Audrey Hepburn é muito mais que uma bonequinha de luxo
O título de musa não agrada algumas mulheres. Reação compreensível, já que, por trás da admiração que ativa a criatividade, também pode haver a ideia da mulher como objeto, feita para ter sua beleza contemplada e nada mais. Porém, se formos um pouco mais adiante nessa história, iremos perceber que a verdadeira musa não se contenta com encantar os olhares. É possível motivar almas e impulsionar não apenas artistas homens, mas outras mulheres, em especial aquelas que estão só esperando aquele empurrãozinho para investirem em seus sonhos. Talvez o símbolo maior dessas musas para além da beleza seja a saudosa Audrey Hepburn.
A atriz belga, que nasceu Audrey Kathleen Hepburn-Ruston, pode não ter sido a mais bonita ou a mais talentosa de sua geração e sua filmografia tem pouco mais de vinte filmes para a telona. Mas como explicar que sua elegância, nas roupas e nas atitudes, sejam até hoje citadas, décadas depois de seu falecimento? Seus traços delicados foram inspiração para Giancarlo Berardi criar a criminóloga Julia, a mais charmosa e inteligente dos quadrinhos italianos. Sua imagem como a garota de programa (“detalhe” que ela pediu que fosse retirado dos diálogos do roteiro, inspirado no livro de Truman Capote, mas que fica subentendido na trama) Holly Golightly, do filme Bonequinha de Luxo, de Blake Edwards, estampa roupas e pôsteres e virou símbolo da mulher dona do próprio nariz, mas que não abre mão da vaidade.
É, de longe, o papel mais lembrado da carreira de Hepburn, mas outras “mocinhas” que ela interpretou são mais modernas que muitas presentes em produções recentes. Por isso, selecionamos as cinco personagens mais poderosas de Audrey Hepburn para encantar nossas leitoras neste Dia Internacional da Mulher. E leitores também, é claro! Assista aos filmes, delicie-se com as personagens e as tramas e, acima de tudo, inspire-se!
5 – Susy Hendrix, de Um clarão nas trevas (Wait Until Dark, Dir. Terence Young, 1967)
Uma das atuações mais elogiadas da carreira da atriz, Susy é quem traz ainda mais tensão para esse thriller dirigido por Terence Young e inspirado na peça homônima do dramaturgo inglês Frederick Knott. Cega, Susy ainda está aprendendo a reconhecer a própria casa e adaptar-se a sua nova condição quando ganha uma boneca de seu marido. Só que o inocente brinquedo contém uma quantidade de heroína que interessa a um grupo de ladrões, que passam a aterrorizar a moça que terá que se valer de seus outros sentidos para se manter viva. Sempre associada à papeis com figurinos dignos de princesa, Audrey se vale de roupas comuns para que o público mantenha a atenção em sua interpretação. Sem contar a esperteza da moça, que não precisa de nenhum príncipe para se livrar de uma encrenca.
4 – Regina Lampert, de Charada (Charade, Dir. Stanley Donen, 1963)
Apesar dos cartazes de divulgação do filme se valerem dos olhares apaixonados entre Hepburn e Cary Grant, é o mistério a grande atração dessa produção. Nossa amada Audrey dá vida a uma jovem mulher que está prestes a dar um fim ao seu casamento quando descobre que o marido foi assassinado e uma grande quantia em dinheiro sumiu da conta do casal. Grant, em mais um personagem charmoso e dúbio, tenta ajudar Regina, mas seus atos colocam em dúvida seu real interesse pelo caso. E não pense que nossa protagonista é completamente inocente! Aliás, nada é o que parece neste filme que ainda conta com os ótimos James Coburn e Walter Matthau. Com figurinos que remetem às femme fatales do cinema noir e um roteiro impecável, este é um dos trabalhos preferidos de Audrey, que iniciou uma longa amizade com Grant após dividir a cena com o galã.
3 – Princesa Ann, de A princesa e o plebeu (Roman’s Holiday, Dir. William Wyler, 1953)
Walt Disney até tentou, mas o sonho de ser uma princesa à espera de um príncipe em um cavalo branco não está mais tão em evidência. Pois lá nos anos 50, Audrey já colocava as asinhas de fora ao dar vida a princesa Ann que, cansada de ter que decidir qual a melhor tiara para recepcionar seus súditos, viaja para Roma e decide realizar o sonho de ser uma garota comum. Deslumbrada com as pequenas alegrias do cotidiano dos plebeus, ela conta com a ajuda do repórter Joe Bradley (Gregory Peck) para curtir adoidada a Itália e seus sabores e aventuras. Tudo bem que o rapaz está mais interessado em escrever uma matéria bombástica sobre a princesa rebelde, mas o charme da jovem pode mudar os rumos da manchete do dia. Um detalhe: a cena em que Ann vai ao salão e pede um corte curto, foi ideia de Audrey, que adorava o estilo. E o momento tem ares de liberdade, com a princesa abandonando um dos símbolos mais clichês de feminilidade. Não é à toa que ela levou o Oscar de Melhor Atriz por sua atuação, além de elogios nos bastidores do veterano Peck. Rainha, não?
2 – Karen Wright, de Infâmia (The Children’s Hour, Dir. William Wyler, 1961)
Em mais uma parceria com William Wyler, Audrey interpreta uma professora que comanda, junto com a amiga Martha (Shirley Maclaine) um internato para garotas. Quando ambas começam a organizar as contas e encontrar lucro no empreendimento, uma aluna coloca tudo à perder por conta de uma mentira. Inspirado na peça homônima escrita por Lillian Hellman, o filme discute o preconceito e a suposta inocência das crianças de forma inteligente e precisa. As cenas entre Hepburn e Maclaine possuem diálogos que fazem pensar como algumas coisas, infelizmente, não mudaram. Com pouca maquiagem e nenhum figurino glamuroso, a atuação de Audrey não deixa de ser hipnótica.
1 – Nicole Bonnet, de Como roubar um milhão de dólares (How to Steal a Million, Dir. William Wyler, 1966)
A medalha de ouro também tem a dobradinha Hepburn/Wyller, dessa vez em uma comédia charmosa e com toques de suspense. Nossa diva interpreta a filha de um falsificador de obras de arte (Eli Wallach, ótimo como sempre) que conta com a ajuda de Simon Dermott (Peter O’Toole) para evitar que seu pai se meta em mais uma encrenca com a lei. O problema é que Dermott é um detetive e vai usar Nicole como isca para desmascarar o famoso falsificador. Mas será que ele irá resistir aos olhos castanhos da moça? Hepburn e O’Toole têm uma química perfeita, reforçada pelas gags cênicas conduzidas por Wyler. Isso sem contar a ótima trilha sonora e a direção de arte precisa e criativa. Quem sai roubado no fim das contos é o espectador. Audrey leva nosso coração e não devolve mais.
E aí, gostou da nossa lista? Faltou alguma personagem? Ou tá tudo errado e a gente tem que começar outra vez? Comente!