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Entre Irmãs – O filme que queria ser épico!

Entre Irmãs é um drama que se pretende épico, mas nem chega a ser grande

Duas coisas parecem marcar o cinema do brasileiro Breno Silveira: as lágrimas e a música. Diretor de filmes como 2 Filhos de Francisco: A História de Zezé di Camargo & Luciano, À Beira do Caminho e Gonzaga: de Pai para Filho, Silveira admite que gosta da ideia de passar emoção para o público. E ele vê na música um recurso sempre válido para isso. Seu mais recente trabalho, Entre Irmãs, se apoia nesses mesmos princípios, mas tem uma ambição maior do que os anteriores: quer ser um filme épico.

Crítica do filme nacional Entre Irmãs

Entre Irmãs

Com duas horas e quarenta minutos de duração, a obra é uma adaptação do livro A Costureira e o Cangaceiro, de Frances de Pontes Peebles. Ambientada nos anos 30, a trama conta a história de Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano, de Sob Pressão), duas irmãs do agreste pernambucano. Enquanto Emília sonha em se casar e ir viver na capital, Luzia encara sua vida de forma mais crua. Acredita que, por conta da atrofia em um dos braços (sequela de um acidente na infância), seu destino é a solidão.

As irmãs são separadas quando Luzia é sequestrada por um bando de cangaceiros que passa pela cidade.Aumentando a distância, a outra irmã logo realiza seu sonho e, casada, vai morar em Recife. A história, então, se divide e passa a mostrar a vida de cada uma. De um lado, a dureza e a violência dentro do cangaço. De outro, as desilusões por trás de um casamento problemático na cidade grande.

Épico que quase funciona

A tentativa de fazer dessa trama uma história épica pode não ter fracassado totalmente, porque o filme tem seus méritos. Entretanto, o resultado pleno nunca é alcançado. Principalmente, porque seu desenvolvimento sofre da ausência de ápices ao longo da jornada de suas personagens. Ou seja, embora elas passem por diversas desventuras, tudo sempre parece emocionalmente regular, sem variações de intensidade. Nesse sentido, a trilha sonora quase ininterrupta é outro fator que contribui para essa sensação.

Aquilo que o diretor defende como um meio de provocar emoção no público acaba sendo o principal diluidor desse sentimento. É a excessiva presença da trilha que enfraquece os momentos em que ela deveria, de fato, criar emoção e dar tons épicos à saga das duas irmãs. Mas como ela quase nunca cessa, quase nunca emociona.

Crítica do filme nacional Entre Irmãs

O curioso é que a trilha acabou por ser a base dos principais filmes de Silveira, como os citados no início. Em dois casos, por tratar de cinebiografias sobre músicos; no outro, por ser uma história emoldurada por canções de Roberto Carlos. Aqui, no entanto, não entram canções, mas uma trilha composta especialmente para o filme.

Já o roteiro de Patrícia Andrade, antiga parceira de Silveira, parece sofrer das dificuldades naturais da transposição da literatura para o cinema. Há, durante boa parte da narrativa, uma carência de conflitos mais imediatos entre seus personagens. Não há, por isso, um sentido de urgência e as relações, apesar de problemáticas, permanecem estáveis.

O que salva, entretanto, são o ritmo e as atuações. Apesar da longa duração, sua montagem proporciona uma cadência que raramente se torna cansativa. A alternância entre as duas irmãs é feita de maneira eficiente e bem dosada, criando paralelos narrativos de contrastes entre a cidade e o sertão. Esses contrastes também ajudam a revelar com mais intensidade as diferenças e as particularidades de cada uma das personagens. Isso cria um paralelo com força suficiente para manter a atenção e não deixar o filme cair em profunda monotonia.

Força feminina

E se Marjorie Estiano dá conta da delicadeza sonhadora e esperançosa de sua personagem, Nanda Costa segura melhor ainda a transformação de Luzia em uma força feminina dentro do cangaço. Sua atuação cresce especialmente no terceiro ato, quando encarna por completo essa transformação.

Crítica do filme nacional Entre Irmãs

Na sua segunda metade, Entre Irmãs ainda encontra espaço para tratar de temas atuais a respeito de preconceitos. Por se passar na década de 30 do século passado, não deixa de ser assustador e sintomático que algumas questões dessa época ainda estejam em discussão hoje.

Mesmo não tendo alcançado tons épicos como desejava, Entre Irmãs é o tipo de filme que cresce na memória quando se pensa nele após sair do cinema. Em parte, pela força natural que a história contada possui e pelas boas atuações do elenco. Seu conjunto é razoavelmente coeso e se faltam conflitos com intensidade, há – ao menos -um arco dramático que se fecha de forma satisfatória.

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