Entendendo as versões diferentes de Blade Runner: O Caçador de Androides
Sei se você está lendo isso e se perguntando: “Versão original de Blade Runner: O Caçador de Androides? Como assim? Eu perdi alguma coisa?”. Calma! Vou explicar: quando o diretor Ridley Scott finalizou o primeiro corte do filme, após uma filmagem exaustiva e estressante, a Warner ficou descontente com o que havia ali. Era uma produção que estourou orçamento, com cenários gigantescos e tinha o grande astro do momento, que era Harrison Ford. O estúdio esperava algo mais comercial, mas Scott entregou um filme intimista cheio de questões filosóficas. Um executivo chegou a dizer: “Seu filme é esplêndido, mas ninguém vai entender”.
Então foi feita uma versão lançada no cinema em 1982, com apelo comercial maior, o que não adiantou muito. Foi um grande fracasso de público e crítica, embora tenha ganho um certo prestígio ao sair em VHS. Firmou-se como um clássico após a versão feita pelo próprio Scott em 1992. Vamos começar pela versão “comercial” de Blade Runner. Avisando que há spoilers no próximo parágrafo, portanto, se você ainda não sabe nada sobre essa obra de arte, corrija isso agora e depois venha ler sobre essas duas versões. Vamos lá!
Confira também uma lista de filmes que interessa a qualquer fã de Blade Runner!
1982: Um Noir que explica demais
O primeiro ponto que chama a atenção nesta versão é que o filme contém uma narração em off de Harrison Ford. Parece que a ideia era dar uma sensação maior que tratava-se de um noir, mas essa narração só serve para explicar os simbolismos do filme e tirar da atmosfera. Isso se torna evidente quando ocorre a icônica morte de Roy Batty (Rutger Hauer), que após o seu belo dialogo vem um off ridículo dizendo sobre o Batty era o personagem mais vivo que ele conheceu. Desnecessária a fala, como se o público precisasse de algo mais além da imagem e da trilha. Acaba destruindo o momento mais poderoso do filme.
Outro problema é o final feliz, em que Deckard (Ford) escapa com Rachael (Sean Young), após Gaff (Edward James Olmos) ter passado por seu apartamento. Aliás, alguns dos planos gerais utilizados para esse final vieram de sobras de O Iluminado, já que foi uma alteração às pressas. Mudanças que parecem pequenas na descrição, mas fazem muita diferença. A força de Blade Runner vem das interpretações do espectador. Para isso, o silêncio dos personagens, ,mais a trilha sonora de Vangelis, conduzem o público. Essas ideias, impostas pelo estúdio, acabam destruindo o filme na sua essência.
O filme teve uma versão internacional, que traz de diferente alguns segundos com violência mais explicita. Esse corte foi o que saiu em vídeo na época. Não à toa, Blade Runner: O Caçador de Androides demorou pra ser visto como um filme verdadeiramente rico. Essa versão do lançamento original mostrava que era um filme de camadas, mas não as explorava. Felizmente, Ridley Scott deu a volta por cima em 1992.
1992: O reconhecimento como Cult
O tempo se passou e Scott conseguiu consolidar sua carreira, inclusive com uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor por Thelma & Louise, em 1991. Aí decidiu voltar para Blade Runner, que era um projeto pelo qual ainda era apaixonado e sabia de sua força. Então, remontou o filme e o deixou o mais próximo de sua visão. A narração em off de Harrison Ford foi retirada e o seu final manteve a aura de ambiguidade de uma boa ficção científica. Isso deixou a obra mais poderosa e foi nessa versão do diretor que Scott lançou a pergunta: será Deckard um Replicante? Scott incluiu o trecho do sonho com um unicórnio e o take em que mostra como os olhos de Deckard brilham de forma semelhante aos alvos de sua caçada. Tornou-se um filme rico, no qual o espectador precisa leva consigo os questionamentos após o fim da projeção.
Em 2007, Scott lançou a versão definitiva de Blade Runner. Não houve nenhuma mudança narrativa tão gritante em relação à versão lançada em 1992, mas ajustes na imagem. O diretor colocou as cópias originais do filme em uma restauração em 4k, embelezando-o ainda mais. Narrativamente, ela é a mesma versão anterior, mas, como Scott é perfeccionista, houve uma mudança no visual como dito e no som. Os áudios foram divididos entre sete canais, imprescindível para aproveitar a experiência total em um home theater.
No fim, qual é a melhor? Claro que a versão do diretor,pois foi ela que mostrou a real face da obra profunda que é Blade Runner: O Caçador de Androides. Saudades dessa boa época de Ridley Scott… Agora, os holofotes se voltam para a continuação comandada por Denis Villeneuve.