Gosta de Twin Peaks?
Um lugar onde as aparências enganam. Poderia ser o seu bairro ou mesmo o seu ambiente de trabalho, mas neste caso trata-se da pequena Twin Peaks (que já ganhou um Formiga na Tela), cidade para o qual se dirige o agente do FBI Dale Cooper com o objetivo de desvendar o assassinato da jovem Laura Palmer. Nas mãos de um roteirista e diretor enganador, esta trama seria mais uma trama genérica de suspense barato que se esquece em poucas horas. Só que estamos falando de David Lynch, que deixou muitos admiradores sem rumo ao anunciar que não vai mais produzir filmes para o cinema.
Para compensar o choque, no dia 21 de maio próximo, o canal Showtime estreia nos EUA uma terceira temporada de Twin Peaks, ambientada 25 anos depois do fim de seu segundo ano. O mistério sobre a trama e os personagens segue, bem ao gosto do misterioso Lynch. Enquanto não descobrimos o que aconteceu com os excêntricos moradores da cidadezinha, segue uma lista com 10 filmes para quem curte Twin Peaks e procura por ele nos lugares mais improváveis, bem ao estilo do agente Cooper. Veja também esta outra lista com séries para os fãs de TP.
Confira!
10- Donnie Darko (2001) – Richard Kelly
Que atire o primeiro coelho quem não saiu da sessão do filme de Richard Kelly, no mínimo, embasbacado. Os que têm os olhares viciados em tramas ultra explicadinhas costumam levar um susto dobrado com a história do garoto, interpretado por Jake Gyllenhaal que convive com visões de meteoros, acidentes bizarros e crimes violentos. Tudo isso na companhia de um…coelho bem macabro e uma bela trilha sonora. Alguém lembrou de David Lynch ou é preciso desenhar?
9- O Homem Duplicado (2013) – Denis Villeneuve
Jake Gyllenhaal ataca novamente! Desta vez na pele de um professor universitário com uma rotina tediosa que ganha novo sentido quando ele descobre um ator que é a sua cara. Para superar o fato de ter alguém idêntico a poucos metros de distância, ele ainda encara várias descobertas sobre si mesmo e as mulheres que o cercam. Ah, e tem uma aranha também. Os animais estão em todas, em Lynch e fora dele.
8- Só Deus Perdoa (2013) – Nicolas Winding Refn
Superar o sucesso de Drive até poderia parecer o intuito de Refn ao realizar este filme (cuja filmografia foi comentada no Formiga na Tela). Tanto que investiu no mesmo ator, Ryan Gosling, para dar vida ao traficante dono de academia de muay thai – o boxe tailandês – Julian. Ambientado em Bangkok, que com suas luzes já é um convite ao delírio, numa viagem que mistura realidade e fantasia, a produção tem referências a clássicos como Édipo Rei, de Sófocles, cinema oitentista e, é claro, David Lynch, em especial na construção dos pesadelos violentos que atormentam Julian entre uma vingança e outra.
7- Mistérios e Paixões (1991) – David Cronenberg
Embarque na jornada. Isto não é um convite, mas uma sugestão que pode ajudar o espectador a desfrutar ainda mais desta livre adaptação do romance Almoço Nu, do escritor americano William S. Burroughs. Se o livro não tinha preocupação com a linearidade, Cronenberg também se deu a liberdade de intercalar elementos presentes na obra com passagens da vida do próprio Burroughs. O resultado é um teatro do absurdo com insetos gigantes, máquinas de escrever e um clima de filme noir com direito a investigações, chapéus e capotes. Não necessariamente nesta ordem e nem da maneira mais simples.
6- O Ano Passado em Marienbad (1961) – Alain Resnais
Um filme é uma experiência. Um filme de Alain Resnais é uma experiência ao quadrado. Em seu mais enigmático filme, roteirizado por Alain Robbe-Grillet, o diretor deixa fluir uma série de acontecimentos a partir do encontro entre um homem e uma mulher, identificados apenas pelas letras X e A. Ele afirma que ela estava esperando por ele desde outros tempos. É a porta de entrada para uma série de flashbacks e flashforwards ambientados num hotel com atmosfera surrealista. Quase um quadro de Dalí na telona. Resnais é uma das fontes onde Lynch bebeu. Límpida, cristalina e inebriante.
5- Persona (1966) – Ingmar Bergman
Bergman está em todas e em todos. Difícil algum cineasta que não se diga apaixonado pela obra do sueco. Também pudera, já que ele trata das agruras da alma, tema que afeta do adolescente confuso ao adulto que precisa escolher uma nova estrada para percorrer. Neste caso, duas mulheres, interpretadas pelas maravilhosas Liv Ullmann e Bibi Andersson, se encontram isoladas em uma casa do litoral. A convivência gera intimidades e conflitos, fazendo com que ambas questionem onde começa uma e acaba a outra. Bergman se valeu da semelhança física entre as duas protagonistas para criar um roteiro repleto de referências filosóficas, convidando o espectador a se perguntar quem realmente somos e até onde somos nós mesmos. O subtítulo que o filme ganhou no Brasil na época de seu lançamento nos cinemas, Quando Duas Mulheres Pecam, deve ser relevado. Pecado é não assistir Bergman.
4- A Curva do Destino (1945) – Edgar G. Ulmer
A primeira impressão que se tem quando se assiste ao filme de Ulmer é que estamos diante de um noir clássico. Estrada, noite, carona e um assassinato misterioso. Tão misterioso que nem o próprio público, sempre um passo à frente do protagonista, não tem a mínima ideia do que aconteceu. É aí que a produção pende para o fantástico sem deixar o suspense de lado, neste que é um filme imortal e que, a cada revisão, ganha novos significados. Qualquer semelhança com Twin Peaks não é mera coincidência.
3- Almas Gêmeas (1994) – Peter Jackson
Se o “pai” de O Senhor dos Anéis no cinema, também responsável por loucuras divertidas como Fome Animal, é lembrança certa de quem gosta de fantasia, não seria diferente em uma das suas aventuras pelo drama. Para contar a história da amizade doentia entre duas adolescentes (uma delas vivida por uma jovem e já talentosa Kate Winslet) que acaba num plano de assassinato dos próprios pais, Peter Jackson mistura sonho e realidade sob uma estética de família perfeita. Não é apenas em Twin Peaks que as aparências enganam.
2- Preso na Escuridão (1997) – Alejandro Amenábar
Um acidente de carro que deixa uma cicatriz e faz um homem embarcar numa jornada psicológica sobre suas escolhas. Não é uma boa sinopse, mas consegue abranger dignamente a história que Amenábar filma em ritmo de sonho. Após acordar na prisão, o rico e mulherengo Cesar descobre que sua vida de luxo e carros velozes não existe mais. O flerte com o cinema de horror ajudou a fazer do filme um sucesso, causando a já tradicional invejinha hollywoodiana. Nunca é demais dizer que deve-se fugir do remake Vanilla Sky, dirigido por Cameron Crowe. Lynch e todos nós agradecemos.
1 – Cisne Negro (2010) – Daren Aronofsky
Natalie Portman já tinha feito trabalhos ótimos antes de encarnar a bailarina perfeccionista que protagoniza este filme. Mas como a Academia adora uma coisa grandiosa, no melhor estilo pavão de cauda aberta, foi numa trama sobre uma garota e seu duplo, com direção de arte impregnada de elementos de terror, que ela levou seu Oscar para casa. A ideia de se transformar em outra pessoa sempre rende boas histórias e aqui Aronofsky tempera a transformação com cenas agoniantes com unhas arrancadas e pernas quebradas. São os pesadelos sombrios de uma bailarina que dorme num quarto cor-de-rosa. Tem cheiro de Lynch no ar.
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