Quem não assistiu aos “desanimados” desenhos Marvel não teve infância
Numa época em que ainda não existiam os recursos de computação gráfica, 3D e onde não haviam canais específicos para programação infantil poucos eram os estúdios que tinham séries televisivas de desenho.
Era início dos anos 60 e os estúdios Disney, Paramount e Warner Bros. (dona da DC Comics) eram os mais proeminentes produtores de animações ou como eram mais conhecidas “Cartoons”. Esses estúdios já tinham suas linhas de produção para as animações, o que tornava o processo mais ágil, porém, também tornava caro. E dinheiro não sobrava para a Marvel naquela época.
Foi então que Stephen Krantz e Robert Lawrence, produtores de comerciais e programas de TV americanos, resolveram trazer os personagens para a tela de uma forma mais simples, porém mais barata. Reconhecendo o potencial de sucesso que os quadrinhos da Marvel poderiam ter (a estimativa era cerca de 40 milhões de exemplares por ano), Lawrence juntou-se a dois dos principais animadores da época, Grant Simmons e Ray Patterson , e em 1954 decidiram colocar em prática uma nova forma de animação.
Eles iriam colocar os desenhos de Jack Kirby, Steve Ditko, Gene Colan e Bill Everett EXATAMENTE como eram nas telas de TV. Não é mero eufemismo. Eles simplesmente traziam o desenho original dos quadrinhos e usavam truques de câmera para “animá-los”. Porém, diferente do que a maioria acredita, os desenhos não eram “recortados” das revista. Eles eram desenhados diretamente nas películas pelos quatro artistas e “xerocados” depois da arte final.
Pioneiros… do seu próprio jeito
Produzidos pelo estúdio Grantray-Lawrence Animations, essa leva de desenho conhecida hoje em dia como “Desenhos Desanimados da Marvel” foi lançada nos EUA em 1966 pela Krantz Films e trazia os principais heróis da Marvel na época: Capitão América, Hulk, Homem de Ferro, Thor e Namor.
O que o desenho perdia em “animação”, compensava com narrações inspiradas, onomatopeias coloridas e músicas marcantes. Dessa leva, o herói que era “um pouco” melhor produzido era Thor, feito em Nova York pela Paramount.
Apesar de nossa perspectiva de hoje, que acha graça da simplicidade desses desenhos, eles eram considerados inovadores principalmente pela sensação provocada pelos desenhos de Kirby, que pareciam realmente saltar da tela.
Obviamente essa técnica foi superada mas marcou época e, recentemente, até teve uma espécie de releitura feita pela concorrente DC Comics, que por ocasião do lançamento do filme Watchmen, levou para as telas todos os tomos da Graphic Novel, utilizando-se dos desenhos originais de Dave Gibbons que foram animados digitalmente com o conhecido software After Effects da Adobe.
Não há como negar que, hoje, esses desenhos apenas nos trazem sentimentos nostálgicos, mas eles abriram alas para muito do que conhecemos sobre os heróis da Marvel, popularizaram os personagens e vivem sendo celebrados em pequenas referências nos filmes da Casa das Ideias.