Quando Bryan Singer, diretor dos dois primeiros X-Men em 2000 e 2003– sucessos de público e crítica -não retornou para o terceiro filme em 2006, seu lugar foi ocupado às pressas pelo operário-padrão Brett Ratner no indigesto X-Men: O Confronto Final, e o resultado foi algo bastante decepcionante, deixando várias pontas soltas e boas premissas desperdiçadas. Sem contar os dois filmes solo de Wolverine, ambos também muito abaixo das expectativas (falando gentilmente), houve a tentativa de revitalizar a franquia com X-Men: Primeira Classe, de Matthew Vaughn, em 2011, explorando o passado dos personagens. Interessante por ser um filme de época com super-heróis, ainda assim sofreu com furos de roteiro astronômicos, porém, rendeu o bastante para que os mutantes não fossem esquecidos no cinema. Complicando um pouco esse cenário, em Primeira Classe optou-se por alterar certos acontecimentos da mitologia cinematográfica destes personagens, como se fosse mesmo um reboot, mas não totalmente assumido. Eis que o novo passo da série a partir dali foi inesperado: Utilizar diretamente um arco de histórias dos quadrinhos, envolvendo viagem no tempo, colocando no mesmo filme as versões originais e as mais jovens, só que agora com Singer retornando ao comando.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é uma adaptação de uma das sagas mais famosas e queridas dos quadrinhos. Também é uma forma esperta de consertar vários tropeços e discrepâncias a partir do terceiro filme da franquia. Seguindo de perto a trama das HQ’s, o novo filme mostra um futuro distópico, em que os Sentinelas, robôs com alta capacidade de adaptação, são produzidos em larga escala para perseguir e exterminar mutantes. Apenas um pequeno grupo de resistência, liderados pelo Professor Xavier (Patrick Stewart) e Magneto(Ian McKellen) se opõe a esse regime, mantendo-se vivo apenas pelo recurso de enviar a consciência de um dos membros da equipe ao passado – sempre que tem seu esconderijo descoberto – e assim serem avisados para mudar de lugar antes do ataque. O evento-chave que possibilitou a concretização desse futuro foi o assassinato de Bolivar Trask (Peter Dinklage de Game of Thrones), criador do projeto dos Sentinelas em 1973. Wolverine/Logan (Hugh Jackman) se oferece para ter sua consciência deslocada até aquele ano, para encontrar e convencer os jovens Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) a ajudá-lo a evitar a morte de Trask, alterando aquele futuro triste.
Com esse fio condutor estabelecido, a história se desenvolve de maneira bastante orgânica, depois de uma ótima sequencia de combate inicial que já traz bastante fôlego e motivação dramática para o filme. Falando em ação, seria de se esperar que ela pendesse ao exagero, como já é comum, mas esse novo X-Men tem o mérito louvável de evitar passar do ponto nesse quesito, investindo bastante, e com sucesso, na interação entre os personagens. O elenco principal, além do carisma individual, tem uma química incrível que torna possível o público embarcar na história. Isso significa que tem pouca ação? De maneira alguma, apenas que o ritmo é muito bem construído, entremeando e equilibrando as duas coisas. Tudo isso é beneficiado por aquilo que era o mais interessante em X-Men – Primeira Classe e foi reaproveitado aqui; a ambientação de época. Além das brincadeiras do roteiro, que envolvem os personagens em fatos históricos, a direção de arte e os figurinos convincentes da década de 1970 trazem um charme a mais para o visual do filme, contrastando com o futuro sombrio onde o preto predomina.
O excesso de personagens também poderia tornar-se um problema, mas foi evitado pela preocupação em focar aqueles de relevância real para o roteiro. Muitos mutantes aparecem, os poderes são exibidos, mas diferente do sofrível X-Men Origens: Wolverine, onde tudo era uma desculpa para incluir mais um personagem com um poder diferente na história, Dias de um Futuro Esquecido não força a boa-vontade do espectador com situações que não contribuem em nada. Na verdade, entre as aparições inéditas, o mutante Mercúrio (Evan Peters), cuja figura foi bastante criticada antes das estreia do filme, não só funciona em cena como também protagoniza uma das sequencias mais legais em todo o filme, em uma participação nada gratuita.
Com as boas críticas gringas e outras resenhas já pipocando pela internet graças à proximidade da estreia, uma dúvida comum a vários fãs é se o novo filme é melhor que – ou tão bom quanto – o excelente X-Men 2. Confesso que fui vê-lo com uma expectativa alta e com essa mesma pergunta na cabeça. Agora é um bom momento para abordar minha única ressalva com relação a ele, e ela diz respeito a um item mal-explicado no início quanto à viagem no tempo, e à função que cabe a cada personagem nesse ponto. Ficou a impressão de algo que foi mudado do roteiro original, no sentido de conferir mais importância a alguém que não estava fazendo realmente nada ali. Isso arranha bem pouco o produto final, mas me faz considerar que o filme de 2003 continua o melhor… Mas Dias de um Futuro Esquecido chegou MUITO perto dele, e isso, indiscutivelmente, não é pouca coisa.
Mantendo o tom das metáforas sobre intolerância e preconceito, fundamentadas nos dois primeiros filmes, Bryan Singer conseguiu adicionar ainda mais substância com questões sobre união e esperança, algo muito bem inserido sem cair em uma pieguice tão comum à maioria das grandes produções hollywoodianas. O segredo do acerto de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, além de investir em adaptar uma HQ bem escrita, é justamente o bom senso e a segurança do diretor, que mais uma vez não teve medo de escolher contar uma história e dirigir atores, ao invés de apostar na pirotecnia descerebrada. Sobre os problemas gerados na continuidade da linha do tempo da série anteriormente, Singer, entrevistado pelo site britânico SciFiNow diz que espera que o público deixe passar. Faz sentido, afinal a culpa não é dele e foi criado um novo e interessante caminho a partir daqui. Caso se livre dos problemas com a lei que amarga atualmente, é muito provável que volte na continuação X-Men: Apocalypse , que vai expandir o universo dos filmes com mais um vilão muito famoso dos quadrinhos, cujo anúncio já deixou os fãs ansiosos. Independente do futuro incerto, aproveite o presente conferindo esta bela aventura na tela grande.
P.S.: Vale a pena esperar pela cena pós-créditos!
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