O francês Jean-Pierre Jeunet acabou se tornando aquele tipo de diretor identificado com um único filme, o que deve ser um tanto desagradável para ele, mesmo com uma filmografia curta. A obra em questão é o divertido O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), que também marcou um pouco a atriz Audrey Tautou, que viveu a protagonista maluquinha “do bem”. Quando isso acontece, grande parte do público espera que os filmes posteriores do cineasta venham com a mesma pegada, fazendo comparações muitas vezes injustas e/ou desagradáveis. Bom, aqui o cara não teve receio de tentar um filme assumidamente infanto-juvenil e falado em inglês. Se alguém não lembra, ele também dirigiu o medonho Alien – A Ressureição (1997), quarto filme da franquia, que – evidentemente – também era falado na língua da Rainha.
Uma Viagem Extraordinária é o último trabalho do cineasta, feito ano passado, que chega agora às telas brasileiras. Como em Amélie Poulain, o objetivo é levar a narrativa pela visão mais inocente do personagem principal, o menino cientista T. S. Spivet. Adaptado do livro O Mundo Exlicado por T. S. Spivet – publicado no Brasil pela editora Nova Fronteira – o filme narra a travessia do garoto prodígio de dez anos (Kyle Catlett), que viaja escondido, saindo da fazenda de sua família em direção ao Intituto Smithsonian, em Washington. A instituição pretende premiar o criador do projeto de um dispositivo de movimento perpétuo, sem desconfiar que se trata de uma criança. A invenção e os dotes científicos de T. S. não são os únicos pontos que desencadeiam o evento chave – a viagem – mas existe também um conflito familiar e culpa envolvendo um acidente. Helena Bonham Carter e Callum Keith Rennie interpretam os pais indiferentes, e Niahm Wilson é a filha adolescente e implicante.
Diretores de fora do grande circuito comercial, utilizando as melhores ferramentas tecnológicas, no caso o 3D, podem entregar algo muito interessante. O recurso serve muito bem à imaginação do protagonista e aos elementos gráficos utilizados, afinal, esse é o tom que se espera do filme. Infelizmente, quando o personagem sai da fazenda e empreende de fato sua jornada ao Smithsonian, parece que a proposta visual do início é esquecida. Além disso, fica a impressão de que essa trajetória foi apenas uma colagem de acontecimentos isolados dentro do conjunto, prejudicando muito o ritmo. Como o roteiro, co-escrito por Jeunet, já deixa mais ou menos claro como tudo vai se resolver – o que não chega a ser um demérito, é bom lembrar – não seria pedir demais que houvesse um cuidado maior na condução, e principalmente na edição, pois o filme passa a impressão de ser mais longo.
Sem muito a dizer no fim das contas, Uma Viagem Extraordinária acaba frustrando pela expectativa que a simples presença do diretor cria. Com essa mesma sinopse, se o projeto fosse de algum diretor hollywoodiano, ninguém iria esperar muita coisa, mesmo que fosse o nome mais quente do momento. A empreitada de Jean-Pierre Jeunet parece apostar apenas no fraco que as pessoas tem por crianças em apuros e sozinhas, o que é uma pena. Não chega a ser desprezível, mas é esquecível .