O Oscar 2017 será lembrado por muito tempo
Não tem jeito: o Oscar 2017 entrará para a história como o Oscar da lambança. Para aqueles que resolveram curtir a folia de Carnaval em vez de acompanhar a cerimônia, eis o que aconteceu: no prêmio mais importante da noite – o de Melhor Filme-, Warren Beatty e Faye Dunaway, o casal que interpretou os famosos Bonnie e Clyde no filme homônimo de Arthur Penn, receberam dos organizadores do evento o envelope errado e acabaram anunciando La La Land: Cantando Estações como o grande vencedor.
Os produtores e alguns membros da equipe do filme até chegaram a subir no palco e fazer discursos. O único problema é que o musical de Damien Chazelle não foi o mais votado. O verdadeiro vencedor havia sido Moonlight: Sob a Luz do Luar. Quando souberam que era o nome do seu filme que estava no envelope correto, os realizadores do drama LGBT fizeram rapidamente os seus discursos, correndo contra o tempo, enquanto Beatty justificava para as pessoas presentes o que tinha acontecido. Uma gafe inesquecível. Além disso, os organizadores do Oscar 2017 ainda acharam tempo para incluir no In Memorian o nome de Janet Patterson entre os falecidos, porém usaram a foto de Jan Chapman, que é produtora e está viva. Quanta lambança!
No entanto, o Oscar 2017 não será lembrado nos anos seguintes apenas pelas suas confusões. Contrariando todas as expectativas – que apontavam La La Land como o grande favorito ao prêmio de Melhor Filme -, foi a obra de Barry Jenkins a ganhadora. Assim como aconteceu no ano passado, quando Spotlight: Segredos Revelados consagrou-se como o Melhor Filme, o Oscar optou por ser mais politizado, colocando os temas abordados por esses dois filmes em primeiro lugar. Os próprios Warren Beatty e Faye Dunaway, ao dizerem que a arte anda lado a lado com a política, já deram um indicativo disso em suas falas.
Essa aparente tendência da Academia em premiar filmes cuja temática seja mais politicamente relevante pode ser um sinal de que o Oscar mudou. Antigamente, os membros votantes costumavam se preocupar em votar pelo mérito apenas. Se um filme ou pessoa merecesse ser indicado – na visão deles, obviamente -, era isso o que aconteceria. Agora, numa época em que a política é discutida por toda a sociedade e há uma presença massiva dos discursos de diversidade e representatividade, a preocupação sobre a relevância temática dos filmes que premia se tornou, talvez, a principal preocupação da Academia. Assim sendo, existe a possibilidade de que estejamos assistindo a uma pequena revolução na forma como Hollywood celebra os seus filmes.
Aliás, o próprio fato de terem sido Warren Beatty e Faye Dunaway os apresentadores do prêmio corrobora essa ideia. Atores principais do filme que inaugurou a Nova Hollywood (tema de um Formiga na Tela) nada faria mais sentido do que convidá-los para anunciar que o vencedor era Moonlight, possivelmente, um dos filmes responsáveis pelo início de uma nova onda na principal indústria cinematográfica do Mundo. Outro acontecimento que reforça esse guinada política é o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro para O Apartamento. Como o Irã é um dos países a integrar a lista de banimento do presidente Donald Trump, a vitória da obra de Ashgar Farhadi (que não pôde entrar no país) foi um poderoso símbolo de protesto.
Claramente, num contexto desse, premiar La La Land: Cantando Estações e o seu escapismo fantasioso sobre Hollywood e Los Angeles pareceria alienação ou auto centrismo demais. Porém, se engana quem acha que o musical foi o fracasso da noite. Embora tenha vencido apenas seis das catorze indicações, o filme levou os prêmios de Melhor Diretor para Damien Chazelle, Melhor Atriz para Emma Stone (Isabelle Huppert, concorrendo por Elle, era uma das favoritas do público), Melhor Fotografia para Linus Sandgren, Melhor Trilha Sonora para Justin Hurwitz, Melhor Design de Produção para David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco e Melhor Canção Original para “City Of Stars”, composição de Justin Hurwitz e letras de Benj Pasek e Justin Paul. Importantes, esses prêmios servem para confirmar o sucesso estrondoso o filme de Damien Chazelle.
Uma boa distribuição de prêmios
Já no restante da noite, ao longo de toda a bem sucedida apresentação de Jimmy Kimmel (a maioria das brincadeiras do comediante funcionou), o Oscar 2017 distribuiu bem os seus prêmios. Dos outros filmes que estavam concorrendo como Melhor Filme, Manchester À Beira-Mar venceu nas categorias de Melhor Ator para Casey Affleck e Melhor Roteiro Original para Kenneth Lonergan; A Chegada levou o prêmio de Melhor Edição de Som; Até o Último Homem ganhou de Melhor Mixagem de Som e Melhor Montagem; Um Limite Entre Nós foi representado por Viola Davis, que levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante; e, por fim, Moonlight: Sob a Luz do Luar também ganhou os prêmios de Melhor Roteiro Adaptado para Barry Jenkins e Melhor Ator Coadjuvante para Mahershala Ali. Lion: Uma Jornada Para Casa, A Qualquer Custo e Estrelas Além do Tempo foram os únicos títulos que estavam concorrendo ao Oscar de Melhor Filme e que saíram de mãos vazias.
Assim como Zootopia ter vencido na categoria de Melhor Animação, esses ganhadores mencionados acima não frustraram as expectativas. Uns mais, outros menos, mas todos faziam parte das listas de apostas dos fãs e entusiastas da premiação da Academia. As únicas surpresas ficaram por conta do prêmio de Melhor Figurino para Animais Fantásticos e Onde Habitam – La La Land e Jackie eram os favoritos – e a vitória de Esquadrão Suicida na categoria de Melhor Maquiagem e Cabelo – não porque os responsáveis não mereciam vencer nessa determinada categoria, mas sim porque o filme é muito ruim.
Avaliando o resultado final, o Oscar 2017 foi uma das cerimônias mais bem sucedidas dos últimos anos. Os discursos foram curtos, a política foi bem dosada, as piadas funcionaram na maior parte do tempo e a premiação pôde contar com uma das melhoras safras de filmes. Além disso, sinalizou com uma possível revolução na maneira do Oscar premiar os filmes. Para um evento de televisão interessado quase que exclusivamente em manter a sua audiência, o resultado final saiu melhor que a encomenda.
Os vencedores do Oscar 2017:
Melhor Filme: Moonlight: Sob a Luz do Luar
Melhor Diretor: Damien Chazelle, por La La Land – Cantando Estações
Melhor Ator: Casey Affleck, por Manchester À Beira-Mar
Melhor Atriz: Emma Stone, por La La Land – Cantando Estações
Melhor Ator Coadjuvante: Mahershala Ali, por Moonlight: Sob a Luz do Luar
Melhor Atriz Coadjuvante: Viola Davis, por Um Limite Entre Nós
Melhor Roteiro Original: Kenneth Lonergan, por Manchester À Beira-Mar
Melhor Roteiro Adaptado: Barry Jenkins, por Moonlight: Sob a Luz do Luar
Melhor Documentário: O.J.: Made In America
Melhor Filme Estrangeiro: O Apartamento
Melhor Animação: Zootopia
Melhor Fotografia: Linus Sandgren, por La La Land – Cantando Estações
Melhor Montagem: John Gilbert, por Até O Último Homem
Melhor Edição de Som: Sylvain Bellemare, por A Chegada
Melhor Mixagem de Som: Kevin O’Connel, Andy Wright, Robert Mackenzie e Peter Grace, por Até O Último Homem
Melhor Design de Produção: David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco, por La La Land – Cantando Estações
Melhor Figurino: Collen Atwood, por Animais Fantásticos e Onde Habitam
Melhor Maquiagem e Cabelo: Alessandro Bertolazzi, Giorgio Gregorini e Christopher Nelson, por Esquadrão Suicida
Melhor Trilha Sonora: Justin Hurwitz, por La La Land – Cantando Estações
Melhor Canção Original: “City Of Stars”, de La La Land – Cantando Estações
Melhores Efeitos Visuais: Robert Legato, Adam Valdez, Andrew R. Jones e Dan Lemmon, por Mogli: O Menino Lobo (crítica aqui)
Melhor Curta Metragem: Sing
Melhor Curta Metragem Documentário: Os Capacetes Brancos
Melhor Curta Metragem Animação: Piper