Se você for assistir A Recompensa (nome original Dom Hemingway) sem saber antes quem são os envolvidos neste projeto, não duvido que a primeira pessoa que virá a sua cabeça será o diretor Guy Ritchie. Veja só, é um filme britânico, politicamente incorreto, agressivo, violento, com personagens exagerados, cenas estilizadas e cheio de humor negro, mas não… não é uma obra de Guy Ritchie. O diretor é o americano Richard Shepard, que não tem ainda um extenso currículo cinematográfico, mas já dirigiu recentemente atores renomados e de carreiras sólidas, como Pierce Brosnan e Greg Kinnear em O Matador e Richard Gere em A Caçada. Desta vez, o seu protagonista é Jude Law.
Antes de entrar em mais detalhes, vamos saber do que se trata a história. Dom Hemingway (Jude Law) é um notório ladrão de cofres que está sendo solto após 12 anos na prisão. Apesar de todo esse tempo preso, nunca entregou um parceiro seu e cumpriu esse período de boca fechada. Após finalmente ganhar sua liberdade, se vê no direito de receber uma recompensa de seu “chefe” (Demian Bichir), por sua fidelidade, juntamente com seu amigo (Richard E Grant). Porém, essa tarefa não será tão fácil, pois ele mesmo tem um temperamento explosivo e as pessoas em sua volta não são das mais amistosas. Em paralelo a isso, decide melhorar a relação nula que tem com sua filha.
Ter Jude Law no elenco ajuda a chamar a atenção, sem dúvida. É um ator inglês reconhecido mundialmente e, em geral, associado a bons filmes como Closer, Sherlock Holmes (direção do Guy Ritchie) e A Invenção de Hugo Cabret, para citar alguns. O restante do elenco é menos expressivo, ou menos milionário, e conta com o mexicano Demian Bichir (Fidel Castro em Che) e Richard E. Grant (Drácula, Assassinato em Gosford Park e A Dama de Ferro). Ambos fazem bem seus papéis e não comprometem. Infelizmente, quem exagera na dose é o próprio Jude Law.
Dizer que o ator não sintoniza com a história, ou com o diretor, é irrelevante. A verdade é que sua atuação, que parecia no início uma interpretação daquelas que marcam a carreira, fica desnecessariamente exagerada. Talvez Law tenha abraçado o desenvolvimento do personagem de uma tal forma, que em sua cabeça (suposição minha) a possibilidade de um Oscar não estaria longe, se conseguisse impressionar. É esse o nível de exagero que eu quero dizer. Cada fala, gesto e atitude parecem mais do que precisaria ser. Pode ser também que não tenha sido a sua intenção. De repente, a orientação era para seu papel ser direcionado a este caminho, mas independente se um ou outro, a barra foi forçada. Sua interpretação até impressiona nos primeiros 15 minutos, mas cansa depois.
Verdade seja dita, o início é interessante, diferente, ousado, mas cria uma expectativa que não sustenta do meio para o fim. A história em si não empolga e não traz nada de novo, além do início vibrante, e é uma pena ver o desenvolvimento fracassar. A sensação que fica é que a partir da metade do filme, o diretor quer ser descolado demais e exagera na gritaria de todo o elenco, incluindo Jude Law que nunca vi mais histérico. Além disso, a tentativa de humor nos diálogos não funciona. Não me recordo agora de alguma cena divertida intencional ou algum diálogo engraçado, mas não faltam tentativas. Ainda há a relação conturbada pai e filha, que tem a responsabilidade de ser o lado emotivo da história. Funciona esta parte? Não pra mim.
Apesar das críticas aqui mencionadas, nem tudo deve ser jogado fora. Você poderá não se importar muito com os personagens ou não achar graça nos diálogos, mas há algumas cenas em que Shepard acerta no estilo (o acidente de carro foi de bom gosto). Vale também lembrar as corajosas cenas iniciais, que criam em sua cabeça infinitas e empolgantes possibilidades para o decorrer da trama, mas infelizmente o resto não corresponde. Ou seja, tem lado bom (pouco), há bons atores, cenas bem realizadas e até um certo estilo, mas além dos exageros desnecessários e o humor forçado, o que falta mesmo é substância.
Confira o trailer abaixo e arrisque uma ida ao cinema, se interessar. Sua opinião pode ser diferente, é claro.