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Alien: Covenant – Presunçoso, enfadonho e intragável!

Alien: Covenant é um verdadeiro terror… no mau sentido

Alien – O 8º Passageiro (1979) mostrou a fragilidade e o isolamento do ser humano fora de seu planeta natal. Se antes o cinema nos trouxe a ideia de alienígenas hostis nos invadindo, neste caso, o homo sapiens é o organismo invasor. Mas, ao contrário desses filmes das décadas de 1950 e 60, onde o estrangeiro é ligeiramente mais agressivo que o habitante local, no exemplar de de 1979, aquele que ultrapassa suas fronteiras naturais se depara com uma biologia incompreensível em um ambiente inescapável. Em Alien: Covenant (idem), o que temos é um exemplar pretensioso e mal realizado, perdendo-se em sua tentativa irrisória de grandiloquência e presunção intelectual.

(Confira o Formiga na Cabine sobre o filme e a lista dos filmes da franquia em ordem de qualidade)

Pôster de Alien: Covenant

Dirigido por Ridley Scott (diretor que foi tema de um FormigaCast), Alien: Covenant se passa 10 anos após os acontecimentos vistos em Prometheus (2012), seguindo a tripulação da expedição Covenant, a caminho de um planeta com condições semelhantes às da Terra para iniciar uma nova colônia humana. No meio de seu trajeto, a missão é interrompida por um evento cósmico aleatório, que faz com que os tripulantes decidam pousar em um planeta mais próximo com aspectos similares ao destino original. Porém, esse novo mundo se torna um cenário de violência e morte a partir da descoberta de um novo tipo de organismo.

Roteiro presunçoso e intragável

O filme abre com uma ótima cena de diálogo entre Peter Weyland (Guy Pearce) e sua criação David (Michael Fassbender), onde a criatura tenta compreender sua natureza perante seu criador. Com elementos de cena interessantes e falas realmente bem escritas, esse prólogo, que se passa muitos anos antes de Prometheus, inicia a narrativa de maneira impressionante. É uma pena que o restante do longo não acompanhe essa qualidade.

O roteiro de John Logan (007 Contra Spectre) e Dante Harper (primeiro trabalho de roteiro) conta com muitos personagens, onde poucos são realmente apresentados e, quando isso acontece, de forma extremamente ineficaz. Fica visível que esse número inflado de personagens se justifica apenas para ter mais carne a ser dilacerada. Existe uma tentativa de construção de drama para alguns, mas todos, sem exceção, não conseguem a menor empatia do público. Algo que atrapalha muito a experiência, porque a vontade é de pular direto para as cenas com a criatura que dá nome ao filme. E quando as tais cenas chegam, são tão mal construídas que não conseguem gerar aflição, medo e nem mesmo um pouco de empolgação.

O xenomorfo repaginado em Alien: Covenant

Olha ai o bichão, todo repaginado e bombadão. É uma pena que de bom mesmo, só aquele primeiro filmão!

Além da falha grotesca no desenvolvimento de seus protagonistas, o roteiro também peca em sua estrutura e possui falhas de lógica interna, considerando toda franquia. A construção dos momentos de tensão é tão clichê que o elemento surpresa simplesmente não existe. O texto sugere questões e elementos que em nenhum momento são trabalhados ou justificados ao longo da história. Como se isso não bastasse, a narrativa ainda é extremamente presunçosa, colocando citações literárias e questões existencialistas de maneira solta, ingênua e infantiloide. A verdade é que Ridley Scott e sua turma quiseram, desde Prometheus, criar uma história muito maior, complexa e profunda para a franquia. O problema é que essa grandiloquência acabou se tornando mais mortal que o próprio alienígena xenomorfo.

Fotografia pobre e design de produção risível

Desde que entramos no século XXI, Ridley Scott não entregou filmes dignos de sua carreira pregressa – salvo um ou outro. Contudo, algo que quase sempre pudemos contar em suas obras históricas e de ficção-científica, era um design de produção de ótima qualidade, junto com uma fotografia muito competente. Alien: Covenant consegue decepcionar até nesse ponto. Tirando elementos aproveitados do longa anterior, as novidades no design de produção de Chris Seagers (acredite, ele tem O Resgate do Soldado Ryan no currículo) chegam a ser risíveis de tão mal planejadas e por vezes equivocadas.

Primeiro, em nenhum momento, no novo planeta, sentimos que estamos em um ambiente alienígena. Não apenas a vegetação, como também a topografia do local, em nada diferem daquilo que temos na Terra – como sentir isolamento e hostilidade em um local que poderia facilmente abrigar uma pousada? Não só isso, mas na própria construção da cidade da raça alienígena denominada Engenheiros, onde além do design se resumir em blocos cúbicos e paralelepípedos, como suas moradias, temos uma falta de coerência interna tamanha que prova que a produção não se preocupou em nada com verossimilhança. Para se ter uma ideia, algumas risadas puderam ser ouvidas, quando alguns dos críticos que me acompanharam na cabine de imprensa notaram câmeras Go Pro’s fazendo parte do figurino dos protagonistas. Como culpá-los?

Alien: Covenant tem um design de produção equivocado.

O design de produção totalmente equivocado e a fotografia inexpressiva decepcionam o espectador.

A direção de fotografia de Dariusz Wolski (parceiro recorrente de Scott, com obras como Perdido em Marte e Êxodo: Deuses e Reis) também é precária. Não há sequer um momento em que a iluminação e a escuridão sirvam como elemento narrativo. Cheio de contrastes entre luz e sombra, a fotografia do filme não consegue gerar um chiaroescuro que valorize um fotograma sequer da película. Além disso, há cenas com fontes de luz inventadas unicamente para que o espectador consiga enxergar alguma coisa em tela. Wolski não é um nome inexpressivo quando falamos de talento, mas reconhecido pela experiência e competência. Seu trabalho em Alien: Covenant só salienta a impressão de pressa com a qual o filme foi realizado.

O ritmo da obra também é prejudicado, sendo extremamente arrastado em algumas partes e desnecessariamente corrido em outras. Problema que não deve ser creditado em sua totalidade ao montador Pietro Scalia (Memórias de Uma Gueixa), pois é perceptível que o material bruto não era dos melhores para se trabalhar.

Se tem alguma coisa que salva, é a atuação de Michael Fassbender

Mesmo com um elenco totalmente fora de sintonia, prejudicado principalmente pelo péssimo texto, Michael Fassbender, intérprete dos androides David e Walter, consegue se destacar. O ator realiza dois papéis difíceis, que consistem em dois personagens diferentes. A própria natureza de cada um deles já exige um tipo de atuação não convencional e, além disso, atuar no mesmo filme como dois seres que interagem entre si e precisam ser diferentes, sem cair no ridículo, é uma tarefa árdua.

Fassbender consegue realizar de maneira digna e eficaz, mesmo com um roteiro tão problemático. É claro que o ator se tornou a galinha dos ovos de ouro para essa nova fase da franquia, tal como Johnny Depp é para Piratas do Caribe. Afinal, já foi estabelecido nos filmes anteriores que os androides eram diferentes entre si. Logo, David e Walter não precisavam ser iguais. Mas o roteiro força uma justificativa insossa para que eles sejam semelhantes. Olha eu voltando ao roteiro novamente… Não é culpa de Fassbender, ele faz sua parte muito bem.

Alien: Covenant - Michael Fassbender em ótima atuação como o androide David

Michael Fassbender é o único que consegue atuar de maneira digna, mesmo com um roteiro extremamente enfadonho. Ao que parece, ele será a nova estrela da franquia.

Quando o charme e a sutileza dão lugar ao grosseiro

Mesmo que particularmente eu não goste de comparar filmes em uma crítica, acredito que neste caso específico seja válido. Alien – O 8º Passageiro possui uma história bem simples e sofisticada. A construção da tensão e do suspense são feitos de forma objetiva e eficaz. A direção de Ridley Scott, junto com a fotografia de Derek Vanlint, faz com que a linguagem cinematográfica pura passe o terror para o espectador. Em Alien: Covenant quase tudo é maior. A história é maior, o orçamento é maior, o número de personagens é maior, o número de mortes é maior, o número de androides é maior, enfim. A única coisa em que o novo exemplar da franquia é menor que o original é no domínio narrativo. Não é preciso ser maior para ser grandioso.

Alien: Covenant é um filme enfadonho, incoerente e presunçoso. Ridley Scott dirige no piloto automático, apenas posicionando a câmera e gritando “ação”, sem se preocupar com o caminho ou o modo como a história é conduzida. Sem nenhum elemento cinematográfico realmente atrativo, o longa se torna um exemplar genérico de ação feito a toque de caixa, sem nenhum tipo de esmero ou respeito para com o público. Ah é, nem falei muito da criatura título, certo? Enfim, ela aparece um pouco lá, mas não faz diferença. Se você se interessar em assistir um filme realmente bom com este xenomorfo ícone do terror espacial, melhor revisitar nossos sete amigos da nave Nostromo.

(Gosta da temática de alienígenas no cinema? Que tal conferir nosso artigo sobre alguns dos extraterrestres mais burros da sétima arte?)

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