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Música clássica e desenhos animados – Uma história de humor!

Quando nós pensamos na relação objetiva da música clássica com desenhos animados, a primeira coisa que nos vem a mente é o clássico da Disney Fantasia, de 1940. Ali, foi realizado um experimento supremo e até hoje pouco equiparável de transmídia, utilizando o vasto cânone da música erudita para dar inúmeros tons e cores ao novo universo ascendente das animações. O resultado, nós sabemos, é simplesmente transcendental.

De fato, não apenas era uma combinação de música e cinema de animação, mas também de literatura – O Aprendiz de Feiticeiro, uma das cenas de Fantasia, deveria ser um filme independente baseado em uma história do poeta alemão Goethe. A ideia foi expandida, mas o resultado final é o que nós podemos chamar de Gesamtkunstwerk, a definição de Richard Wagner para a “obra de arte total”, que combina elementos de diversas formas de arte.

Maaaaas… Essa é a parte erudita, clássica, das belas artes da coisa toda. Porque é claro que não demoraria muito para algumas mentes pervertidas, como as de Tex Avery e Chuck Jones, perceberem o potencial do conceito de transmídia para o completa bobeira. Diga a verdade: você muito provavelmente ouviu sua primeira música clássica em algum desenho do Pica-Pau, Tom & Jerry ou do Pernalonga, certo? Não se sinta mal, velhinho. Existem alguns motivos para isso. Essencialmente:

  • Durante os anos 30 e 40, muitas das práticas de performance ao vivo em piano ou órgão para filmes mudos encontraram um jeito de não morrer tocando para desenhos animados. É basicamente uma evolução das antigas comics songs, de nomes como Arthur Collins, cuja Steamboat Bill adorna a primeira animação do Mickey, Steamboat Willie.

  • Usar esse tipo de música, na época, era econômico. Para alguns estúdios, como a Disney, essas gravações eram totalmente livres de royalties. Para outros, como a Warner Bros., o estúdio de fato já tinha os artistas ou arranjadores na sua folha de pagamento – o que significava que eles podiam até mesmo lucrar com isso.
  • Ter músicas “sérias” e elaboradas em um contexto violentamente bobo só torna as piadas ainda melhores.

Por esses e outros motivos, decidimos relembrar cinco dos melhores exemplos de música erudita usados para nos fazer rir! Confira a lista!

  • 1 – O Coelho de Sevilha

Pernalonga deveria ser tornado maestro emérito por alguma orquestra ou universidade. O coelho mais velhaco da história das animações é uma verdadeira sumidade quando se trata de música clássica – nós poderíamos tranquilamente fazer uma lista desse tema só com ele.

Mas é impossível abrir essa lista sem aquele que talvez seja o excerto mais conhecido de música clássica nas animações de comédia: Pernalonga e Hortelino executando a abertura da ópera Il barbiere di Siviglia (1816) do italiano Gioachino Rossini, que por sua vez foi baseada na obra de Pierre BeaumarchaisLe Barbier de Séville. 

  • 2 – Pink, Plunk, Plink

A criação de Blake Edwards, Friz Freleng, Hawley Pratt e Manu Kumar é mais conhecida pela sua relação com o soft jazz do que com a música erudita.

Mas a Pantera Cor-de-Rosa mostrou que também manda muito bem no comando da batuta, executando nada menos do que a lendária Quinta Sinfonia de Ludwig Van Beethoven (1804-1808), considerada uma das obras-primas seminais entre todas as formas de arte – de quebra, ainda tocando vários instrumentos!

É muito virtuosismo para um único felino róseo.

  • 3 – Tom & Jerry no Hollywood Bowl

E falando em felinos, outro que só queria poder conduzir sua própria orquestra em paz era o pobre Tom. Na estica, ele sobe ao palco do famigerado Hollywood Bowl para poder executar algumas peças clássica, e demonstrar toda sua erudição.

Mas como não poderia deixar de ser, o infernal e invejoso Jerry – sim, eu sempre torci para o gato – resolve aparecer para tentar roubar os holofotes de Tom. É claro que só poderia terminar em confusão. Uma pena, pois acabamos não tendo a oportunidade de ver maestro Tom executar Die Fledermaus (1874) em sua totalidade, apenas sua abertura.

Entretanto, a opereta de Johann Strauss II acabou imortalizada pelas mã… digo, patas do felino, para todas as gerações do século XX e além. Sendo um estudioso da música clássica, Tom ainda (tentaria) executar Les préludes (1854), de Franz Liszt. Só podemos aplaudir!

  • 4 – O Espião Espiado

Pica-Pau, o pássaro hiperativo, sociopata e potencialmente homicida mais conhecido do mundo, também flertou um punhado de vezes com a música erudita – assim como o Pernalonga, outra de suas mais conhecidas trapalhadas também figura a ópera sobre o Barbeiro de Sevilha (ainda na sua fase chamada “biruta”, quando ele era ainda mais psicótico) – no caso, a ária Largo al Factotum.

Entretanto, resolvemos escolher a trilha sonora do episódio O Espião Espiado como representante do pássaro na lista. Por alguns motivos: primeiro, já tínhamos Rossini na lista. Segundo, o episódio é um festival de bobagens de referências ainda maiores e melhores, incluindo super-heróis, filmes noir e literatura. Terceiro, a narração é ímpar.

Quarto, a trilha sonora que acompanha toda a insanidade envolvendo o tal tônico é nada menos do que o Prelúdio para Terceiro Ato da ópera Lohengrin (1850), da lenda alemã Richard Wagner, compositor de algumas das peças mais fantásticas e épicas já escritas. O tataravô do heavy metal, como alguns gostam de brincar, é o tom perfeito para a loucura do pássaro.

Ah, e também foi a primeira peça de música erudita com a qual esse colunista teve contato. Muito obrigado, sua ave demente.

  • 5 – Rhapsody in Rivets

E para fechar nossa lista, um clássico que por pouco não foi vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação em 1942. Ele não chega a ser tão engraçado quanto os anteriores, mas está aqui na lista por um bom motivo.

A música em questão na animação é Hungarian Rhapsody No. 2 (1847), de Franz Liszt, e é provavelmente a peça mais conhecida do compositor – o que significa muita coisa. Não obstante, ao contrário dos episódios anteriores, a música aqui não adorna o enredo ou dá contexto às piadas. Ao contrário, toda a breve trama tem início, se desenvolve e se encerra conduzida pela música.

Se os pobres trabalhadores do Umpire State (sério) tivessem uma educação musical um pouco mais elaborada, talvez soubessem como a música termina, e tivessem pulado fora dessa bem antes. Maldito seja, analfabetismo musical!

  • Menção honrosa – Vai de Ópera, velhinho?

Como dissemos lá em cima, Pernalonga e música clássica andam de mãos dadas. E muita gente iria nos xingar se nós fizéssemos uma lista dessas sem incluir essa parceria fora de qualquer escala.

Pernalonga encontra Richard Wagner para fazer da vida de Hortelino um inferno épico de sofrimento, comédia e música; inspirando-se pesadamente em excertos da obra do alemão – particularmente Der Ring des Nibelungen (1848-74), Der Fliegende Holländer (1843), e Tannhäuser (1845).

A segunda parte do “ciclo do Anel”, Die Walküre, entretanto, conduz a maior parte da loucura desse clássico. Confira!

Curtiu nossa lista? Qual você colocaria nela? Não deixe de comentar e compartilhar!

E se quer curtir mais música bacana, não deixe de dar uma olhada no nosso artigo sobre rock progressivo e cinema!

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