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Projeto Gemini – Will Smith em dose dupla!

Inovações tecnológicas são o ponto alto de Projeto Gemini, do diretor Ang Lee

Alguns filmes existem para entreter, outros para tocar o coração. Projeto Gemini, o mais recente trabalho do diretor Ang Lee, existe para explorar tecnologias novas de 3D, aumentar o padrão de quantidade de frames por segundo no cinema e introduzir uma nova forma de rejuvenescimento em filmes, com a criação de um ser humano 100% digital. 

Crítica Projeto Gemini

O longa foi rodado com câmeras digitais direto em 4K, a 120 frames por segundo, ao invés dos tradicionais 24. Pra quem tem ou já assistiu algo em um aparelho de TV com essa tecnologia e a função “motion smoothing” ligada, sabe que isso gera uma série de desafios para o produto ficar com “cara de cinema” e não de telenovela. As imagens ficam com mais clareza e presença física, uma imersão que parece que você está lá, mas que não lembra o cinema tradicional.

 Ang Lee é conhecido tanto por filmes que lhe renderam estatuetas do Oscar de Melhor Direção ( O Segredo de Brokeback Mountain, em 2006) como por produções que precisavam de um diretor com experiência em tecnologia (como o infame Hulk, de 2003). Lee já havia usado a tecnologia HFR 3D+ em seu filme de 2016, o excelente e menosprezado A Longa Caminhada de Billy Lynn, focando numa narrativa dramática e sem efeitos especiais. Mas, por dificuldade em mostrar o filme da forma que foi concebido, foi lançado no Brasil direto em home vídeo. O filme também foi criticado na época por usar a tecnologia em um drama, que mais distraiu o público que o viu no cinema do que acrescentou à sua narrativa. 

Para o lançamento de Projeto Gemini no Brasil, a Paramount conseguiu negociar que as salas onde o filme for exibido em 3D contarão com um downgrade para 60 FPS, enquanto todas as cópias em 2D serão mostradas a 24 FPS, garantindo que o público que escolha a primeira opção tenha uma experiência superior a dos 48 FPS de “O Hobbit: Uma viagem inesperada”, que foi pioneira da tecnologia HFR (High Frame Rate) no Brasil.

Além do alto número de frames por segundo, o filme foi rodado em 3D+, uma “evolução” do 3D, que aumenta a sensação de profundidade e dá uma turbinada nas texturas. De fato, a tecnologia realmente brilha quando usada com reflexos, água e fogo, e também quando incorporada a história com planos em POV ou visão térmica, gerando um resultado realmente impressionante.

Crítica Projeto Gemini

Jovem Will

O marketing do filme bate muito na tecla de uma forma inédita de se usar tecnologia de rejuvenescimento para criar o personagem Júnior, que é uma recriação digital do jovem Will Smith. Existe um grande diferencial da técnica utilizada em Projeto Gemini comparada, por exemplo, ao jovem Nick Fury de Capitã Marvel, em que o Samuel L. Jackson interpretou seu papel normalmente e depois trataram e borraram seu rosto para que ficasse com uma aparência mais nova.

Para criar a versão de 23 anos de Will Smith, usaram como referência vários trabalhos do ator, como Bad Boys (1995), Um maluco no pedaço (1990 -1996) e Independence Day (1996). Com base nesse material, a equipe criou um ser humano 100% digital. Will Smith atuou com captura de movimento e foi recriado digitalmente, criando um “boneco” digital que contracena com ele usando como base a sua interpretação e dublagem.

O Júnior 100% digital é convincente em 70% das vezes, quando em ambientes de pouca luz, usando óculos de sol, uma máscara de gás ou apanhando no meio de uma briga. Contudo, debaixo da luz direta do sol ou sentado olhando pro nada e pensando na vida, o “Uncanny Valley” toma conta e distrai o espectador. No momento que o boneco 3D abre a boca, você deixa de estar convencido que é real, com exceção de duas cenas, que não se sabe porque, o filme inteiro não se manteve naquele padrão.

Na trama de Projeto Gemini, Will Smith faz o papel de Henry Brogan, um dos melhores assassinos governamentais do planeta, mas que está ficando velho e decide se aposentar antes que algum inocente se machuque. Ele recebe uma informação sigilosa sobre o último alvo que eliminou e seus chefes, desconfiados que ele vai fazer perguntas demais, mandam um clone mais jovem dele, Júnior, para matá-lo. O filme ainda tem no elenco Clive Owen, como um vilão que beira o Dr. Evil de Austin Powers, e Mary Elizabeth Winstead.

Um filme de ação com um clone do Will Smith imediatamente remete ao filme O sexto dia (2000), com o Arnold Schwarzenegger, ou a algum da onda de filmes de clones dessa década, como X-Change, Replicante e Impostor, em 2001, Jornada nas estrelas: Nemesis, em 2002, e A Ilha, em 2005, entre outros. Então, não é uma surpresa descobrir que o roteiro de Projeto Gemini tenha rodado por Hollywood por cerca de 20 anos.

Crítica Projeto Gemini

“Você mais velho contra você mais novo” não é um tema original, mas que nos filmes costuma ser abordado mais sob a ótica de viagem no tempo, como em Looper (2012) ou Timecop (1994). Apesar de uma história básica e rasa, Projeto Gemini tem um roteiro extremamente polido e lustrado: todos os desafios de lógica de um filme padrão de ação são abordados, com frases jogadas na trama para os espectadores mais atentos, as pequenas coisas que incomodam são resolvidas com frases e observações de como chegaram do ponto A ao ponto B, ou porque não tomam um caminho mais fácil para resolver um problema.

O filme muitas vezes é engraçado, com humor merecido que vem dos personagens. Aliás, os personagens (pelo menos os dois centrais) são complexos e bem trabalhados. Um exemplo disso é que o filme lembra de dar destaque para o relacionamento de Júnior com o vilão Clayton Varris, que é essencial à trama. Benedict Wong (de Doutor Estranho) faz Baron, um amigo das antigas de Brogan, mas o ator é desperdiçado mais uma vez apenas como alívio cômico.

As cenas de ação do filme apresentam um equilíbrio entre o visceral e o coreografado que lembram outro importante trabalho de Ang Lee, O Tigre e o Dragão. O treinamento em armamentos dos atores aparece no resultado final e é muito acima da média da maioria dos filmes de ação lançados esse ano.O ponto alto do filme é uma perseguição de motos em Cartagena, na Colômbia, onde planos inusitados e ação criativa, junto do 3D+, criam uma cena que está no padrão e compete com algumas semelhantes dos últimos dois filmes de Missão Impossível. Talvez por isso o foco do marketing do filme é na sua inovação tecnológica, e não na sua trama.

Olhando pelas partes individuais, o filme tem boas atuações, boa cinematografia, um roteiro que cria cenas de ação com sacadas inteligentes e originais, uma trilha agradável e diversão que fazem um ótimo filme de ação. Infelizmente, juntando todas essas partes o filme fica arrastado e as inovações tecnológicas, apesar de louváveis, não salvam a obra da mediocridade.

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