos. Não há aquela caracterização cartunesca deles nesse filme, a não ser enquanto são 100% animais.
Se as atuações dão graça ao filme mas não tem ambições maiores, certamente outros recursos também tem destaque. A direção de arte tradicional – objetos de cena realmente construídos – é primorosa no retrato do mundo fantasiosos e insiste em nos mostrar formas simétricas, abrindo alas para os ambientes. Tem até homenagem à vinheta de abertura da Disney. Figurinos obrigatoriamente belos e bem destacados, usados em breves momentos como assunto de moda e seus padrões(talvez uma levíssima alfinetada a esse universo) ou para diferenciar personagens e personalidades pelas cores, estilos. O CGI certamente é um acréscimo, mostrando o que os modernos efeitos especiais podem fazer pela história. Discreto e com aparições pontuais, é ele quem permite o uso da magia no filme, dá graça e vida a boa parte dos animais e agrada no fim das contas. Patrick Doyle, parceiro do diretor e da Disney em outras empreitadas, compõe uma trilha sonora realmente atraente e que contribui para a imersão no filme com muita maestria. Com certeza uma produção artística do longa que tem vida própria, e convida para uma revisitação separada da película.
A história de Cinderela é imortal, mas também ganhou um aspecto de clichê. O filme em questão retrata tudo isso, com bordões de incentivo, a paixão à primeira vista, finais felizes (e começos também), a bondade incorruptível, e outros mais. O fácil em se produzir um filme desses se torna difícil, pois o público já sabe o enredo, e as poucas novidades tem que agradar e ser respeitosas à obra. Cinderela tem tudo isso, e no total é um exemplar muito relevante dessa história sempre recontada. Nada salta aos olhos exageradamente, mas tudo é fiel às expectativas.
Com um CGI aqui e ali, rostos atuais, músicas diferentes e outros aspectos, essa Cinderela versão 2015, em resumo, é uma adaptação digna para a geração atual de pequeninos, e para nós mais velhos. Respeita a integridade da história original e não se prende a nenhum devaneio narrativo ou estético. Diversão com beleza e simplicidade para todos.