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Perdido em Marte – Deixa lá!

Perdido em Marte foi comentado no Formiga na Cabine e também publicamos a resenha do livro!

Perdido em Marte

Faz tempo que a grife Ridley Scott é apenas sinônimo de excelência visual. Mesmo assim, até o mais ferrenho detrator do cineasta precisa admitir a contribuição dele para o cinema moderno, logo, não é excesso de otimismo – ou nostalgia – considerar a possibilidade de que seu próximo trabalho pode ser algo muito bom. Bem, chegou o filme da vez e é bem bonito de se ver, mas deixando isso de lado, o que sobra?

Perdido em Marte (The Martian) mostra uma missão da NASA no planeta vermelho, quando uma tempestade obriga o grupo instalado a partir imediatamente. No meio da evacuação de emergência, Mark Watney (Matt Damon) é atingido por uma antena quebrada e desaparece, fazendo a equipe concluir, de forma bem razoável, que ele não sobreviveu. Como a recuperação do corpo seria improvável naquelas condições, além de significar um risco considerável para todos, a missão Ares-3 parte lamentando o companheiro perdido. O problema é que Watney não morreu, e agora precisa se virar sozinho com o que foi deixado para trás, mas o tempo é curto e ele ainda precisa descobrir uma forma de se comunicar com o pessoal na Terra.

Perdido em Marte

Adaptado do livro homônimo de Andy Weir, a sinopse promete algum tipo de tensão, criando empatia por alguém que sofre na solidão enquanto precisa fazer malabarismos para sobreviver. A partir do diário que o astronauta vai gravando, vamos conhecendo mais sobre ele e suas convenientes habilidades para as tarefas à frente, uma ideia um tanto preguiçosa da parte do roteiro de Drew Goddard. Ao invés de aproveitar os recursos que uma mídia visual oferece, o filme prefere o caminho didaticamente descritivo, criando um protagonista verborrágico e engraçadinho, cheio de tiradas de efeito, que em momento algum parece importar-se com o perigo que corre. Não bastando o texto, a direção de Ridley Scott ignora o impacto psicológico do risco e, principalmente, da solidão, já que quase não existe ênfase nestes tópicos nos planos e ângulos de câmera utilizados, salvo raros momentos insuficientes.

Perdido em Marte

No outro núcleo desta narrativa, o pessoal da NASA na Terra logo descobre que Watney está vivo, também correndo contra o tempo para viabilizar uma maneira de salva-lo. Enquanto isso, existe o conflito de informar ou não o fato para a tripulação da Ares-3, fazendo a viagem de volta naquele momento. Tem gente competente neste elenco, é verdade, como Jeff Daniels, Chiwetel Ejiofor e Jessica Chastain, mas se nem o protagonista consegue destacar-se, o que nem é culpa de Matt Damon, imagine os outros atores. O pior disso é Sean Bean, garantindo o leite das crianças com um personagem que não precisava sequer existir, além de sua presença acabar justificando-se apenas por uma piada – sem graça, como a maioria – envolvendo outro papel famoso seu. Houve espaço até para um coadjuvante excentricamente estereotipado, tentando arrancar mais risadas. Nada contra o alívio cômico em qualquer narrativa, mas aqui eles foram utilizados em excesso.

Perdido em Marte

Entre esses alívios, até a música que Watney ouve em Marte é motivo para fazer graça. Em outro momento dispensável, o filme conta com uma sequencia – a lá vídeo clipe – ao som de Starman, de David Bowie. Tão previsível e insosso quanto tocar Canção da América em colação de grau.  No meio das escolhas que tornam o filme difícil de levar a sério, existe aquele cuidado na parte visual, conforme já era esperado, infelizmente destacando apenas a beleza das paisagens de Marte e as tomadas no espaço, sem qualquer acréscimo narrativo significativo. A fotografia de Dariusz Wolski, que vem trabalhando com o diretor desde Prometheus, garante esse colírio – vitaminado por um 3D bem aplicado – assim como o desenho de produção de Arthur Max, parceiro antigo de Scott.

Perdido em Marte

Como não li o livro, não há como comentar alguma diferença de abordagem entre ele e o filme, ou qualquer outra mudança. De qualquer forma, isso é irrelevante, uma vez que os defeitos de qualquer obra adaptada não se justificam pela fidelidade à sua fonte, se é que foi o caso aqui. Se foi, a indústria precisa rever urgentemente alguns conceitos sobre roteiros adaptados, mas o fato é que – novamente – Ridley Scott ficou devendo um trabalho à altura do seu talento mais do que comprovado. Pela agenda dele, isso nem deve acontecer tão cedo.

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